Terreno no Álvaro Weyne é alvo de disputa entre Governo e Prefeitura

Prefeitura iniciou obras para um parque urbano, mas o Metrofor impede avanço já que está planejando uma linha de metrô subterrânea

Um terreno localizado no cruzamento das avenidas dr. Theberge e Tenente Lisboa, no bairro Álvaro Weyne, em Fortaleza, tem sido disputado entre as autoridades municipais e estaduais. Atravessado por uma linha do VLT, há mais de uma década o local enfrenta problemas de acumulação de lixo, sendo um incômodo para a população que convive com a incidência de pragas e o mau odor exalado do local.

Neste mês de março, a Prefeitura de Fortaleza teria começado obras para revitalizar o espaço, com a construção de um parque urbano. O Metrofor, no entanto, impediu as intervenções alegando planos para uma futura linha de metrô subterrânea no local. Enquanto as gestões discutem qual equipamento deve ter prioridade, moradores cobram melhorias definitivas para a área.

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Morando há 20 anos no Álvaro Weyne, Reginaldo Rodrigues, 52, se indigna com o cenário de descaso do terreno. “Isso está há muito anos assim. Além do pessoal jogar lixo, o terreno acumula muita água. Qualquer chuvinha já fica empoçada aqui e com o lixo fica ainda pior, porque fede mais. Todo ano isso sempre se repete”, conta o morador.

O mesmo pensamento também é compartilhado por Renato Pinto Barros, de 71 anos. Morador do Bairro Ellery desde 1957, ele critica a ação da população, mas cobra medidas do Poder Público.

“A situação é tão séria aqui que as vezes tem lixo até em cima do trilho. Sai político e entra político, e aqui continua horrível. Ninguém nem sabe de quem é esse espaço pra gente poder cobrar alguma coisa”, expressa o aposentado. Além de abrigar trilhos pertencente a linha Oeste do VLT, nas proximidades do espaço ainda se localizam postos de saúde itinerantes, bem como um ecoponto.

Ao demandar por explicações acerca de melhorias de infraestrutura, bem como o serviço de conservação e serviços públicos, a Prefeitura de Fortaleza declarou ao O POVO que elabora projeto de requalificação para a região, elaborado pela Secretaria Municipal da Infraestrutura (Seinf).

“Essa área deveria estar dentro da faixa de domínio, ou seja, completamente protegida e cercada para evitar interferências como o descarte irregular de lixo. Infelizmente, tornou-se um ponto de acumulação de resíduos”, pontua o secretário municipal de Infraestrutura, Samuel Dias.

Em 1988, desde o encerramento do consórcio do Trem Metropolitano de Fortaleza, o terreno situado entre as avenidas dr. Theberge e Tenente Lisboa foi cedido pela Administração Ferroviária Dnit/CE (RFFSA - URFOR) para o Metrofor para dar continuidade ao projeto do VLT.

De acordo com o secretário, estava prevista pela Prefeitura a construção de uma praça e urbanização para a entrada do bairro Álvaro Weyne.

“Concluímos a elaboração do projeto em 2023 e submetemos ao Metrofor, declarando que não haveria impacto no atual funcionamento da linha. Qualquer alteração futura que o Metrofor deseje fazer na área pode ser facilmente incorporada. E ele recebeu bem todas as propostas”, explicou.

“Além do parque urbano, propomos alterações no tipo de pavimento e no fluxo de tráfego na área ao redor. Há ainda uma edificação antiga, remanescente da época da antiga RFFSA, que seria preservada. O nosso plano previa ”, detalha.

Conforme a Seinf, a entrega do Parque Urbano do Álvaro Weyne estava prevista para o final de 2024. Já o investimento total da obra seria de aproximadamente de R$ 8 milhões.

Samuel Dias ressalta que, no último dia 12 de março, a mobilização para as obras já havia sido iniciada na região, com a instalação do canteiro e a montagem dos tapumes. A Polícia Metroviária, no entanto, supostamente teria ido ao local e exigido a retirada imediata do material.

A justificativa do Metrofor, sistema vinculado a Secretaria de Infraestrutura do Ceará (Seinfra), foi a existência de planos para a implantação de uma linha de metrô subterrânea no local, que tomaria o lugar da já existente linha Oeste do VLT.

Para Samuel Dias, a negativa à obra para a construção de uma linha subterrânea é incoerente. “A gente sabe o tempo que dura essas coisas. As obras da Linha Leste, por exemplo, foram iniciadas 11 anos atrás. Essa de agora não há nenhum vislumbre de quando vão ser concluídas, nem começaram ainda”, pontuou o encarregado pela Seinf.

Projeto Metrofor Linha Oeste

Pelo lado do Governo do Estado, Edilson Aragão, Diretor de Desenvolvimento e Tecnologia do Metrofor, argumenta que já estava em desenvolvido um projeto a nível estadual com o objetivo de requalificar as áreas ao redor da Via Ferroviária da linha Oeste.

“A princípio, nosso foco seria a construção de um Corredor Verde. Assim, íamos fazer a remoção desses muros de segregação com a comunidades, substituindo por pavimentação de bloquetes, mas ainda com sistema de VLT”, explica o diretor.

Conforme o gestor, o projeto conceitual do Corredor Verde chegou a ser apresentado, em 2023, à Secretaria de Infraestrutura do Estado, ficando pendente a aprovação da Pasta. “Esse projeto se integra perfeitamente ao plano atual da Prefeitura de Fortaleza. No entanto, ao realizarmos essa modernização, teríamos que acabar demolindo parte das obras que a Prefeitura iria realizar”, continua Edilson Aragão.

A modernização da Linha Oeste com o Corredor Verde estaria orçado em aproximadamente R$ 250 milhões, sem uma data prevista de início ou conclusão da intervenção.

Metro subterrâneo linha Oeste

No entanto, segundo o Metrofor, um novo projeto foi pensado já em 2024 para o local: a eletrificação da linha Oeste — ou seja, a transição de VLT para linha de metrô subterrânea. A iniciativa seguiria o mesmo modelo da Linha Sul e da Linha Leste, atualmente em construção.

“Essa linha seguiria o mesmo trajeto que percorre atualmente, porém seria subterrânea. Ela operaria no sentido Oeste-Leste e se conectaria à linha Leste, cuja construção está sendo retomada até o Papicu”, continua Edilson Aragão.

O gestor público ressalta que, diferentemente do projeto Corredor Verde, a construção da linha subterrânea inviabilizaria, pelo menos neste momento, a construção da Praça pela Prefeitura de Fortaleza.

“O método construtivo seria o destrutivo, ou seja, toda a faixa da linha metroviária existente naquela área seria escavada para a construção do túnel”, pontua Aragão, que afirmou que não seria necessário o processo de desapropriação de imóveis na região.

O processo envolveria a remoção da linha existente, escavação, construção das paredes diagragma Muro vertical de concreto armado para contenção laterais, seguida pela construção da laje de fundo, finalizando com a laje superior.

“Posteriormente, essa parte superior seria reposta e, então, toda a faixa seria destinada para utilização da comunidade, incluindo para a construção de praças, por exemplo”, disse. A estimativa é que a da linha de metrô Oeste reduziria o tempo de espera entre cada veículo para entre 6 a 9 minutos.

Conforme o Metrofor, a construção da linha subterrânea está orçada em R$ 4,5 bilhões.

Devido à sua natureza permanente e além de alto custo, o Metrofor indica que a gestão estadual busca auxílio de um financiamento federal, “junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ou com a iniciativa privada”, esclarece.

Em relação a um prazo para a conclusão e entrega da linha, foi indicado que não seria possível a declaração até que um financiamento seja obtido.

Negociações entre Governo e Prefeitura

De acordo com o Metrofor, o projeto do Corredor Verde foi interrompido para dar segmento à construção da linha subterrânea. Contudo, ambos continuam à disposição da vontade do Governo do Ceará.

“O Governo está buscando financiamento. Se não conseguirmos o investimento para transformar a linha Oeste em metrô, é possível que o próprio Governo, com a ajuda do Governo Federal, possa realizar a modernização do VLT e de toda aquela área”, declara Edilson Aragão

O diretor reconhece a situação complicada entre as gestões municipal e estadual.

“Se liberarmos a obra da Prefeitura e, posteriormente, conseguirmos o financiamento no meio ou final do ano de 2024, a decepção da comunidade será muito maior, pois teríamos que destruir tudo o que foi feito até então”, conclui o encarregado pelo Desenvolvimento e Tecnologia do Metrofor.

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