Na Sabiaguaba, blitz educativa e mutirão de limpeza conscientizam população

Ação faz parte das atividades em alusão ao mês do meio ambiente e visa levar educação ambiental a motoristas e visitantes da Unidade de Conservação (UC). Faixa de praia no encontro com rio Cocó tem sido constantemente alvo de descarte irregular de lixo, enquanto veículos produzem poluição sonora e trafegam irregularmente nas dunas

Saber que uma garrafa plástica leva pelo menos 400 anos para se decompor ou perceber que partículas do lixo jogado no oceano podem parar dentro do organismo ao comer um peixe foram descobertas que fizeram a pequena Erika, 8, aproveitar a praia da Sabiaguaba neste domingo, 16, com muito mais consciência.

Acompanhada da tia e da avó, a menina foi positivamente surpreendida com as lições de educadores ambientais na barraca Sabiaguaba Park, uma das estações temáticas utilizadas pela Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma) para as atividades em alusão ao mês do meio ambiente realizadas na região.

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Além do estande com explicações e distribuição de jogos educativos, voluntários fizeram um mutirão de limpeza da praia e, na rotatória que leva ao local, uma blitz educativa conscientizou motoristas e visitantes sobre a importância da preservação dessa área.

Ambiente ideal para o lazer, o mosaico natural formado pelo encontro do rio com o mar, as dunas e o mangue presentes na Sabiaguaba também pode ser um espaço propício para a educação ambiental. É o que explica a ecóloga Maria Clara Claro Lira.

"A gente tem feito esse trabalho tanto com o público que vem de fora, quanto com os moradores nativos das comunidades tradicionais desse território. Porque falta consciência do que a Sabiaguaba representa para a Cidade em termos de ecossistema, fauna e flora e recurso hídrico. É uma área importante não só para nós, mas também para outros continentes por ser espaço para espécies migratórias, por exemplo. Então nós não podemos nunca deixar a Sabiaguaba sozinha", enfatiza.

Para auxiliar na sondagem aos motoristas, que receberam, ainda, sacos veiculares e mudas de plantas, equipes da Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) e do Batalhão de Policiamento do Meio Ambiente (BPMA) também participaram da blitz educativa.

O empresário Edson Carlos, que parou na blitz a caminho do Complexo Cultural e Gastronômico da Sabiaguaba com a família, acredita que a intervenção educativa "é um meio excelente, serve até para a gente tirar dúvidas e levar essa informação para os outros que frequentam aqui".

Já na barraca, como estratégia para atrair os banhistas, os educadores João Eduardo, que é gestor ambiental, e Felipe Ferreira, que é geólogo, criaram um "sushi fake" feito com lixo encontrado em uma das limpezas feitas pela equipe na praia da Barra do Ceará.

Entre os resíduos estavam metais, isopores, lixo eletrônico, fragmentos de microplásticos e até cobre.

"É uma analogia para dar uma ideia às pessoas de que é parecido, mas você não comeria porque sabe que é lixo. É muito fácil você chegar perto e perceber. Os animais não têm essa consciência, né? Eles veem uma sacola e vão pensar que é uma alga, com aquele movimento dentro do mar ou com a correnteza. Eles podem ser sufocados ou podem ingerir e sofrer com isso. Além do que esses microplásticos podem vir parar na nossa mesa e a gente ingerir também sem nem notar", explica Felipe.

Eduardo acrescenta que esses microplásticos já foram encontrados no leite materno e na placenta de bebês, uma consequência da ingestão de alimentos ou produtos contaminados com partículas imperceptíveis a olho nu.

O estudante Paulo Vitor, 20, que cursa Economia Ecológica na Universidade Federal do Ceará (UFC), soube da ação pelas redes sociais e resolveu colocar na prática as teorias que aprende em sala de aula.

"Essa já é a quarta vez que participo, e é muito gratificante participar dessa rede para agregar em algo que é muito maior. As próprias pessoas veem a gente catando o lixo e se interessam em coletar também, trazem os resíduos para a gente descartar", comenta.

Para ele, iniciativas como essa ainda servem de alerta à população, principalmente no contexto de crise climática que o mundo enfrenta: "As pessoas estão vendo o que está acontecendo e mesmo assim você encontra quilos de bitucas de cigarro, isopor, plástico, garrafa PET, canudo, tampinha".

Para a tia da pequena Erika, Suzana Martins, o aprendizado fica e deve se refletir: "Ela já vai levar esse conhecimento para os amigos na escola e com certeza essa consciência vai ser boa não só para o próprio futuro dela, mas o de todos nós".

Confira galeria de fotos da ação de educação ambiental neste domingo, 16, na praia da Sabiaguaba:

Tráfego irregular de veículos nas dunas demanda fiscalização

Uma das poucas áreas verdes remanescentes em Fortaleza, a Unidade de Conservação (UC) que engloba o Parque Natural Municipal das Dunas de Sabiaguaba (PNMDS) e a Área de Proteção Ambiental (APA) da Sabiaguaba no encontro com a foz do rio Cocó tem sido constantemente alvo de descarte irregular de lixo na faixa de praia, enquanto veículos produzem poluição sonora e trafegam irregularmente nas dunas.

A equipe de reportagem questionou os representantes da Agência de Fiscalização de Fortaleza (Agefis) no local, se a Agência pretende intensificar esse monitoramento no mês de julho, durante as férias, quando o movimento tende a aumentar, mas ainda não há previsão.

O POVO tem denunciado o trânsito ilegal de veículos na APA há semanas, com flagrante de trânsito de carros e motos, comércio de bebidas alcoólicas e descarte inadequado de lixo. Em julho de 2023, a movimentação irregular na região também foi denunciada.

No último fim de semana, dias 9 e 10 de junho, a Agefis autuou seis veículos em parceria com a Autarquia Municipal de Trânsito (AMC) numa operação contra o tráfego irregular nas dunas da Sabiaguaba. Desses, quatro foram apreendidos e dois conseguiram se evadir do local, mas foram "autuados remotamente".

De acordo com a Agência, os automóveis foram detectados via drone e receberam autuação com base no artigo 764 do Código da Cidade.

Conforme a legislação, o tráfego veicular em Unidades de Conservação (UCs) ou Zonas de Proteção Ambiental (ZPAs) configura-se como degradação ambiental e é proibido.

Em casos de flagrante, a pessoa responsável é autuada e sujeita a multa que pode variar de R$ 303,75 a R$ 4.050,00 para pessoa física e até R$ 48 mil para pessoa jurídica.

A fiscal Thatyanne Abrantes reforça os canais que a população pode e deve utilizar para denunciar irregularidades: "Através do telefone 156, do aplicativo Fiscalize Fortaleza, do site da Agefis, do nosso telefone (3484-8032) e do e-mail da ouvidoria ([email protected])".

Veraneio, turismo e especulação imobiliária na Sabiaguaba também preocupam ambientalistas

Outra situação no campo de dunas remanescente que preocupa educadores ambientais, pesquisadores e ambientalistas é a aproximação do interesse privado com projetos e loteamentos de imóveis de luxo na área preservada.

Na quinta-feira, 13, o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) realizou uma vistoria no Parque para fiscalizar possíveis impactos ambientais gerados pela construção de um empreendimento próximo ao local.

“Nós temos um processo a respeito de um empreendimento que será construído próximo à APA da Sabiaguaba. Solicitamos um laudo técnico à Fundação de Apoio a Serviços Técnicos, Ensino e Fomento a Pesquisas (Astef) com mais informações sobre a área e essa visita técnica busca averiguar a possibilidade de o Ministério Público se manifestar sobre essas obras”, explica a promotora de justiça Ann Celly Sampaio.

Já o pesquisador sobre biodiversidade e biogeografia, o professor Marcelo Moro, do curso de Ciências Ambientais da Universidade Federal do Ceará (UFC), destaca que a área possui “uma vegetação e um ecossistema em bom estado de conservação, com uma floresta muito diversa em espécies e que precisa ser preservada”.

Durante a fiscalização, foram constatadas irregularidades ambientais relacionadas à manutenção do espaço, como a ausência de sinalização de que o local se trata de uma Área de Preservação Ambiental; o descarte irregular de resíduos sólidos; a presença de animais no terreno; indícios de fogo recente; e o funcionamento de um prado, que se trata de corrida de cavalos.

A partir da análise da inspeção, o MP do Ceará irá identificar inquéritos civis relacionados aos problemas constatados durante a visita e quais regimes de proteção legal devem ser aplicados em cada caso.

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