PMs teriam matado dois homens em vingança contra morte de policial no Carlito Pamplona

Crime teria sido praticado por um "grupo de extermínio" que também extorquia criminosos e comerciantes da área do Pirambu, afirma o MPCE

19:49 | Fev. 25, 2024

Por: Lucas Barbosa
Fachada do 5º Batalhão da Polícia Militar, no Centro, onde funciona o presídio militar (foto: mauri melo)

Dois homens teriam sido mortos por policiais militares nos bairros Carlito Pamplona e Cristo Redentor, em Fortalezacomo vingança pelo assassinato do soldado Bruno Lopes Marques, crime ocorrido no último dia 12 de fevereiro. É o que consta no pedido de prisão preventiva do cabo Igo Jefferson Silva de Souza, deferido nessa quarta-feira, 21.

A defesa do PM, feita pelo advogado Germano Palácio, afirma que a prisão dele foi baseada em conjecturas, meras ilações, sem uma prova real dos fatos acusatórios". Ainda foi destacado que o policial realizou "inúmeras prisões naquele bairro" e tem "relevantes serviços prestados à sociedade em combate à criminalidade".

De acordo com o Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas, do Ministério Público do Estado do Ceará (Gaeco/MPCE), existem “fortes indícios” de que o cabo Igo, acompanhado de outros PMs, teriam executado Arhur dos Santos Rodrigues, crime ocorrido no Bairro Carlito Pamplona; e Márcio Wallace de Sousa Matos, executado no Bairro Cristo Redentor.

Ambos os episódios ocorreram na madrugada do dia 15 de fevereiro. Um outro homem ainda teria sido ferido na ação.

Ainda segundo o Gaeco, a acusação contra o PM surgiu, inicialmente, a partir de uma denúncia anônima. Também surgiram informações de que o crime havia sido cometido utilizando um carro de cor branca, modelo Hatch — inclusive, um vídeo do veículo transitando na região foi obtido por agentes da Coordenadoria de Inteligência (Coin), da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS).

A participação dos PMs nos crimes também foi confirmada à Coin por um “colaborador não identificado”, afirmou o Gaeco.

Além dos homicídios, o MPCE citou no pedido de prisão de Igo a suspeita de que ele atua em “um grupo de extermínio que, além de executar inimigos, também extorquia criminosos e comerciantes da área do Pirambu”.

Como prova disso, o MPCE faz menção a provas obtidas durante uma operação denominada Embrionária. Entre elas, está um áudio em que Igo aparece conversando com o soldado Bruno Lopes Marques sobre traficantes da região do Pirambu e como localizá-los para, em seguida, "abordá-los ilegalmente".

“Em troca das informações repassadas pelo CB PM Igo ao SD PM Marques, o cabo pede uma contrapartida em dinheiro. Além desses diálogos, no dia 08/03/2023 foi identificado um (diálogo) sobre a execução de um indivíduo conhecido como “Chico’”, consta na decisão que decretou a prisão preventiva de Igo.

“Ressalta o Gaeco/MP que, por tudo que foi relatado aqui, se faz necessária a prisão preventiva tanto para evitar um derramamento de sangue na região do Pirambu e adjacências, entre traficantes e o grupo dos policiais militares, além de preservar a integridade física do próprio cabo Igo, já que se tem notícia de que o mesmo foi alvo de disparos de arma de fogo na madrugada do último sábado”, afirmou na decisão a juíza Christianne Braga Magalhães Cabral.

Igo continua internado no Instituto Dr. José Frota (IJF) após ser baleado no maxilar no último dia 17 de fevereiro, ocorrência em que outros cinco PMs também ficaram feridos. O POVO apurou que o grupo estava na região da Barra do Ceará em busca de faccionados que teriam feito ameaças contra eles.

O cabo já havia sido alvo de uma operação deflagrada em novembro passado que visava um outro grupo de PMs suspeito de crimes como agiotagem, extorsão e comércio ilegal de arma de fogo. Ele, porém, respondia à acusação em liberdade.

Posicionamento da defesa do PM 

Ao O POVO, o advogado Germano Palácio afirmou que somente teve acesso aos autos do pedido de prisão dois dias após o cumprimento das ordens judiciais, mas sem acesso às interceptações. "O que entendemos de logo uma violação aos direitos do Cabo Igo quanto a ampla defesa", afirmou. 

"Quanto a prisão propriamente dita, informamos que é baseada em conjecturas, meras ilações, sem uma prova real dos fatos acusatórios, não tendo na nossa visão motivação idônea no deferimento da prisão, onde ressaltamos que uma prisão preventiva somente deve ser decretada na estrita hipótese da lei, não sendo razoável determinar a privação da liberdade por conjecturas, e no presente caso, ressaltamos, ainda, que o mesmo foi preso logo após procedimento cirúrgico grave, no qual o mesmo encontra-se internado, fazendo uso de alimentação por sonda inclusive", disse o advogado.

Ele ainda ressaltou acreditar a improcedência das acusações será demonstrada e que a "Justiça possa prevalecer".