Fortaleza 298 anos: passeio gratuito reconta história e cultura da Capital

O itinerário começou no Passeio Público e terminou no Museu da Indústria, percorrendo o Centro. Durante o trajeto, participantes aprenderam sobre a história da capital cearense

19:15 | Abr. 13, 2024

Por: Mateus Brisa
Registros de passeio histórico por praças, edifícios e monumentos do Centro, em comemoração aos 298 anos de Fortaleza (foto: Mateus Brisa)

Dezenas de pessoas puderam relembrar ou reconhecer a história de Fortaleza durante passeio pelo Centro neste sábado, 13. O Projeto Rolé realizou caminhada por praças, edifícios e monumentos públicos que testemunharam a transformação da Capital, que completa 298 anos.

O itinerário começou na Praça dos Mártires (ou Passeio Público), onde os participantes foram orientados e divididos em dois grupos. De lá, partiram pela calçada da rua Dr. João Moreira e pararam na Praça da Sé.

Foi lá que a estudante Eliane da Silva, de 16 anos, passou por um dos momentos favoritos dela durante o passeio: “Gostei de descobrir mais sobre a nossa Catedral [Metropolitana, em frente à Praça da Sé] e vê-la de perto. Não sabia que ela tinha 45 anos e permanece intacta depois de tanto tempo.”

A gestão da escola municipal onde Eliane estuda, Prof. Jociê Caminha de Menezes, no bairro Bom Jardim, fretou ônibus para transportar os discentes. Eliane revelou que a atividade escolar, em um sábado, fez parte da preparação da escola para a Olimpíada Nacional em História do Brasil.

Da Praça da Sé, os grupos seguiram pela av. Alberto Nepomuceno, pararam no Centro Cultural Banco do Nordeste e seguiram até a Praça General Tibúrcio, mais conhecida como Praça dos Leões.

Ao lado de amigas, mãe e sogra, a estudante Karol Torjá, 29, destacou a chegada na praça por notar “o contraste entre a belíssima, imponente e famosa Catedral com a discreta Igreja do Rosário, toda cheia de simbolismo”.

“Relembrar que a Igreja foi construída por mãos escravizadas na busca por uma rede de apoio e proteção sempre me emociona”, contou a estudante de Gestão de Políticas Públicas na Universidade Federal do Ceará (UFC).

Quem também gostou da passagem pela Praça dos Leões foi Peaug, 31, que ocasionalmente atua como DJ no Lions Bar, localizado no Centro. "É importante conhecer onde moramos, encontrar novas identificações e passar esse conhecimento adiante.”

Ainda na praça com as estátuas dos três felinos, choveu quando o grupo passeava em frente à Academia Cearense de Letras. As pessoas se resguardaram embaixo do telhado das tradicionais livrarias da região.

Quando a chuva deu trégua, o passeio atravessou a rua Floriano Peixoto e chegou à Praça do Ferreira, onde os educadores apresentaram anedotas do local e o Cineteatro São Luiz.

Foi relembrada a história do surgimento da "vaia cearense". Organizadores e participantes se juntaram para vaiar o Sol e foram acompanhados por pessoas que vivem na praça ou que por ela passavam.

A caminhada, então, percorreu calçadas do Centro, entre o comércio, a multidão e o trânsito, para alcançar a Estação das Artes e a Pinacoteca do Ceará, finalizando no Museu da Indústria.

Passeio por Fortaleza pode transformar relação com a Cidade

Mesmo sob Sol e eventual chuva, Karol Torjá disse que o passeio foi “zero cansativo”. Ela reforçou seu amor pela cultura “rica e diversificada” de Fortaleza. “Sou entusiasta do resgate histórico para entendermos onde a gente chegou e para onde estamos indo. De ouvir sobre nossos conterrâneos que vieram antes de nós, moldaram nossa história”, comentou.

Já a relação afetiva de Eliane da Silva com a Cidade “ainda é muito restrita". Ela disse que não teve muitas oportunidades de vivenciar outros lugares.

“Por isso a importância de atividades como esta na escola. Eu e outras pessoas que não costumam sair de casa temos mais oportunidades de descobrir um pouco mais sobre nossa cidade”, explicou a estudante.

“A gente cria um laço afetivo e conhece a importância de estudá-la”, acrescentou ela. A visão é apoiada por Flávia Barbosa Chaves, colega de Eliane: “É importante ter aulas em campo com professores. Nos traz um conhecimento aprofundado e enriquecedor”.

A transformação dessa percepção individual da Cidade é um dos objetivos do Projeto Rolé, segundo Beatriz Novellino, 31, uma das organizadoras do passeio. “A Cidade deixa de ser um lugar de passagem e correria para um lugar que tem história, que deve ser aproveitado. Isso mexe com a segurança dos espaços, possibilita que se tornem espaços de lazer”, explicou ela.

“A gente tem um entendimento de que o privado merece respeito porque é de alguém, mas o que é público não é de ninguém. Na verdade, o público é nosso, de todos nós. Quando olhamos para uma parte da cidade e começamos a ocupá-la, a entendemos como nossa, essa relação é transformada”, complementa.

Projeto Rolé começou no RJ e já passou por Fortaleza três vezes

Desde 2012, o Projeto Rolé organiza passeios na capital do Rio de Janeiro. Começou de forma única e, na sequência, passou a ter eventos mensais, conforme Beatriz Novellino. Em 2016, foi levado para outras cidades, incluindo Fortaleza. Naquele ano, a capital cearense recebeu o evento duas vezes.

Desde então, o projeto retornou à Terra da Luz pela terceira vez neste sábado. Segundo a produtora cultural, a organização filmou este passeio e lançará um vídeo em seu canal do YouTube no fim deste ano.

Além do trabalho, a passagem pela Capital significa, para Beatriz, rever amigos. Ela nutre duas grandes amizades que “falavam de Fortaleza com tanta paixão” que ela decidiu que “precisava conhecer”.

“Um dos meus lugares favoritos do Brasil é o Centro Cultural Dragão do Mar. Sempre que venho, faço questão de ir. Graças ao Projeto Rolé, conheci diversos lugares do Brasil, mas o Dragão é um dos meus favoritos”, concluiu.

Se Fortaleza fosse uma pessoa, o que você a desejaria ao dar parabéns?

Beatriz Novellino, produtora cultural: “Desejo que Fortaleza continue a reconhecer e usar sua história como uma verdadeira fortaleza para se manter altiva, expansiva e aberta para todos os abraços que os moradores podem dar”.

Eliane da Silva, estudante: “Desejo que nada com muita história para contar seja apagado. Que essa beleza única de Fortaleza seja ainda mais enaltecida. Desejo também que todos possam tirar um dia ou dois por mês para saber mais sobre essa cidade tão linda e cheia de conhecimentos”.

Flávia Barbosa Chaves, estudante: “Desejo parabéns pela cultura de Fortaleza. Que suas histórias não sejam esquecidas. E que possamos conhecer mais monumentos e locais, para nos aprofundarmos e aprendermos mais do fantástico dessa Cidade, que só nos traz mais curiosidade”.

Peaug, desenhista: “Desejo que a memória de Fortaleza continue sendo resgatada pela população, inclusive com iniciativas como a do passeio de hoje”.