Há 2 meses de greve, universidades do Ceará têm pouca movimentação estudantil

A UFC apresenta baixa presença estudantil, enquanto na Uece ainda há movimento devido à continuidade de algumas aulas, especialmente na pós-graduação

Declarada no último mês de abril, as greves dos professores e servidores técnico-administrativos das universidades públicas no Ceará estão prestes a completar dois meses. Por conta disso, os campi de Fortaleza mostram um cenário atípico para esta época do ano. No Campus do Pici, da Universidade Federal do Ceará (UFC), há escassez de alunos. Já no Campus do Itaperi, da Universidade Estadual do Ceará (Uece), ainda há movimentação estudantil, embora reduzida.

A Biblioteca Central do Campus do Pici, considerada por muitos um dos principais pontos da UFC, em Fortaleza, registrou baixíssima presença de alunos em seu interior e nas redondezas durante a manhã desta segunda-feira, 27. O cenário é atípico, visto que diversos alunos e, inclusive, funcionários, costumavam passar pelo lugar para acessar o equipamento de estudo ou se dirigir aos demais blocos didáticos.

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No interior da biblioteca, contudo, estudantes ainda aproveitam o ambiente silencioso para continuar os estudos por conta própria. Um deles é Raul Rocha dos Santos, 24, aluno do curso de agronomia. Embora sem aulas, o jovem ainda realiza estágio obrigatório e, nos tempos livres, continua indo à UFC.

“Como o estágio é no caminho da Universidade, aproveito pra vir almoçar no Restaurante Universitário (RU) e estudar [na biblioteca], já que pra mim não é muito bom estudar em casa”, relata o aluno. Mesmo sem aulas, Raul frisa ser a favor da greve.

“A greve é muito importante para os professores e técnicos da universidade. Tanto que sempre tento conscientizar quem não sabe, o pessoal que está fora da universidade, que acha que é só mais um movimento político. Eles [profissionais grevistas] só estão buscando o direito deles”, comentou o estudante.

A estudante do curso de língua inglesa da Casa de Cultura Britânica da UFC, Cristiane Almeida, 31, também se mostra a favor da greve, mas reconhece os danos da interrupção dos estudos. “Eu entendo o movimento, é justo. Só que, por outro lado, os alunos saem prejudicados porque atrasa a trajetória do ensino. Nós temos que correr atrás para manter o que aprendemos no começo do semestre ainda fresco”, aponta.

A UFC está em greve desde 15 de abril, ou seja, há 42 dias. Entre as reivindicações do movimento está a proposta de recomposição salarial de servidores, técnicos-administrativos e professores, para compensar a inflação salarial desde 2016. Os profissionais também reivindicam a reestruturação das carreiras, especialmente a dos técnicos-administrativos, que não recebem atualização desde 2008.

“O que prejudica os estudantes não é a greve, é a falta de condições de ensino, pesquisa e extensão. Os estudantes têm nos apoiado bastante, através de suas entidades representativas e em manifestações individuais. A luta pela educação pública nos une”, declarou a presidenta do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Estado do Ceará (ADUFC-Sindicato), professora Irenísia Oliveira.

As categorias também pedem pela restauração do orçamento destinado às instituições de ensino. Conforme explica Elaine Teixeira, do Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Federais do Estado do Ceará (Sintufce), historicamente as greves na educação são mais prolongadas. “Até agora temos uma boa adesão da greve e isso demonstra toda a insatisfação e como está difícil a situação”, comenta.

Uece registra fluxo de alunos, mesmo em greve

Com exigências semelhantes às da UFC, os profissionais em greve vinculados à Universidade Estadual do Ceará (Uece) ainda apresentam uma particularidade: o déficit de 482 professores. Dessa forma, os funcionários da unidade de ensino estão em greve desde 4 de abril.

Ao contrário da UFC, o Campus do Itaperi da Uece tem registrado considerável presença de alunos. Segundo os estudantes, além de uma maior concentração de alunos em razão de um campus menor, em relação ao Pici, isso se dá devido a continuação das aulas para cursos de pós-graduação e alguns poucos cursos de graduação.

A enfermeira Débora Lira Correia, 24, aluna do Mestrado em Cuidados Clínicos, comenta que as aulas para a pós-graduação chegaram a ser interrompidas logo que a greve foi anunciada. “Foi decidido que a pós-graduação é uma atividade essencial. Assim, quase todas as aulas foram retomadas”, relata a aluna.

Ela explica, ainda, que os alunos da pós-graduação são bolsistas e, por isso, têm prazos para defender suas teses. “Se pararmos, perdemos a bolsa. E isso eu acho que vai contra o direito de greve. Os professores, de certa forma, foram forçados a continuar a dar aula por conta disso”, aponta a enfermeira.

Conforme Victória Hellen, 22, aluna do primeiro semestre de Medicina Veterinária, o curso também não interrompeu as atividades. “O curso já tem uma carga horária muito extensa, são cinco anos e meio. Então os professores não pararam”, comenta a aluna.

Com mais de 50 dias em greve, o presidente do Sindicato dos Docentes da Uece (Sinduece), Nilson Cardoso, já considera a paralisação demorada. “Nós, professores, já queríamos ter saído da greve. Nós consideramos o governo lento demais em querer negociar e dialogar. E isso tem trazido, obviamente, consequências não só para os estudantes, mas para toda a comunidade”, avaliou.

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