Carro roubado pode ser o "fio da meada" na investigação da execução de PM no Grande Pirambu
Cinco dias após a morte do Soldado Marques, cinco policiais militares foram baleados no Grande Pirambu. Carro teria sido abandonado em área diferente para atrapalhar investigação
18:56 | Fev. 19, 2024
O automóvel usado por criminosos na execução do policial militar Bruno Lopes Marques, de 27 anos, foi roubado de um motorista de aplicativo no dia 3 de janeiro na Lagoa Redonda, em Fortaleza. A rota desse carro pode ajudar o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) a elucidar a execução do policial militar. O crime ocorreu na segunda-feira, 12, no bairro Carlito Pamplona (Grande Pirambu), também na Capital.
Até o momento dois suspeitos de envolvimento com a morte de Bruno foram presos. Os nomes não foram informados pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) e também não foi apontada qual a participação deles na ação.
Foram cumpridos, na manhã do domingo, 18, sete mandados de busca e apreensão e dois mandados de prisão temporária. Conforme o diretor do DHPP, Ricardo Pinheiro, além dos dois presos, a Polícia apreendeu dois adolescentes com munições, que não teriam ligação direta com o caso. Foram apreendidas 800 munições.
O soldado Marques estava de folga em um estabelecimento comercial jogando cartas com colegas quando foi atingido por mais de 20 tiros e morreu no local. Cinco dias após a ocorrência, outros cinco policiais militares, também de folga, foram baleados no bairro Cristo Redendor (Grande Pirambu). Não foram informadas as circunstâncias dessas tentativas de homicídios contra eles.
A investigação conduzida pela delegada da Polícia Civil do Ceará, Claudia Guia, que é titular da 11ª Delegacia do DHPP apontou que na execução do soldado Marques existiram três séries de ações. A primeira foi de planejamento, a segunda de execução e a terceira uma ação posterior ao crime no Carlito Pamplona, onde os responsáveis tentaram retirar o veículo usado na ação para não chamar atenção da Polícia.
Carro, blusa e vídeo: provas ou tentativa de induzir investigação ao erro?
Pelo menos três situações estão sob verificação da equipe do DHPP. Uma delas é sobre o carro usado no crime. A outra situação é sobre a blusa com a foto do traficante morto no Rio de Janeiro, deixada na entrada do estabelecimento onde houve a execução de Marques. Na terceira situação, um vídeo que surgiu nas redes sociais mostra o policial filmado no bar.
Conforme a delegada Cláudia Guia, o vídeo não é do dia da morte de Marques e teria sido gravado por amigos dele em um grupo de jogos.
A titular do DHPP afirma que ainda também não é possível afirmar que esse material foi plantado para causar "distrações", mas que tudo que está chega sobre o caso é checado para comprovar ou não a veracidade.
A delegada afirma que após a morte de Marques, a área do Grande Pirambu, que abrange bairros como Carlito Pamplona, Pirambu e Cristo Redentor, teve o policiamento reforçado. No intuito de não colocar a comunidade dos criminosos em evidência, o carro foi retirado da área abandonado na Barra do Ceará. A delegada não informou o nome da comunidade para que a investigação não fosse prejudicada.
Cláudia Guia repassou que o veículo foi roubado no dia 3 de janeiro de um motorista de aplicativo e que o autor desse roubo se passou por cliente. O automóvel foi solicitado em Messejana e o criminoso anunciou o assalto no bairro Lagoa Redonda. Durante uma semana, antes da morte de Marques, o veículo, que foi adulterado, rodou na comunidade.
"Carro trafegava na comunidade uma semana. Saiu da comunidade e após o crime retornou a comunidade. Várias viaturas estavam na área e ficaram com receio de manter o veículo dentro da comunidade. Isso está comprovado e a gente espera avançar nas investigações", aponta.
A titular da 11ª delegacia classifica essa investigação como complexa e afirma que, neste momento, não se pode afirmar se a morte de Marques está ligada ao caso dos cinco policiais baleados.
Blusa tinha fotografia de traficante morto no Rio
Do lado de fora do estabelecimento onde o soldado foi morto foi encontrada uma blusa com a fotografia de um traficante morto no Rio de Janeiro: o Biú. A morte desse traficante teria ocasionado um salve para que os comércios do Pirambu fechassem as portas. O Comando Vermelho (CV) tentou decretar luto no bairro e causou prejuízo para os proprietários de estabelecimentos da área. O corpo do traficante foi levado do Rio de Janeiro para o Ceará, onde foi velado e sepultado.
Inicialmente, em razão da blusa, foi ventilada a possibilidade da morte de Marques ser a uma retaliação em razão da morte do traficante Biú. No entanto, a delegada afirma que nesta fase da investigação não é possível afirmar que a execução é ligada a Biú.
Homicídio e tentativa de homicídio contra policiais: "É inadimissível"
O subcomandante geral da Polícia Militar do Ceará, coronel Vinícius Vineimar Rodrigues, informou, durante coletiva na SSPDS, que considera inadmissível o homicídio e as cinco tentativas de homicídios contra agentes de segurança de folga e afirma que a determinação do comando geral da PMCE e da SSPDS é de apoiar a tropa.
Em relação ao estado de saúde dos feridos, três policiais baleados receberam alta e dois seguem internados, um deles em razão de lesões na boca provocadas pelos tiros e outro que foi atingido no abdômen.
Conforme o subcomandante geral da Polícia Militar, todos estão fora de risco de morte. Os agentes de segurança que receberam alta estão se recuperando em casa, afirma o oficial.
Um dos policiais baleados foi alvo de uma operação contra crimes de extorsão, homicídio, tráfico de drogas ocorridos na região da Barra do Ceará. A operação do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) e da Controladoria Geral de Disciplina (CGD) ocorreu em novembro de 2023.
Sobre a nota que foi divulgada pela SSPDS no dia do crime contra os agentes de segurança, que descrevia os policiais vítimas como investigados, o subcomandante ressaltou que a corporação está preocupada, atualmente, em descobrir quem são os autores da morte e também das cinco tentativas de homicídio.
O subcomandante da PMCE aponta que a morte de agentes de segurança é uma situação grave e que não é comum. "Psicólogos e assistentes sociais estão dentro do quartel conversando com a tropa", aponta.
O reforço policial, conforme o oficial, não tem previsão de ser finalizado. São agentes do Policiamento Ostensivo Geral, Comando de Policiamento de Choque, Comando de Policiamento de Rondas e Ações Intensivas e Ostensivas (CPRaio), Comando de Prevenção e Apoio às Comunidades (Copac), Batalhão de Polícia de Meio Ambiente (BPMA), Batalhão de Polícia de Trânsito Urbano e Rodoviário Estadual (BPRE), Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais (Core), além da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas, DHPP, Departamento de Inteligência Policial e 7º Distrito Policial.