"Sou do Brasil": Parada LGBT+ agita a bandeira nacional em Fortaleza

Em sua 23ª edição na capital do Ceará, a Parada pela Diversidade Sexual destaca a temática de "radicalizar para existir" na avenida Beira Mar

O hino nacional ecoa do trio elétrico. Abaixo, uma parte do grupo crescente que se reúne na avenida Beira Mar no último domingo de junho, 30, coloca a mão no peito, em movimentação solene, enquanto outros caminham e esperam o início da 23ª edição da Parada pela Diversidade Sexual.

Os últimos acordes são seguidos pela voz característica de Gloria Gaynor, cantando que se fortaleceu e tem toda a vida para viver em “I Will Survive”, considerado um hino para lésbicas, gays, bissexuais, pessoas trans e os demais grupos da população LGBT+. A sequência parece simbolizar o tema da movimentação na capital do Ceará: “Radicalizar para existir; votar para ocupar”.

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Para o barbeiro Alexandro “Alex” Dias, 49, a motivação para usar a bandeira do País é óbvia: “Simboliza que eu sou do Brasil, nasci no Brasil”, responde, antes de adicionar: “E também é pra minha musa, Madonna”.

Em diferentes formatos, o símbolo nacional e as cores verde e amarelo estampam a vestimenta de quem desfila pela parada. E se a musa de Alex não estava em Fortaleza, seu rosto vez por outra aparecia em ‘ecobags’ vendidas por ambulantes, formando mais uma presença simbólica.

A blusa estilizada da seleção brasileira, usada pela cantora Madonna em seu show no início de maio, no Rio de Janeiro, iniciou uma “renascença” das cores em movimentos do orgulho LGBTQIAP +.

“A Parada vai resistir. Ela vai resistir porque ela é feita por pessoas e por organizações que têm como missão essa relação afetiva”, destaca Dediane Souza, vestida com a faixa verde e amarela de homenageada como a madrinha da edição.

“Hoje, com 35 anos de idade, uma travesti preta, nordestina, sertaneja, sendo homenageada neste evento, pra mim é um grande orgulho na possibilidade de construção de referências, de redes afetivas”, diz a ativista. “Ocupar esse lugar hoje, é ocupá-lo por diversas outras que me antecederam e também pelas que estão na luta e as que ainda virão”.

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‘Radicalizar para existir’: a construção da Parada pela Diversidade Sexual em Fortaleza

Organizada pelo Grupo de Resistência Asa Branca (Grab), a parada “dá um tom político para o movimento social LGBTI+”, como indica a sua presidenta, Dáry Bezerra, especialmente ao considerar ao seu tema para 2024.

“Em ano eleitoral, é fundamental pensar candidaturas e eleger pessoas LGBTs, ocupar o espaço do Parlamento. As mudanças acontecem cotidianamente, mas esses avanços são lentos e se necessita de políticas públicas para avançar na questão dos direitos humanos da população LGBTI+”, reflete Dáry.

“Nesse sentido, a Parada vem trazendo todo esse aparato político de celebração para dizer da nossa necessidade real, que é a ocupação do nosso espaço no Parlamento e a luta contra um Estado hoje que é conservador, que é fundamentalista religioso, e retrocede nos direitos humanos”, completa.

Em um ano de simbolismos, o sentido de comunidade e união é ecoado pela costureira Nataliane de Sousa, 34, que encontrou em sua primeira Parada, quando tinha 21 anos, a coragem de se assumir: “Eu acreditei em mim e que a minha família ia me amar do jeito que eu sou”.

Entre os cartazes dispostos pela avenida, a gestora cultural Bárbara Banida, 27, se destaca com sua performance: “Pessoas não binárias existem”, manifesta a artista em sua faixa.

“Esse ano se singulariza muito porque é o primeiro que eu venho para a parada retificada, como Bárbara Banida. Então é muito interessante perceber como a Parada acompanha também a minha evolução, meu desenvolvimento como ser humano, enquanto uma pessoa transfeminina”, explica. “É muito simbólico eu estar aqui, eu estar com essa faixa”.

O evento sem fins lucrativos também recebe o apoio da Prefeitura de Fortaleza e Governo do Estado, reunindo, anualmente, ao redor de 1 milhão de pessoas pelos direitos da comunidade LGBTQIAPN+.

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