Com músicas e danças interativas, MIS encerra programação do Abril Indígena
Público assistiu à apresentação musical do grupo indígena Thynia Thudya, da etnia Fulni-ô.
06:00 | Abr. 22, 2024
O Museu da Imagem e Som (MIS) foi palco de mais uma celebração da cultura de povos originários no último dia de programação do Abril Indígena. Neste domingo, 21, o público teve a oportunidade de assistir à apresentação musical do grupo indígena Thynia Thudya, da etnia Fulni-ô, com fala aberta de Txhyfia Caique, Kafytxwa Awinan e Thinya klusá Klauber, representantes da comunidade.
O evento fez parte da programação especial “Das coisas que aprendi ouvindo”, uma forma de celebrar o Dia dos Povos Indígenas, lembrado no dia 19 deste mês.
Txhyfia Caique expressa sua satisfação com a oportunidade de compartilhar a vivência de seu povo. “Foi uma forma de mostrar um pouco nossa cultura no mundo, através do som, do pisado”, diz ele.
Os Fulni-ô são um grupo indígena que reside próximo ao rio Ipanema, no estado de Pernambuco, não havendo registros precisos sobre sua aldeação. Acredita-se que elementos de diversos grupos étnicos se uniram nessa aldeia e adotaram o nome do grupo anfitrião, Fulni-ô, que significa “povo da beira do rio”.
Junto com os indígenas do Maranhão e os Pataxós do sul da Bahia, os Fulni-ô são reconhecidos como um dos únicos povos indígenas que conseguiram preservar o idioma nativo, o yatê (ou ia-tê).
“Primeiramente, nossa religião é fechada, nós passamos meses nesse local, que é chamado de Ouricuri, e também temos nossa escola própria lá, que é bilíngue, para passar um pouco, dizer que os indígenas ainda estão vivos”, explica Txhyfia.
O Ouricuri é uma manifestação cultural de natureza religiosa e se destaca pelo momento dedicado à reza e à oração em prol do bem-estar de todos.
Evento cativa o público com interação musical
Durante a apresentação, um momento de interação no qual o público foi convidado a participar ativamente chamou atenção. Pessoas de todas as idades se levantaram de suas cadeiras para dançar ao som dos cantos tradicionais e se unir à consagração.
“Resolvi participar por sentir a energia boa e aquele momento é de luta também. Estão dando a oportunidade da gente viver isso com eles”, disse a estudante de psicologia Francesca Stanfani.
Para ela, é também um momento de se conectar com a natureza e entender a importância da preservação do meio ambiente. “A gente sabe que a luta dos povos indígenas é a principal frente contra as mudanças climáticas e o desastre ecológico. Então, é uma luta de todo o mundo e é muito importante estar aqui”, completa.
Enquanto as famílias se reuniam para acompanhar o evento, no meio da agitação das crianças dançando e explorando os artefatos indígenas, Miguel, de apenas 1 ano, se divertia mergulhando na atmosfera vibrante ao seu redor.
A mãe, Karoline Oliveira, psicóloga infantil, mora no município de Beberibe com o pequeno e, na procura por uma programação familiar em Fortaleza, encontrou no MIS a oportunidade de um momento lúdico.
“Uma experiência de imersão na cultura indígena bem interessante. A gente também foi para a exposição das aves, que foi maravilhoso, ele amou. A parte da imagem, do som, das experiências, foi realmente novo para a gente, principalmente para ele, que ainda vai fazer dois aninhos”, diz.
Já o Rodrigo Paiva, dentista, acompanha o grupo Thynia Thudya há algum tempo e, ao saber da visita a Fortaleza, não hesitou em prestigiar o evento. “Acho que aquelas palavras do Ailton Krenak, 'o futuro é ancestral', são de uma força muito grande. São povos que vão nos ensinar coisas que foram esquecidas. Acho que isso talvez seja uma parte do processo de conserto do mundo”, acredita.
Reflexão sobre os povos indígenas para além de abril
Zoraia Nunes, diretora adjunta do MIS, ressalta a importância de trazer as narrativas indígenas para o espaço. “O museu tem uma perspectiva histórica muitas vezes colonizadora. Então, nosso trabalho com o Abril Indígena, mas também com a discussão da museologia quilombola, da museologia indígena, é trazer essas narrativas para dentro do museu”, afirma.
Ela destaca, ainda, o compromisso de salvaguardar a oralidade indígena e difundi-la para um público mais amplo. “Essa é uma responsabilidade nossa: que a discussão, a reflexão e a vinda dos povos originários de diversas etnias não se dê só em abril.”
“Já temos uma programação com o povo Tremembé. A gente não tem uma data fixa ainda, mas já estamos em discussões. A ideia é que, ao longo de todo o ano, as etnias — principalmente as cearenses — estejam conosco gravando os seus cânticos ancestrais e também conversando e se apresentando”, completa a diretora.