Banhistas relatam queimaduras por águas-vivas em praias de Fortaleza
Surgimento dos animais pode estar atrelado à mudança das marés. Queimaduras de pele causadas pelo contato com águas-vivas não devem ser tratadas com urinaDurante março, diversos banhistas e frequentadores de praias em Fortaleza têm relatado o surgimento de águas-vivas. De acordo com a Guarda Municipal, somente entre o último domingo e segunda-feira, 24 e 25, sete banhistas foram atendidos pelos guarda-vidas da Inspetoria de Salvamento Aquático (ISA), na Praia do Hawaizinho e Barra do Ceará, relatando acidentes por contato com esses animais marinhos.
As águas-vivas possuem tentáculos que, em contato com a pele, provocam sensação de queimadura. Além dos locais apontados pela Guarda Municipal, O POVO também apurou que houve surgimento desses animais na Praia de Iracema, nas proximidades do Espigão da João Cordeiro, na Beira Mar, e na Praia do Meireles, próximo ao Espigão do Náutico.
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Regis Freitas é membro do grupo de mergulhadores Rambo Dive Ceará e pratica o esporte há mais de 30 anos. Em relato, ele aponta queimaduras de águas-vivas nos braços e barriga, decorrentes de mergulhos realizados na Praia de Iracema. “Está com cerca de um mês e meio que eu vejo aparecendo as águas-vivas com mais frequência, após essas correntes de marés vindas do norte”, aponta o mergulhador.
“Elas fazem parte da nossa fauna e não chegam a causar grandes queimaduras. Inclusive, além da Praia de Iracema, percebi que no Pecém tem uma boa quantidade”, ainda conta Régis.
Vídeo: Regis Freitas/Arquivo Pessoal
O aluno de natação Greisson Moura, 39, conta que também foi queimado pelo contato com águas-vivas enquanto nadava próximo ao espigão da Beira Mar. Ele conta que, no ultimo domingo, 24, foi atingindo pelo animal marinho na altura do ombro e braço esquerdo.
"Não cheguei a vê-la, até porque é um pouco assustador na hora que ela está em contato com a pele. Dói na hora, como se eu tivesse caído num formigueiro. A minha reação foi, imediatamente, ir para casa e ver o procedimento que poderia ser feito", conta o gerente de vendas.
Ele então pesquisou na internet os procedimentos corretos para tratar as queimaduras. "Vi que vinagre branco era ideal para aliviar a dor. Fiz compressa com algodão e melhorei!", relata.
Fazendo aulas de natação na praia, Greisson aponta que ouviu relatos de assessorias esportivas que suspenderam as aulas, em alguns dias, devido à incidência dos animais na água. Atualmente, as aulas seguem seu fluxo normal.
Passando alguns dias em Fortaleza para aproveitar as férias, a argentina Verônica Del Negro comenta que presenciou um incidente no ultimo dia 19, feriado de São José, nas proximidades do Espigão do Náutico.
"Eu estava nadando, inclusive, quando presenciei um moço sendo retirado da praia por conta de uma queimadura por água viva. Ele teve uma reação alérgica e, aparentemente, estava com dor e não conseguia respirar", relata a turista. Acompanhada pela filha, Verônica explicou que, felizmente, não chegou a se machucar, mas ficou receosa de voltar a entrar no mar naquele dia.
De acordo com o instrutor de natação em águas abertas, Tarcísio Oliveira, 49, que há oito anos nada diariamente no mar de Fortaleza, em especial na Praia do Meireles, as águas-vivas têm surgido nas proximidades da orla há cerca de duas semanas.
“Perto do início do mês, o mar estava muito agitado devido ao vento, que mudou de sentido. A ventania, por conta da fase da lua, mudou as ondas e chacoalhou o fundo do mar. Assim, apareceram muitas algas soltas na beirada da praia e isso é alimento para as águas-vivas”, explicou o nadador.
Conhecido como “nadador da noite”, por conta dos horários noturnos em que pratica o esporte nas proximidades da Praia do Náutico, Tarcício comenta que virou quase uma rotina se queimar pelas águas-vivas enquanto pratica o esporte.
“Eu dizia até nas minhas redes sociais que levava uma 'pisa' de águas-vivas todos os dias. Pegava cinco ou seis águas-vivas no corpo. Essas queimaduras, para mim, são quase nada, mas se você coçar piora. Elas também não chegam a matar, a não ser que você seja alérgico", comenta.
Tarcísio conta que estranhou a aparição de águas-vivas neste período no mar de Fortaleza. Segundo ele, é mais comum o surgimento desses animais marinhos durante o segundo semestre do ano.
A explicação do nadador vai de acordo com o que diz a professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Helena Matthews Cascon. Doutora em Biologia Marinha pela University of New Hampshire, ela explica que as águas-vivas aparecem próximas da costa cearense principalmente de agosto a outubro, quando ocorrem mais ventos
“Como elas vivem flutuando na água, os ventos e correntes podem trazer esses animais até as praias. O surgimento precoce delas pode ser atribuído às grandes marés neste período", comentou.
Segundo a especialista, as águas-vivas pertencem ao grupo de animais filo Cnidaria, onde incluem os corais, hidrozoários, caravelas, anêmonas e gorgônias. “A maioria das águas-vivas é marinha e fica flutuando na coluna de água onde pode se movimentar um pouco, mas normalmente as águas-vivas são levadas pelas correntes marinhas”, pontua a professora da UFC.
Como tratar queimaduras por águas-vivas?
Em relação a dados recentes sobre ocorrências envolvendo queimaduras de águas-vivas, O POVO procurou tanto a Guarda Municipal de Fortaleza, que coordena a Inspetoria de Salvamento Aquático (ISA), como o Corpo de Bombeiros (CBM-CE). Os setores, por sua vez, explicaram que não possuem as informações.
A Secretaria Municipal da Saúde (SMS), por sua vez, declarou que incidentes com esses animais marinhos são registrados na rede de acolhimento como “incidentes com animais peçonhentos”. Dessa forma, detalhes precisos acerca de quantos casos foram registrados não poderiam ser passados.
Os ferimentos causados pelo contato com águas-vivas são comumente chamados de queimaduras. Contudo, a dor provocada é decorrente das toxinas expelidas pelo animal marinho, que agridem a pele. Conforme Helena Matthews Cascon, ao contrário do que é popularmente difundido, é errado tratar as queimaduras com urina.
“Nunca lavar a área atingida com urina. O melhor é colocar vinagre (ácido acético 5%). Isso aliviará a dor e a inflamação, além de inativar a toxina residual dos nematocistos ainda não disparados”, detalha.
A Inspetoria de Salvamento Aquático (ISA) de Fortaleza ainda pontua que, em caso de incidentes, a recomendação é também lavar o local com água salgada, evitando sempre passar gelo ou lavar com água doce. Se necessário, procurar atendimento médico.
“Os banhistas devem sempre procurar um dos sete postos da Inspetoria para receber orientações de banho seguro antes de entrar no mar. Os guarda-vidas orientam ainda que, ao avistarem águas-vivas ou caravelas, os banhistas devem evitar ingressar no mar para evitar queimaduras”, informou a Guarda Municipal.