Raízes e memórias marcam aniversário de 2 anos do Complexo da Sabiaguaba

Com movimentação tranquila no primeiro fim de semana de férias, polo ambiental e gastronômico tem se consolidado como opção de lazer e contato com a natureza, de acordo com permissionários. Nativos da comunidade celebram aniversário e os mais de 180 mil visitantes que receberam desde a inauguração, em 2022

Às margens do rio Cocó, onde o mangue encontra dunas milenares, um espaço com culinária e belezas naturais tem se consolidado como opção de lazer e contato com a natureza: é o Complexo Ambiental e Gastronômico da Sabiaguaba, em Fortaleza, que completou dois anos nesse domingo, 7, com programação gratuita no primeiro fim de semana das férias.

A movimentação tranquila mostra que o público que frequenta o polo busca exatamente um ambiente sossegado: seja para dar uma pausa na agitação, seja para se divertir com a família ou apreciar o pôr do sol no fim da tarde enquanto saboreia os pratos regionais preparados em um dos 17 quiosques existentes — todos administrados por permissionários da comunidade tradicional.

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Essa foi uma das reivindicações dos nativos para a construção do complexo, pois o local antes era ocupado por moradores antigos da Sabiaguaba. É o que explica dona Maria Alice, 88, uma das primeiras barraqueiras da região.

“A gente recebia gente de todo jeito, até hoje chega gente aqui me procurando que foi meu cliente no tempo dos barracões. Ficou bom aqui, mas o movimento é muito diferente. Mudou muito”, conta.

A proprietária do quiosque “Recanto das Flores” lembra que a mudança causou preocupação, mas que o Governo do Estado cumpriu o que havia proposto (como o auxílio de R$ 5 mil durante o período das obras, por exemplo). O perfil dos frequentadores, no entanto, também sofreu mudanças, segundo ela.

“Pobre olha e pensa que aqui é só de rico, aí não vem. Mas quem consome mesmo é pobre, a gente que é raiz, a gente sabe. Outro dia um guarda quis expulsar um casal que veio com os filhos e trouxe comida de casa pra não gastar aqui. Eu não gostei do que ele fez e reclamei. Não compram comida, tudo bem, mas vêm e compram uma bebida, um refrigerante. Rico compra no máximo uma água mineral, quem faz a despesa mesmo é o pobre (sic)”, narra.

O negócio deve permanecer na família, que tem outros dois quiosques no complexo: um de uma filha e outro de uma neta de dona Alice. Natalia de Lima faz parte da terceira geração no ramo da avó e se diz satisfeita com a clientela que tem movimentado o equipamento: são mais de 180 mil visitantes nesses dois anos de funcionamento.

“A minha impressão é de que está pegando, as pessoas estão vindo, gostando, voltando e indicando para que outras pessoas venham também. A baixa estação atinge toda a orla de Fortaleza, mas aqui tem o pessoal que vai pra praia (na foz do rio Cocó, no encontro com o mar), que vai subir a duna, que vem fazer o passeio de barco ou pra programação musical que sempre tem”, aponta.

Repleta de memórias afetivas com o território, Natalia expressa que se sente feliz por trabalhar onde passou boa parte da infância: “A gente tira nosso ganha-pão, emprega gente e também cuida do nosso lugar”.

Um cuidado que também é missão para outra nativa: Nicoly Sousa, guia dos frequentadores do Centro de Memória Raízes da Sabiaguaba. Parte do complexo, o museu registra a cultura dos povos originários e tradicionais no bairro para dar visibilidade ao processo de constituição da Sabiaguaba.

Ela mostra que nas instalações é possível conhecer a história da Cidade a partir dessa região, aprender sobre o patrimônio ambiental e imaterial presente e também sobre festejos populares como o Festival do Mocororó O mocororó, bebida tradicional no bairro, é produzido a partir da fermentação do caju, fruto de grande representatividade na cultura cearense. Indígenas de todo o Brasil produzem e consomem bebidas fermentadas em seus rituais, contudo o ingrediente que dá sabor à bebida difere de acordo com a região em que se encontram. , realizado pela Associação de Nativos, Moradores e Amigos da Sabiaguaba (ANMAS).

“A nossa formação vem do conhecimento de várias gerações, então o que eu faço aqui dentro nada mais é do que contar a nossa própria história. Todo nativo aqui dentro deve se apropriar daqui porque somos nós que vivemos de verdade tudo isso. Desde a transformação da paisagem com a estrada ou a ponte até as dunas ou as piscinas naturais que agora atraem pessoas que não costumavam vir nesse lado da Cidade”, pontua Nicoly.

E continua: “A Cidade vai crescendo, vai sobrando poucos espaços verdes, poucos espaços naturais. E assim vão se perdendo comunidades nativas e tradicionais junto. Esse trabalho de memória é para não deixar que a história se perca com o tempo”.

As atividades no complexo seguem durante o mês de julho com atrações musicais diversas para todos os gostos. O casal Maria Beatriz e Valmor Lucas aproveitou o domingo para levar os amigos Samanta Freitas e Afrânio Junior ao equipamento e assistir ao pôr do sol que, para Beatriz, “é um dos mais bonitos de Fortaleza”. O encontro dos casais foi celebrado com um bolo, selfies e muita troca de carinho.

“Nós duas trabalhamos juntas e fizemos esse momento para apresentar nossos namorados. Foi uma sugestão da Beatriz, que mora na Lagoa Redonda, e nós viemos lá do Conjunto Esperança para conhecer. Valeu muito a pena, o cenário é muito bonito e romântico. Vamos treinar para subir a duna na próxima vez (risos)”, anuncia Samanta.

Confira galeria de fotos:

Complexo Ambiental e Gastronômico da Sabiaguaba: Balanço de dois anos de atividades

Equipamento vinculado à Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Ceará (Sema) e gerido pelo Instituto Dragão do Mar (IDM), o Complexo promove o desenvolvimento sustentável da região da Sabiaguaba apoiando-se em três grandes pilares: o Polo Gastronômico Tradicional, o Polo Cultural Memória e Natureza e o Polo de Ecoturismo e Educação Ambiental.

Com investimento superior a R$ 11,5 milhões, projeto contemplou a construção de 17 quiosques para produção e comercialização de alimentos. O público tem, ainda, acesso a uma área de passeio no andar superior, com vista do mangue e do rio Cocó de um lado e das dunas da Sabiaguaba do outro.

A Associação dos Empreendedores Permissionários do Polo de Gastronomia Tradicional do Complexo Ambiental e Gastronômico da Sabiaguaba (ASPEG) também ajuda a construir o espaço. Com mais de 224 ações de difusão e fruição, incluindo shows, peças de teatro, apresentações de coral e outras atividades culturais, o complexo oferece uma programação diversificada para todos os gostos.

Cerca de 96 ações de formação profissional, totalizando 698 horas-aula, impactaram mais de duas mil pessoas. 

Complexo Ambiental e Gastronômico da Sabiaguaba
Dias e horário de funcionamento: quarta a segunda-feira, das 10 às 22 horas
Fechado: Às terças-feiras, exceto feriados
Estrutura: Mirante, acessibilidade física em rampas e banheiros, banheiros públicos, chuveiro
Entrada: Aberto ao público, entrada gratuita
Endereço: Rua Sabiaguaba, 832, Sabiaguaba. Fortaleza (CE)
Instagram: @complexodasabiaguaba

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