Projéteis apreendidos no caso da enfermeira morta no Pirambu teriam sumido
PMs teriam encontrado três estojos de munição no local do crime, mas os recipientes não foram repassados à Polícia Civil, que investiga "assassinos profissionais"
16:53 | Jul. 26, 2024
Estojos dos projéteis de pistola que mataram a enfermeira Jandra Mayandra da Silva Soares — crime ocorrido em 15 de maio no bairro Pirambu, em Fortaleza — teriam sido recolhidos por policiais militares que atenderam à ocorrência, embora não tenham sido repassados aos policiais civis que investigam o caso.
A informação consta na edição dessa quinta-feira, 25, do Diário de Justiça do Estado (DJCE), que traz decisão sobre a restituição de celulares de quatro PMs presos suspeitos do crime, mas, em seguida, soltos — a participação deles no homicídios foi descartada.
Conforme consta na decisão judicial, uma testemunha, também PM, relatou que, ao chegar ao local do crime, deparou-se com seis policiais do Comando de Policiamento de Ronda de Ações Intensiva e Ostensivas (CPRaio).
Eles disseram que uma pistola calibre .40 havia sido usada no crime e, quando a testemunha perguntou como eles sabiam dessa informação, um dos PMs do CPRaio mostrou três estojos desse calibre. Conforme o relato, o PM disse ter encontrado os projéteis no meio-fio da avenida Leste-Oeste, próximo ao carro da vítima.
Apesar disso, esses estojos não foram mais localizados nem pelo delegado responsável pela investigação do caso, nem pela Coordenadoria de Inteligência (Coin) da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).
Na decisão, é mencionado que, com os estojos, seria possível identificar a origem da munição, "rastreando o lote de fabricação e sua distribuição". Nenhuma outra cápsula foi encontrada pela Polícia Civil no local do crime.
“Assassinos profissionais” e busca por “silenciar” vítima sobre irregularidades em hospital
O texto publicado no DJCE descreve a suspeita de que a morte de Jandra Mayara tem características de ter sido praticada por “assassinos profissionais”. Câmeras de vigilância mostraram que a vítima foi seguida desde o momento em que deixou o hospital em que trabalhava, no Centro de Fortaleza.
Além disso, os disparos foram efetuados “exclusivamente” e de maneira agrupada na direção da enfermeira. “Há indícios, portanto, de que o crime foi planejado, bem como de que em face do modus operandi houve divisão de tarefas para fins de seu êxito”.
Já a possível motivação do crime estaria relacionada à investigação de uma fundação que administrava um hospital em Juazeiro do Norte (Cariri Cearense), contrato que foi suspenso após suspeitas de irregularidades. A vítima havia trabalhado no hospital.
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Dessa forma, um homem ligado à fundação é investigado como suposto mandante do crime, que seria uma forma de “silenciá-la a respeito de informações privilegiadas”.
Esse homem foi ouvido pela Polícia Civil, que identificou contradições no depoimento dele. Contra o investigado, um mandado de busca e apreensão foi cumprido, resultando na apreensão de materiais que são analisados pelos investigadores.
Os PMs que eram suspeitos de envolvimento na execução também haviam tido celulares apreendidos pela Polícia Civil. Entretanto, após a participação deles ser descartada, os aparelhos foram devolvidos a eles por ordem judicial.
Inicialmente, havia sido constatado que os quatro militares tinham feito, antes do crime, buscas sobre Jandra Mayara em sistemas de informações policiais.
O primeiro relatório feito pela Coordenadoria de Tecnologia da Informação e Comunicação (Cotic), entretanto, foi, posteriormente, corrigido, ao ser constatado que as pesquisas não se deram antes do crime.
Com isso, os agentes de segurança foram soltos menos de 24 horas após serem presos. Até o momento, nenhum suspeito do crime está preso.