Testemunhas dizem que vendedor foi morto na Praia de Iracema com as mãos algemadas

Familiares e testemunhas denunciam que Taian estava algemado com as mãos para trás quando foi baleado. Polícia divulgou que homem teria sido morto ao tentar roubar arma de policial

O vendedor ambulante Taian Fé Nogueira da Costa, de 27 anos, foi morto em decorrência de uma ação policial na Praia de Iracema, em Fortaleza, na madrugada dessa terça-feira, 12. A família e testemunhas contestam a versão policial e denuncia que o vendedor foi executado enquanto estava com as duas mãos algemadas para trás. A vítima foi baleada e morreu em uma unidade de saúde. O velório acontece na manhã desta quarta-feira, 13. 

Em nota, a Polícia Militar havia divulgado que o rapaz tentou tomar a arma de um policial e que os dois entraram em luta corporal. A companheira de Taian, Raíssa Aquino, de 27 anos, diz que testemunhou a morte e que o vendedor estava algemado.

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Segundo ela, Taian tentou fugir da abordagem e estava no mar, algemado, quando foi baleado pelas costas. O agente de segurança teria desferido quatro tiros contra o ambulante, no entanto, alguns foram de raspão e um o atingiu. 

Amigos e clientes da vítima, que também foram revistados pela Polícia pouco antes da morte de Taian, contam que o clima era de confraternização. Segundo um deles, que preferiu não se identificar, alguns já tinham voltado a sentar à mesa após o procedimento de revista. Ele afirma que os policiais não acharam nenhuma droga ilícita nos pertences das testemunhas, apenas tabaco.

Os outros policiais presentes na abordagem também pareciam tranquilos, de acordo com a testemunha. Quando comunicaram sobre o mandado de prisão de Taian, ele teria ficado nervoso, afirmado que não sabia da determinação judicial e pedido que chamassem um advogado.

A situação escalou quando Taian correu em direção ao mar. A testemunha diz que a policial presente na composição teria gritado para o colega não atirar. “O cara correu algemado, ele não é peixe para conseguir nadar com as mãos para trás. Poderia só ter imobilizado”, diz a testemunha.

Conforme a descrição de Raíssa, após os tiros, o policial teria arrastado o rapaz, baleado, de dentro da água para a faixa de areia. "Ele pegou como se traz um bicho e jogou na areia. Depois que as pessoas do entorno começaram a falar, eles (policiais) abriram uma algema, a primeira algema foi aberta na areia. Depois o policial me empurrou para retirar o resto da algema do meu marido. Tem vídeo e tem provas", aponta.

Raíssa afirma que os dois estavam trabalhando nos quiosques e preparavam churrasquinho para os clientes quando houve a abordagem. "Estávamos trabalhando, a gente tem documentação da Prefeitura no nosso nome, depois de muitos anos trabalhando nesses quiosques juntos, desde 2016, para vir um policial despreparado e vir executar."

Taian deixa um filho de 4 anos. "Era um pai de família que todos os dias acordava cedo para deixar o filho na escola e ir à barraca [na Praia de Iracema]. As câmeras podem mostrar o horário que a gente chegava e saía", diz a companheira.

Raíssa afirma que o marido foi retirado do mar em convulsão e acredita que ele foi levado sem vida ao Instituto Doutor José Frota (IJF), no Centro de Fortaleza. "Fui com os policiais na viatura junto com meu marido morto. Fui com os mesmos policiais que mataram meu marido. No caminho eles não conseguiam falar nada, pois sabiam que tinham tirado a vida de um rapaz pai de família", descreve.

Velório e sepultamento 

O velório acontece na Praia de Iracema durante esta quarta-feira, 13, e o sepultamento será realizado na quinta-feira, 14, no cemitério Memorial Sol Poente, em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza. A família de Taian, que é do Pará, chega nesta quarta ao Ceará para o velório. 

Raíssa Aquino e o companheiro Taian Fé, ambos de 27 anos, moravam no Ceará há sete anos. Os dois são do Pará e passaram a residir em Fortaleza no ano de 2016.

Eles montaram um quiosque na Praia de Iracema. Produziam e comercializavam lanches e churrasquinho. O espaço funcionava nos períodos da manhã, tarde e noite. Do relacionamento do casal nasceu um menino, que hoje tem 4 anos.

"O amor da minha vida se foi e deixou um bebezinho. E eu vou tirar forças de algum lugar e vou dar muita educação para ele. Esse crime não pode ficar impune, como se nada tivesse acontecido. Não tem como revidar com as mãos para trás", diz Raíssa.  

O que diz a PMCE sobre a morte na Praia de Iracema

A nota da Polícia Militar do Ceará (PMCE) afirma que um homem de 27 anos, com mandado de prisão em aberto por roubo, reagiu a uma abordagem policial e entrou em luta corporal com um policial. De acordo com a corporação, o suspeito foi ferido por um disparo ao tentar tomar a arma do agente de segurança. 

"A composição solicitou uma ambulância, mas por caráter de urgência e necessidade, se adiantou no socorro e levou o suspeito ferido junto da companheira na viatura policial até uma unidade hospitalar, onde o indivíduo chegou com vida, mas não resistiu", divulgou. 

Conforme a PMCE, um grupo foi abordado na Praia de Iracema, por volta de 0h10min. A equipe de policiais apreendeu drogas com os suspeitos e durante uma consulta de antecedentes criminais foi verificado que contra o rapaz de 27 anos havia um mandado de prisão em aberto por roubo, emitido pela Vara de Execução Penal da Região Metropolitana de Belém do Tribunal de Justiça do Pará. 

A ocorrência foi encaminhada ao 2º Distrito Policial, responsável pela área. 

Atualizada às 12h51min

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