Câmeras corporais nas polícias são "caminho sem volta", diz pesquisadora

Bárbara Caballero fez palestra de abertura do 1º Encontro de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública do Ceará. Dentre os temas abordados, o uso da Inteligência Artificial

21:19 | Jun. 20, 2024

Por: Cláudio Ribeiro
BÁRBARA Caballero é pesquisadora do Ipea na área de análise de segurança pública (foto: PAULO CAVALCANTI / SUPESP)

"As câmeras corporais são um caminho sem volta. A questão é como aplicar isso. É preciso discutir como implementar corretamente, da maneira que isso seja útil para a Polícia e para o cidadão", defende Bárbara Caballero, professora de Análise Criminal e pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O Ceará é um dos Estados que discutem o uso das câmeras nos uniformes de agentes de segurança — já utilizadas em testes na rotina dos policiais penais.

Ex-coordenadora do Observatório da Segurança Cidadã no Espírito Santo, ela fez a palestra de abertura do 1º Encontro de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública do Ceará nesta quinta-feira, 20, no auditório do Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp). Um dos temas tratados pela pesquisadora foi o uso de ferramentas que aplicam Inteligência Artificial (IA) para o combate ao crime. 

Em levantamento que produziu recentemente, Bárbara Caballero disse que cerca de um quinto (22%) das polícias do Brasil já adotam as câmeras corporais parcialmente entre suas tropas. "Em países como Estados Unidos e Inglaterra, mais da metade do efetivo policial, de 60% a 70%, faz uso permanente. Mas há essa polêmica em São Paulo, se o policial pode ligar e desligar quando quiser", pontuou.

“As melhores evidências apontam que o uso da câmera, quando permanentemente ligada, traz melhores resultados. Tanto de redução de uso abusivo da força, da violência policial, como melhora a relação da Polícia com a sociedade."

Bárbara Caballero citou que dentre as principais inovações para o estudo das dinâmicas criminais está a análise textual de boletins de ocorrência (BOs) com o uso de IA.

"O BO é uma das principais fontes de informação, mas não se consegue explorar o quanto poderia", disse na palestra. Isso principalmente pela limitação operacional humana, reconhecendo que nem todos os documentos são preenchidos como deveriam.

Ela citou que um projeto de análise de BOs por IA já estaria sendo desenvolvido pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) em parceria com o Ipea. Hoje, todos os BOs registrados virtualmente nos Estados são acessados pelo MJSP.

A ideia é que a IA traduza esse volume de conteúdo por análise estatística e padrões dos casos, para prospectar novos cenários e projeções do crime no País. "Mas a IA sempre dependerá do agente de segurança". O recurso pode ser usado também para análise de videomonitoramento, biometria ou nas câmeras corporais.

O encontro marca os seis de criação da Superintendência de Pesquisa e Estudos Estratégicos de Segurança Pública do Ceará (Supesp), realizadora do evento. O órgão é vinculado à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Para o superintendente Nabupolasar Feitosa, a principal ideia do encontro é a apresentação de novas ideias e a troca de experiências.

Dentre as inovações desenvolvidas no Ceará, a Supesp criou o programa Status, em parceria com Universidade Estadual do Ceará (Uece). "Nele, a gente é capaz de encontrar as manchas criminais (concentração de ocorrências) dos mais diferentes delitos. Saber onde mais acontecem, dia e hora. Hoje somos capazes de fazer isso. O programa faz isso pra nós. A partir das manchas, consegue traçar territórios menores, fazer rota de patrulhamento a partir dessa automação”, exemplifica. Ele também mencionou o projeto Meu Celular, para recuperação de aparelhos furtados e roubados.

A programação do encontro continua nesta sexta-feira, 21. Um dos palestrantes será o sociólogo César Barreira, coordenador sênior do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará (LEV-UFC).

"É fundamental incentivar cada vez mais o trabalho da inteligência. Para mim, essa violência das facções só será enfrentada se houver um reforço do serviço de inteligência. Primeiro é a partir da inteligência. Segundo, é você ter uma política de segurança pública que trabalhe com metas de curta, média e longa duração. E trabalhar de forma muito séria a avaliação dos homicídios. Não podemos simplesmente dizer que é briga de facção", opina.