Parque Santa Maria: moradores e servidores protestam contra novo local de atendimento à Saúde
Com início de reforma em um posto de saúde no bairro, atendimentos estavam sendo realizados em instituto, na mesma região. Atendimentos passarão a ser realizados noutro bairroMoradores do bairro Santa Maria, em Fortaleza, realizaram uma manifestação na manhã desta terça-feira, 30, para protestar contra a transferência do local que presta atendimentos em saúde no bairro. Até esta terça os serviços eram realizados no Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Qualificação Profissional (Idesq) e agora passaram a acontecer no Posto de Saúde Maria Grasiela, localizado em outro bairro, no Santa Fé.
De acordo com Leda da Silva, presidente do Idesq, o Instituto passou a receber atendimentos depois de denúncias da comunidade sobre a precariedade das instalações do Posto de Saúde Fausto Freire, localizado dentro do Parque Santa Maria.
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Em um primeiro momento, os moradores foram encaminhados para o posto Maria Grasiela, no bairro Santa Fé, a quase 4 km da antiga unidade. O local, no entanto, também começou a apresentar problemas estruturais e foi interditado após alagamentos. Hoje, os dois postos passam por reformas.
O Idesq, então, cedeu o espaço de forma temporária para evitar que a população ficasse carente de atendimentos em saúde. “[Agora], a Prefeitura resolveu levar os atendimento de volta para o Santa Fé, que ainda está em reformas. Os próprios trabalhadores citam os problemas de estar lá”.
Daniele Nazario, diretora da pasta de diversidade do Sindsaúde, sindicato que representa os profissionais de Saúde de Fortaleza, afirma que o Posto de Saúde Maria Grasiela não tem condições de receber a demanda de atendimentos. O local também passa por obras. “Não tem as mínimas condições de receber os trabalhadores e, muito menos, a população”.
Outro problema citado por moradores e sindicalistas é a questão da mobilidade urbana. “A comunidade tem dificuldades de deslocamento. Nem todo mundo tem transporte ou condições de pagar por algum transporte privado e não tem um ônibus específico [que faça o trajeto]. Então, fica difícil levar os atendimentos para lá”, destaca Valdir Cassio Leite, do SindiFort, que também representa servidores.
Samila Ferreira, do coletivo Meraki do Gueto, formado por jovens do bairro, afirma que a situação acontece há bastante tempo e que os moradores são “rebolados de um lado pro outro”.
“Existem muitos idosos no nosso bairro, pouca mobilidade e eles não conseguem ir para outro bairro. Tem muitas crianças, além de questões territoriais, que a gente não se sente seguro. Estamos aqui por uma luta coletiva. A gente quer atendimento no nosso bairro”, pontua Samila.
Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde de Fortaleza (SMS), afirma que, mesmo com a reforma, os atendimentos serão concentrados no Posto de Saúde Maria Grasiela a partir do mês de maio. Eles citam que o local é a “unidade de saúde mais adequada para oferecer os serviços à comunidade”. A pasta não cita se a população receberá suporte na questão da mobilidade.
“A SMS reforça que o posto Fausto Freire está passando por uma requalificação completa, e contará com um ambiente totalmente reformado, funcional e acolhedor para a população e os profissionais. A previsão de entrega é no início do segundo semestre”, diz trecho da nota.
Moradores relatam dificuldades no acesso à Saúde
Maria Pinheiro Nascimento, 69, reside no local desde os oito anos de idade. Ela é diretora administrativa do Idesq e foi uma das fundadoras do Instituto, na década de 80. “A gente refez três salas para os consultórios e, de repente, chega essa mudança”.
O local recebe os atendimentos há cerca de três meses. “Nós tivemos até despesas para que os atendimentos fossem feitos aqui [...] eles [da Prefeitura] não têm despesa com nada, só com as coisas de limpeza. De resto, é tudo nosso. Até notebooks nós cedemos para eles trabalharem [os profissionais da saúde]”.
Silva Nira Bento, 49, é assistente social e mora no bairro desde que nasceu. “O posto para onde eles querem levar também está em reforma. Não existe uma qualidade para que esses atendimentos aconteçam. É por isso que a gente exige que os atendimentos continuem no [Idesq]”.
Ela ressalta ainda as dificuldades de mobilidade. “São R$ 9 para ir e voltar. Muitas pessoas não têm. [Existe] a questão da segurança de passar de um lado para o outro, que não temos. Então, é uma população muito carente, que já sofre há anos com essa questão da saúde”, adiciona.
Outra residente é Ivaniza Assunção Gadelha, 72, que vive no Parque Santa Maria há mais de 50 anos. “Nós temos a dificuldade de ter o necessário. A gente tá sendo bolado de um lado e pro outro, feito peteca”, pontua.
“A transferência afeta completamente quem mora [no bairro]. Podem até dizer que é perto, mas não é tão perto para quem tem problemas reumáticos, de dores, e que precisam ser rapidamente atendidas”, continua.