Fortalezenses se dividem entre lamentar e aprovar a demolição do edifício São Pedro
Cerca de 16 pessoas estavam morando no antigo Iracema Plaza Hotel, que estava em estado avançado de deteriorizaçãoA demolição do Edifício São Pedro, prédio icônico localizado na Praia de Iracema com 71 anos de história, teve início nesta terça-feira, 5. Os trabalhos de derrubada ocorrem apenas um dia após o anúncio feito pelo prefeito José Sarto (PDT) e devem seguir por 3 meses.
Orçado em cerca de R$ 1,7 milhão, a demolição divide opiniões entre os moradores de Fortaleza, que se dividem entre o sentimento de pesar e a convicção de que a mudança trará melhoras para a orla da Capital.
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No início da manhã, na esquina da avenida Historiador Raimundo Girão com a rua dos Arariús, o impacto das máquinas de construção trabalhando já ecoava. Pássaros voavam assustados diante da novidade e diversos curiosos se achegavam ao local para tirar fotos e se despedir de um dos prédios mais icônicos da Capital.
O Edifício São Pedro foi inaugurado em 1951, sendo o primeiro a ter mais de três andares na Praia de Iracema. É o que explica Kataly Araújo, 44, que trabalha como guia de turismo. Atuando há mais de oito anos no ramo, ela já tinha como parte da rotina levar turistas para conhecer a fachada do antigo Iracema Plaza Hotel.
“O Iracema Plaza foi inspirado no Copacabana Palace do Rio de Janeiro. Ele era um prédio luxuoso, onde pessoas famosas se hospedavam. Por conta da sua arquitetura diferenciada, os turistas sempre se interessam por ele”, explica.
Triste pela demolição, Kataly foi até as proximidades ao edifício para se despedir. “É realmente a perda de um dos cartões postais da Praia de Iracema e de um dos poucos prédios que restavam de uma Fortaleza antiga”, comentou o guia.
Para o músico e jornalista Dalwton Moura, a terça-feira que marca o início da demolição do São Pedro é também um dia de velório. “A gente sabe o que o Poder Municipal coloca sobre os riscos e que agora a estrutura não tem mais retorno. Existem laudos que atestam isso e nós não temos condição de discutir esses laudos, não é nossa expertise. O que a gente questiona é: por que se deixou chegar essa situação?”, indaga.
Morador de Fortaleza e frequentador da Praia de Iracema, há anos Dalwton Moura questiona através da arte sobre o que poderia ser feito no local. Em 2018, ele e o também músico Rogério Franco lançaram o álbum "Futuro e Memória". Com a colaboração de mais de 40 artistas, grande parte de Fortaleza, o disco conta com uma identidade visual baseada no São Pedro.
“Enfrentamos desafios consideráveis quando se trata de lidar com temas como identidade e a valorização da nossa política cultural e de nossos artistas. Por isso, a presença do edifício São Pedro na capa do disco é uma metáfora visual, que busca expressar a complexidade das relações entre futuro e memória", explica o músico fortalezense.
Com lágrimas de pesar nos olhos, ele expressa que, caso intervenções fossem realizadas a tempo, Fortaleza poderia contar com um novo equipamento cultural. “O São Pedro poderia ter se transformado em um centro cultural ou um equipamento de turismo, como um museu. Poderia ser o Centro de Referência da Música do Ceará, algo pelo qual lutamos tanto para que seja construído”, diz Dalwton.
Há também quem aprova a demolição do São Pedro. Morando em Fortaleza há dois anos, a paraibana Renata Geylma, de 26 anos, pontua problemas urbanos em decorrência da degradação do prédio.
“Ele era muito antigo e estava muito deteriorado, o que era um perigo inclusive para quem passava por perto. Também tinha pessoas que se atreviam a entrar, inclusive para fazer coisas ilícitas ou para morar. Como é uma estrutura velha, acho mais interessante que aproveitem o espaço e construam um equipamento turístico”, comenta.
De acordo com a Secretaria de Direitos Humanos e Desenvolvimento Social de Fortaleza, 16 pessoas estavam utilizando o espaço como moradia. Com a desapropriação do espaço, oito pessoas se interessaram em receber auxílio de Aluguel Social. O restante, no entanto, optou por retornar a situação de rua.
Equipes da Guarda Municipal também estão no entorno do prédio para evitar a entrada no local, onde acontecerá o processo de demolição.
Na década de 1980, o Edifício São Pedro encerrou as atividades hoteleiras e passou a ser apenas residencial. Philomeno Gomes é sócio majoritário do prédio. Em entrevista à rádio O POVO CBN, ele argumenta que nos últimos 15 anos tem buscado soluções para o edifício .
“Sempre nos deparamos com diversos problemas, como o tombamento e depois desapropriação e, mais recentemente, conflitos com alguns outros proprietários. Agora, a Prefeitura decidiu intervir, considerando o elevado risco que enfrentamos devido às intensas chuvas em Fortaleza”, conta, também mencionando que a intervenção será positiva para a Praia de Iracema, atualmente passando por revitalização.
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