"Se a gente ficar calada, nunca vai mudar", diz nutricionista vítima de importunação sexual

"Essa história que ele achou que fosse uma pessoa que ele tinha intimidade, está estampado que é falsa", diz a nutricionista sobre a versão do empresário

19:22 | Mar. 24, 2024

Por: Jéssika Sisnando
Larissa Duarte, de 25 anos, foi vítima de importunação sexual dentro de um elevador de um prédio comercial em Fortaleza (foto: Arquivo Pessoal)

Larissa Duarte, de 25 anos, vítima de importunação sexual dentro de um elevador de um prédio comercial em Fortaleza, comentou em entrevista ao O POVO, neste domingo, 24, sobre o indiciamento e a versão apresentada por Israel Leal Bandeira Neto, de 41 anos.

“Espero que ele não fique impune, que a Justiça seja feita a partir do vídeo que foi divulgado. Mais duas vítimas tiveram coragem de denunciar. É uma situação que não foi a primeira vez e que possivelmente não ia ser a última vez. Quero que a Justiça seja feita para que uma situação como essa não possa passar despercebida”, comenta.

Neste domingo, 24, o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) denunciou Israel pelo crime de importunação sexual e também deu parecer favorável à decretação de prisão preventiva.

No dia 18 de março, a nutricionista adentrou no elevador que dava acesso à garagem do prédio comercial onde trabalhava. Israel Bandeira, que estava no mesmo elevador, aparece nas câmeras abordando a moça quando ela atravessava a porta para sair do equipamento. Nesse momento ele apalpa as nádegas da vítima, que se vira perplexa com a situação. Larissa diz que chegou a gritar e que alarmou a situação, mas o homem se evadiu.

“No vídeo está de uma forma explícita que nós não nos conhecíamos. Eu nunca o vi e ele não me conhecia. Eu estava lendo meu papel e ele estava no canto dele. Essa história que ele achou que era uma pessoa que ele tinha intimidade é algo que está bem estampado que é falsa”, relata a vítima.

Larissa ressaltou que no momento da importunação ficou paralisada e que sentiu uma sensação de ser “incapaz”. No mesmo dia, ela fez um Boletim de Ocorrência (B.O) denunciando o caso. O vídeo do elevador flagrou a ação e viralizou nas mídias sociais, com repercussão em todo o Brasil.

A nutricionista relata que recebeu mensagens de apoio de mulheres e muitas dessas pessoas relataram situações “parecidas ou piores”, mas que não tiveram coragem de expor e denunciar. “Colocaram em mim muita representatividade. Foi o que me deu força e coragem para expor para a população o que aconteceu”, comentou.

A vítima diz que espera que o caso sirva de exemplo. “Que outras mulheres se sintam encorajadas a denunciar. A não deixar essa situação despercebida. Tem que denunciar, pois é expondo que fará a diferença", comenta.

Israel Bandeira prestou depoimento sobre o caso na delegacia e afirmou que havia confundido a vítima com outra pessoa com quem tinha intimidade. Por meio de uma nota pública, ele lamentou o caso e afirmou sentir profundo arrependimento e desejo de se retratar com a vítima.

O advogado que representa o empresário afirma que ele foi ameaçado e que pessoas criaram perfis fakes com o nome dele. A defesa acrescentou que espera um julgamento “justo e sem excessos”. Na sexta-feira, 23, a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) divulgou, por meio da Polcia Civil do Ceará, que o inquérito foi finalizado e empresário indiciado por importunação sexual.

Mais vítimas denunciaram o caso à Polícia

Após a repercussão do caso, além de Larissa, outras duas vítimas denunciaram Israel por crime semelhante. As duas são mãe e filha. Elas relataram que foram importunadas sexualmente pelo homem dentro de um elevador.

Depois que Larissa expôs a situação, ambas verificaram no vídeo que se tratava do mesmo homem que havia abordado mãe e filha. Após reconhecerem Israel, elas denunciaram o caso e foi aberto um outro inquérito.

Larissa frisou, durante a entrevista, a importância de denunciar os casos e de não normalizamos esse tipo de crime. E pontuou que as mulheres não precisam ter vergonha de expor e de exigir respeito. A vítima agradeceu ainda a o apoio das mulheres que enviaram mensagens de força, coragem. “Se a gente ficar calada, nunca vai mudar”, finaliza.