Viúva aponta desamparo após companheiro ser morto em ação policial na Praia de Iracema
A vendedora ambulante agora precisa trabalhar em dobro para compensar a redução de renda repentina, além de cuidar sozinha da criação do filhoAos 27 anos, a vendedora ambulante, de nome preservado, se viu sozinha com uma criança de quatro anos de idade. Na madrugada do dia 12 de março, o marido dela foi baleado por um policial militar. Até então, ela era proprietária de um quiosque na Praia de Iracema e morava em Fortaleza desde 2016 com o companheiro Taian Fé Nogueira, 27 anos. Os dois trabalhavam quando foram alvo de uma abordagem policial na Praia dos Crush. Taian correu em direção ao mar e foi baleado e morto.
Recomeçar sozinha, com a responsabilidade de uma criança e sem familiares no Ceará, tem sido difícil. Os parentes, que residem no Pará, vieram a Fortaleza para o sepultamento, no entanto, foram embora para seu respectivo estado. Sem condições de pagar o aluguel, a viúva ressalta que a dor da perda do companheiro se mistura com a preocupação com o único filho do casal. "Agora só ficou eu e meu bebê de quatro anos", lamenta.
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A criança presenciou a ação policial, ocupou os bancos da viatura com o pai baleado ao lado. Todos os dias o menino ia à escola acompanhado de Taian. "Meu filho não está conseguindo ir à escola, ele só chora. A noite dá febre e ele chama pelo pai", descreve a mãe.
Mãe e filho testemunharam toda a ação e temem represálias. Desde que o crime ocorreu, ela afirma que buscou imprensa e órgãos da Polícia e da Justiça. Sozinha, conta que organizou atos de pedido por justiça, um culto e ainda uma campanha para chamar a atenção das autoridades por meio das redes sociais.
Até o momento, mais de 15 dias após o caso, o agente de segurança segue em liberdade. O PM acusado pelo disparo que matou o vendedor ambulante foi recebido pelo Comando Geral da Polícia Militar do Ceará (PMCE), onde recebeu apoio institucional.
A viúva e vendedora ambulante aponta o desamparo e a falta de apoio após a morte do companheiro. Agora, sozinha, acumula todas as responsabilidades que antes dividia com Taian, precisando trabalhar por dois para não comprometer a renda, que foi reduzida de forma repentina.
A Controladoria Geral de Disciplina determinou o afastamento do soldado, de forma preventiva. Conforme o inquérito policial, obtido pelo O POVO, o policial deve prestar depoimento na delegacia que investiga o caso no dia 1º de abril. O caso era acompanhado pela Delegacia de Homicídios e Proteção á Pessoa (DHPP) e foi transferido para a Delegacia de Assuntos Internos (DAI).
O POVO não divulga o nome da mãe e o da criança em cumprimento ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Abordagem na Praia de Iracema
Taian Fé Nogueira, de 27 anos, estava no quiosque de sua propriedade quando houve uma abordagem policial rotineira. Ele e a esposa atendiam clientes e amigos quando foram surpreendidos com a chegada da equipe.
Quinze pessoas foram abordadas e, durante a ação, um dos policiais afirmou ter verificado um mandado de prisão em aberto contra o vendedor, que era oriundo da Justiça do Pará. Taian respondeu na Justiça por crime de roubo, caso registrado há seis anos. De acordo com os relatos de testemunhas que estavam no local, após o anúncio do mandado, assustado, Taian teria corrido para o mar e, com as mãos algemadas, teria sido baleado e morto.
As versões das testemunhas do local e da equipe policial entraram em divergência sobre a informação de que Taian estava algemado no momento da ação. Em nota, a PMCE informou que o rapaz tentou tomar a arma do policial.
As divergências também se estendem para a forma do socorro. A Polícia afirma que o rapaz foi socorrido e morreu no hospital. No entanto, a família aponta que ele já estava morto e foi retirado do local do crime em óbito.