Veterinário morto por funcionário em Fortaleza intercedeu para manter o emprego do acusado

Conforme o MPCE, Romualdo Sousa Barros, de 36 anos, matou Saul Gaudêncio Neto, 37, para manter a função de tratador de animais, sem saber que o patrão, na verdade, intercedia por ele

21:08 | Jul. 16, 2024

Por: Lucas Barbosa
O VETERINÁRIO Saul Galdêncio Neto foi covardemente executado a tiros por Romualdo Barros, em Fortaleza (foto: Reprodução/redes sociais)

Nesta terça-feira, 16, o Ministério Público Estadual (MPCE) ofertou e a Justiça recebeu denúncia contra Romualdo Sousa Barros, de 36 anos, acusado de matar o médico veterinário e pesquisador da Universidade de Fortaleza Saul Gaudêncio Neto, 37 anoscrime ocorrido no último dia 4 de julho no bairro Edson Queiroz, em Fortaleza, e que também vitimou a namorada de Saul, que foi baleada, mas sobreviveu.

Com base na investigação da 7ª Delegacia do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), o MPCE afirmou que o crime foi praticado porque Romualdo, “nos últimos tempos”, estava recebendo reclamações sobre o seu trabalho como tratador de animais na Universidade de Fortaleza (Unifor), o que poderia levar à demissão dele.

O acusado já havia sido suspenso e recebido duas advertências formais, sendo que responsabilizava Saul e a namorada pelas reprimendas, afirmou na denúncia o promotor Ythalo Frota Loureiro. O que Romualdo não sabia era que Saul, conforme o MPCE, havia intercedido para que ele não perdesse o emprego.

Na denúncia, é afirmado que Romualdo acumulava faltas injustificadas, recebia críticas dos demais tratadores “por se mostrar negligente” e reclamava das tarefas repassadas pela namorada de Saul afirmando que não trabalhava para ela. 

“Assim, de modo absurdo e injusto, o réu personificou todas as suas frustrações profissionais nos seus chefes imediatos, planejando o assassinato das vítimas como forma de se vingar por seus problemas no trabalho, ciente de que as chances de ser demitido eram reais e sua demissão era iminente”, afirmou o MPCE.

O órgão ministerial ainda relatou que Romualdo trabalhava na Unifor há mais de dez anos e, “inicialmente, tinha grande estima pela vítima”. Romualdo já havia convidado Saul para o seu primeiro casamento e o veterinário já havia, inclusive, ajudado financeiramente o funcionário e a família dele.

Como foi o crime

Em depoimento, Romualdo afirmou que praticou o crime após ter “perdido a cabeça” em meio a uma discussão com Saul sobre a necessidade de cumprir ordens. Para o MPCE, a versão “não possui consistência”, já que o crime teria sido premeditado.

A investigação apontou que Romualdo atraiu Saul e a namorada dele para um local ermo, sob pretexto de verificar o estado de saúde de uma cabra que era atendida por eles. “No dia anterior, (a vítima sobrevivente) havia realizado ultrassom no animal, constatando que ela estava bem", narrou o MPCE.

“Contudo, no dia do crime, ROMUALDO contatou SAUL afirmando que a cabra estava ‘estranha’. SAUL (e a namorada) foram até a fazenda e constataram que a cabra estava com comportamento incomum e havia sofrido uma pancada no olho. As ações do réu sugerem que ROMUALDO provocou o mal-estar no animal para atrair as vítimas até a fazenda.”

 

De acordo com a acusação, após o atendimento veterinário, Romualdo pediu uma carona, tendo se sentado no banco de trás do carro, que era guiado por Saul. Em dado momento, “enquanto trafegavam em uma via escura e sem movimento”, Romualdo teria ordenado que Saul parasse o carro.

“A vítima SAUL estranhou a ordem do acusado e argumentou que naquele ponto não havia sequer parada de ônibus. O denunciado retrucou ‘EU MANDEI VOCÊ PARAR AQUI, DOBRA NESSA RUA E PARAR’”, continuou o MPCE. De acordo com a denúncia, Romualdo, então, sacou a arma que guardava na bolsa e atirou na parte de trás da cabeça de Saul.

Em seguida, ele também atirou contra a mulher, que foi atingida por dois tiros, no antebraço direito e nas costas. A vítima sobrevivente conseguiu fugir após sair correndo. Antes de morrer, Saul havia conseguido destravar as portas do veículo.

“Após efetuar os disparos, o réu se evadiu do local, descartou a arma de fogo utilizada e foi ao encontro de sua companheira (...) em um supermercado”, também afirmou o MPCE na denúncia.

“Ambos foram para casa, o réu agiu normalmente, tomou banho, jantou e posteriormente informou que ia passar a noite na casa de sua cunhada (...) A sua companheira (...) tomou conhecimento dos fatos por uma rede social. Confrontado em ligação telefônica, o réu confessou a sua companheira que 'tinha feito uma besteira' no trabalho [...] ‘matou o patrão’”.

Acusações contra Romualdo

Além de homicídio qualificado, Romualdo também virou réu por falsa identidade (ele tentou se passar por uma outra pessoa quando foi aboradado por policiais, na manhã seguinte ao crime), porte ilegal de arma de fogo de uso restrito e receptação.

O acusado disse que comprou a pistola usada no crime na “Feira do Rolo”, do bairro Messejana, por R$ 2.800. Ele alegou que tinha a arma “para se defender”. A pistola era guardada na própria fazenda em que trabalhava.