Após duas mortes, Uece promete reforçar segurança no campus Itaperi

Unidade teve um incêndio e duas mortes nos últimos meses. Para diminuir sensação de insegurança, Reitoria prevê aumentar vigilância eletrônica e urbanizar lagoa do campus Itaperi

15:15 | Fev. 22, 2024

Por: Kleber Carvalho
Segunda fase do vestibular da Uece (foto: FERNANDA BARROS)

A reitoria da Universidade Estadual do Ceará (Uece) anunciou que deve reforçar as medidas de segurança no campus Itaperi, em Fortaleza, incluindo aumento do policiamento e a instalação de novas câmeras. Estudantes relatam apreensão com o retorno das aulas devido às duas mortes ocorridas na unidade, em pouco mais de cinco meses. Além disso, incêndio de grandes proporções também foi registrado no local, no último dia 15 de fevereiro. 

O primeiro dos casos foi a de um menino de 7 anos, Heitor Viana, que foi encontrado morto em uma lagoa do campus Itaperi no dia 7 de setembro último.

A criança tinha Transtorno do Espectro Autista (TEA), não se comunicava verbalmente e havia fugido do carro em que estava com a mãe e a irmã, enquanto a responsável ia ao banco.

Segundo laudo da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), a criança foi vítima de uma asfixia gerada por afogamento. O caso gerou a revolta dos discentes à época, que dias depois realizaram uma manifestação em frente à reitoria do campus para cobrar melhorias na segurança do local.

Nessa quarta-feira, 21, um homem foi encontrado morto na lagoa do campus Itaperi. O caso é investigado como homicídio, e a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) apontou que o homem teria sido lesionado com um objeto perfurocortante.

O reitor da Uece, professor Hidelbrando dos Santos, lamentou a morte do colaborador da Universidade e destacou que aguarda a conclusão da investigação da Polícia.

“Como vice-reitor e reitor são mais de 11 anos, e esse é o primeiro registrado aqui [no campus Itaperi] durante esse período. É lamentável tudo o que ocorreu”, pontua.

Hidelbrando lista algumas melhorias planejadas pela Universidade para diminuir a sensação de insegurança no local. A primeira delas é um projeto para aumento da vigilância eletrônica no campus Itaperi, que deve ser licitado ainda em 2024.

A segunda medida é a urbanização da lagoa da Uece, que também deve ser iniciada até o fim do ano. Segundo o reitor, o projeto tem o objetivo de garantir mais segurança para os estudantes e aproximar a comunidade civil e universitária.

“A lagoa é muito utilizada pela comunidade do entorno, não somente pela comunidade universitária e acadêmica. Ela é uma área de atividades esportivas, de contemplação, e nós vamos trabalhar agora para que a gente consiga desenvolver e implementar um projeto de urbanização da lagoa que melhore essa relação da lagoa com a comunidade, que torne a lagoa um espaço efetivamente de uso coletivo da nossa comunidade interna e externa”, explica o reitor.

Plano de combate a incêndios na Uece

O incêndio de grandes proporções registrado na Uece em fevereiro destruiu todo o material armazenado no prédio da Secretaria de Apoio às Tecnologias Educacionais (Sate). Devido ao período de férias, não havia ninguém no local, mas estudantes relataram medo de novas ocorrências.

Em publicação feita nas redes sociais, alunos do Centro Acadêmico do Curso de Filosofia da Uece (Cafil-Uece) afirmaramm que as unidades Itaperi e Fátima não têm um plano de prevenção e combate a incêndios.

“Qual o preço que estamos dispostos a pagar? Quem pagará o preço pela vida de estudantes? Nenhum reitor aprendeu a ressuscitar por mais excelente que seja, nem um curso de Medicina aprendeu a dar vida aos mortos, e se essa tragédia tivesse acontecido em dias letivos?”, diz o texto veiculado no instagram.

Questionado sobre a prevenção de incêndios, Hildebrando afirmou que os campi têm um plano de combate a incêndios e que ele está sendo atualizado.

Segundo o reitor, o que ocorre é que alguns prédios mais antigos da Universidade não estão de acordo com o plano mais recente de prevenção a sinistros e devem ser incluídos na atualização.

Dentre as medidas estabelecidas para os prédios mais novos, está a presença de hidrantes nas estruturas. Conforme o reitor, o prédio acometido pelo incêndio no último dia 13 estava entre essas construções e tinha medidas de combate ao fogo, como hidrantes, mas devido à rapidez do fogo os materiais não puderam ser acionados.

Estudantes relatam que problema de insegurança é antigo

Joana da Silva (nome fictício), estudante da Uece, aponta que a sensação de insegurança é antiga e prejudica a graduação dos alunos. Ela cita que as aulas do período noturno, que deveriam ir até às 22 horas, são encerradas cerca de 40 minutos antes devido ao medo de circular no local à noite.

“Os professores só dão aula até 21 horas, 21h20min no máximo, porque eles têm medo de que aconteça alguma coisa, tanto para a gente como aluno quanto para eles como professores e para os equipamentos também. Como nosso bloco é o primeiro, assim que termina a gente sai correndo para o portão, porque não tem a mínima possibilidade de ficar andando lá dentro à noite. É muito inseguro”, diz.

Os estudantes reclamam do baixo número de guardas e da má iluminação dentro do campus. Além disso, eles alegam que os muros muito baixos e o livre acesso para qualquer pessoa de fora da Uece adentrar o local também aumentam a sensação de vulnerabilidade.

A jovem afirma que as demandas já foram levadas diversas vezes à Reitoria. “A gente pede, a gente faz paralisações, a gente faz tudo que a gente consegue fazer como estudantes, e mesmo assim nada aconteceu. Pelo menos não de 2019 para cá. Não trocaram uma luz sequer para ajudar em uma iluminação. Só contrataram seguranças extras quando teve um evento que eles contrataram seguranças terceirizados só porque tinha um alojamento no campus”, acrescenta.

Uece tem equipes de segurança privada, conforme Reitoria

Sobre a segurança do local, Hidelbrando destaca que o campus Itaperi hoje tem duas equipes de segurança que trabalham durante e após o horário de aulas. O esquema é composto por profissionais de uma empresa privada e do Batalhão de Segurança Patrimonial (BSP), da Polícia Militar do Estado do Ceará (PMCE).

Segundo o reitor, o esquema de segurança é formado por prédios com contingentes fixos ao redor de pontos estratégicos e equipes móveis, que fazem rondas 24 horas por todo o campus.

O professor também informa que a iluminação no interior do campus vem sendo melhorada desde o ano passado, com a instalação de lâmpadas LED em diversos postes e a ampliação da área de iluminação para garantir uma maior segurança aos transeuntes.

Ele descarta instalação de cercas elétricas nos muros ou revistas nas entradas da Universidade, pois "isso apenas a isolaria a comunidade em volta e transformaria o campus em um presídio”. Ainda segundo ele, a integração da Uece é fundamental para a segurança da região onde ela está situada.

“Se eu considero a Regional onde nós estamos instalados, essa [campus Itaperi] é uma das áreas mais seguras que a gente tem nesse bairro aqui. Se você pegar todos os dados policiais, tudo aquilo que é registrado como Boletim de Ocorrência, roubo, assalto, violência ou coisa parecida, quando você vai olhar os dados dentro do Itaperi, em razão da própria presença da Universidade, ela é uma área mais segura do que qualquer uma outra no seu entorno”, conclui Hildebrando.

O POVO solicitou à SSPDS os dados referentes à violência em toda a Secretaria Regional 8, onde fica o bairro Itaperi, e aguarda resposta.