Alagamentos são registrados em diferentes bairros de Fortaleza e causam prejuízos

Com alagamentos, moradores perdem pertences de forma rependina. Em Fortaleza, pelo menos 20 bairros registraram os incidentes

Diversos moradores e donos de estabelecimentos comerciais registraram prejuízos devido aos alagamentos causados pelas intensas chuvas que atingiram Fortaleza durante a madrugada desta segunda-feira, 13. De acordo com a Defesa Civil municipal, cerca de 20 bairros tiveram ocorrências de inundações que precisaram de atendimentos. Além dos danos materiais, os alagamentos também abalam o psicológico daqueles que enfrentando essas situações com recorrência.

Cenário que se repete em cada bom inverno cearense, o canal do bairro Conjunto Ceará voltou a transbordar após as chuvas que superaram os 100 milímetros. O POVO percorreu a Avenida C e suas vias vizinhas e percebeu uma população ainda avaliando os estragos e tentando superar as perdas.

Seja assinante O POVO+

Tenha acesso a todos os conteúdos exclusivos, colunistas, acessos ilimitados e descontos em lojas, farmácias e muito mais.

Assine

Nas proximidades do Canal ainda com águas furiosas, encontramos o senhor Francisco de Assis, conhecido como Camelo. Ele observava os buracos causados na estrutura da ponte após as fortes chuvas. “Foi uma coisa horrível. [A água] subiu muito rápido e, graças a Deus, desceu rápido também, senão o estrago era maior”, ele conta se lembrando da chuva.

O idoso relata que mora, junto da filha e do genro, em uma casa térrea na Avenida C, que fica paralela ao Canal. “Acordei de madrugada, era quase 3 horas. Eu escutei um barulho e senti uma movimentação em casa. Estranhei e, quando botei o pé no chão, senti a água. Levantei e vi que já tava batendo na cintura”, relata.

Segundo Seu Francisco, que também é conhecido como Camelo, além do provável dano em móveis feitos de um material mais frágil, a geladeira da casa também foi danificada.

Ainda na Avenida C, encontramos a dupla Pedro Ângelo, 38, e Elissandro Fernandes, 32. A dupla, que trabalha em uma galeteria, conta que, apesar de mais elevado, o estabelecimento comercial também ficou inundado. “Entrou água demais. Desde cedo que a gente tenta limpar tudo. Infelizmente, perdemos dois friezers”, diz Pedro.

Mas são nas ruas adjacentes ao Canal onde é possível avistar, com mais ênfase, o cenário de tristeza após a repentina perda de muito do que se tem. Pelas calçada, famílias colocam sofás, camas para secar; bem como eletrônicos e eletrodomésticos, na esperança que voltem a funcionar após secos.

Adna de Oliveira, 43, nos convida para adentrar em sua casa e nos mostra os danos que ficaram após uma madrugada conturbada. Ela conta que acordou com o chamado do filho. “Ele disse: ‘Mãe, a casa tá cheia d’água’. Nesse momento, a água já estava na nossa cintura. Minha filha, que é pequena, tava quase toda coberta de água”.

Tutora de dois cachorrinhos, a moradora ainda diz que sentiu angústia ao abrir a porta do pátio de casa, onde os bichinhos passam a noite, e ver eles nadando na água. “A gente se desesperou ao ver eles nadando e colocamos eles pra dentro”, relata.

Apontando para as paredes, ela diz que a água atingiu uma altura de cerca de 50 centímetros. “Molhou tudo: as camas, guarda roupas. Eu não sei se a geladeira vai escapar, vamos colocar no sol e ver no que dá. Na confusão, meu celular também caiu na água e foi perda total. Eu e meu marido nem fomos trabalhar limpando tudo”, diz a moradora.

No outro extremo da cidade, pontos de alagamento também foram registrados no bairro Papicu. Durante a madrugada desta segunda-feira, 13, vias nas proximidades da Avenida Engenheiro Alberto Sá registraram acúmulo de água, que assustou moradores e também causou prejuízos.

Por volta do meio-dia, mesmo após o escoamento da maior parte da água acumulada, a rua Alfeu Aboim ainda estava parcialmente coberta. A maioria dos condutores evitava passar pela via e, quando se arriscavam, reduziam a velocidade receosos pelos danos aos veículos ou de possíveis buracos escondidos na água turva. Quem olhava atentamente para o acumulado ainda podia avistar, inclusive, peixinhos nadando.

A casa de Magda Guimarães Ferreira, de 72 anos, foi uma das atingidas pelo alagamento da madrugada. Morando com o marido, também idoso, ela conta que notou o nível alarmante da água por volta das 2h30min. “Meu marido acordou primeiro e disse: ‘Não desça da cama que a água já está no nosso quarto’. Apesar de apavorada, ficamos apenas esperando e, quando foi por volta de 5h, vimos que ela começou a abaixar”, descreve.

Pela manhã, a moradora notou pelas marcas nas paredes que a água elevou-se cerca de 40 centímetros. Ao avaliar os estragos, além da umidade nos móveis, Magda Guimarães percebeu que uma geladeira, comprada há cerca de três meses, agora está sem funcionar.

Ela conta que, não somente na própria rua, mas que alagamentos severos são comuns na região. “A última vez foi em fevereiro deste ano mesmo. Choveu muito e a casa também amanheceu cheia de água. Isso é muito complicado para mim e para meu marido, que somos já de idade. A gente se desgasta fisicamente e emocionalmente”.

Ao longo dos anos, Magda relata que já tomou algumas medidas para conter a água proveniente dos alagamentos. “Tudo que você possa imaginar eu já fiz. Instalei uma válvula que fecha quando a água sobe. Coloquei duas bicas jogando a água para fora. Coloquei também comportas nas portas de casa para barrar. Nada funciona totalmente e a gente ainda tem prejuízo”, conta Magda.

Mesmo com os danos, a moradora diz que não pretende se mudar da residência, principalmente para “não passar o problemas para outros”.

Por meio de nota, a Secretaria Municipal da Gestão Regional (Seger) informou que "foi feita a limpeza da rede de drenagem na Avenida C, no Conjunto Ceará, no último mês de abril, e a estrutura está desobstruída".

A pasta também informou que uma equipe técnica esteve no local nesta segunda, 13, "atuando em parceria com a Defesa Civil e colaborando com a vistoria e os encaminhamentos necessários sobre os pontos de alagamento ocasionados pelas fortes chuvas desta madrugada".

Conforme a Prefeitura de Fortaleza, há um trabalho permanente, "monitorando as chuvas e o impacto à população, com planejamento e ações objetivas".

O Comitê da Quadra Chuvosa é formado por Defesa Civil, Secretaria Municipal da Infraestrutura (Seinf), Gestão Regional e Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC), atua em toda a cidade, com apoio da Central de Operações Integradas da Beira-Mar (COI-BM), com análise de ocorrências 24h.

"O Município já realizou 605 ações de limpeza em canais e lagoas, assim como 20.857 desobstruções de bocas de lobo, resultando na retirada de 209 toneladas de resíduos", afirma a Seger.

 

Atualizada às 20 horas

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar