Feira orgânica no Parque Adahil Barreto chega a 100ª edição

A feira é uma opção de passeio ao ar livre e consumo de produtos saudáveis e sustentáveis

A Feira Agroecológica da Área Adahil Barreto, que acontece nas manhãs de sábado no Parque Estadual do Cocó, em Fortaleza, chega a sua 100ª edição. Ela começou a ser realizada ainda em 2021 e acontece quinzenalmente, aos sábados, das 7h às 12h.

Reunindo produtores locais e feirantes, a feirinha oferece mais de 40 tipos de produtos entre hortaliças, folhagens, frutas e leguminosas. A programação é uma boa escolha para aqueles que apreciam passeios ao ar livre e buscam o consumo de produtos saudáveis e sustentáveis.

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Há mais de um ano, visitar o espaço é uma das primeiras tarefas do dia para Isis Terra, 41. Sempre interessada em consumir alimentos saudáveis, o interesse pelos produtos orgânicos surgiu, principalmente, quando ela estava grávida da pequena Lisa Marie, hoje com quase um ano de idade.

“Durante toda a gestação, eu e meu esposo passamos quase todas as manhãs de sábado aqui. É uma qualidade totalmente diferente dos mercados comuns. Então, prefiro reservar o sábado para vir buscar produtos diretamente dos produtores locais, o que também ajuda as famílias”, comenta a cliente e frequentadora assídua.

Isis explica que, apesar de alguns dos alimentos e produtos apresentarem um valor um pouco maior do que os vendidos em comércios convencionais, a diferença é equilibrada quando se tem em mente os benefícios à saúde.

Com olhos atentos à diversidade de cores e informações da feira, Lisa aproveita o passeio no conforto da bolsa canguru colada ao corpo da mãe. O acessório deixa Isis livre para carregar sacolas cheia de legumes, verduras e frutas.

“Para a minha filha, que ainda é bem pequena, só escolho coisinhas daqui. Além disso, é um programa de família. Agora que ela está crescendo, conseguimos aproveitar o parque também. Isso acaba nos aproximando mais”, relata.

Quem vem comercializar produtos na feira, muitas vezes, vem de longe. Um dos comerciantes que sempre marca presença nas edições é Ramom Gomes, 37. Vindo de Aratuba, há 120 km Fortaleza, ele explica que durante a pandemia, ele e os irmãos voltaram ao interior.

Vendo que o período de quarentena demoraria mais que o esperado, a família decidiu produzir os próprio alimentos para evitar compras externas.

“Surgiu a oportunidade de produzirmos para uma empresa. Posteriormente, nos tornamos independentes. Hoje, o foco do nosso sítio, que é certificado para produção orgânica, está direcionado para a feira aqui no Parque Cocó”, conta o feirante.

Vendendo produtos de acordo com a estação do ano, Ramom explica que, como estamos na temporada de chuvas, o “inverno cearense”, há uma certa redução na produção de alguns produtos.

Contudo, a banca no Parque ainda comercializa brócolis, cenouras, repolho, e trabalhamos com folhagens em geral, como rabanete, cebolinha, por exemplo. Além da feira no Cocó, a família ainda vende produtos via delivery pelo instagram @cestadconde.

Entre os itens disponíveis e mais procurados no local estão a banana prata, por R$ 5 o quilo; a cenoura, vendida a R$ 5 o maço, e a alface por R$ 3.

Vinda de uma prática agrícola que atravessa gerações, Isaele Viana, 34, viu na produção de orgânicos um meio de melhorar suas condições financeiras e de saúde.

Natural de Capistrano, a 98 km de Fortaleza, ela atua com o plantio há mais de dez anos no próprio quintal de casa. Contudo, no início, não atuava com agricultura sem agrotóxicos. Segundo ela, a prática não-orgânica a fez adoecer.

“Há sete anos tive um problema de saúde relacionado ao uso de agrotóxicos. Fiquei internada e, quando tive uma melhora, decidi começar a produzir sem agrotóxicos”, relata a feirante que hoje conseguiu reduzir a quantidade de remédios.

Isaele explica que já tem clientes fiéis. “Quando eles ficam felizes, também ficamos. Esse trabalho é muito gratificante. Além daqui, estamos tendo contato com a terra, e trabalhar nisso é como uma terapia”, conclui a produtora.

Além de ser um local para abastecer a despensa da semana, a feira se transforma em uma excelente opção de passeio para toda a família, amigos e até mesmo para os pets. A cadelinha Babi, por exemplo, adora acompanhar o tutor Nilo Sérgio nas compras da semana.

“Sempre levamos nossa cachorrinha para o passeio. Em geral, compramos o que é da estação, mas gostamos mesmo de levar banana, maracujá, abacate, abacaxi, tomate e ovos caipiras”, diz Nilo, que destaca ainda produtos veganos, como bolos e salgados.

“Hoje ainda vou pedir um caldo de cana, que não pode faltar”, conta ele, rindo. Para Nilo, os preços de produtos orgânicos da feira são vantajosos.

“Se você realmente comparar os preços com os supermercados, não é tão mais caro assim. É melhor investir em alimento, do que em remédio. E também estamos ajudando as famílias da agricultura orgânica, que trabalham em uma outra dimensão de produção e consumo, diferente da lógica em que estamos inseridos hoje”, aponta o professor.

Ressocialização pela agricultura de orgânicos

Na feira de orgânicos do Adahil Barreto, uma das barracas que mais chama a atenção é comandada por policiais. Com atuação há quase dois anos no Parque, o projeto “Mãos a Horta”, realizado pela Secretaria da Administração Prisional do Estado (SAP), utiliza o espaço para comercializar produtos produzidos por detentos da Unidade Prisional Irmã Imelda Lima Pontes, em Aquiraz.

Na manhã deste sábado, 17, estavam no local a dupla de policiais penais André Alcantara e Ari Sousa. De acordo com eles, os produtos vendidos no Parque são fruto do trabalho dos detentos na horta dentro da penitenciária. Além de proporcionar oportunidades de reintegração à sociedade.

“A participação dos presos na horta também está ligada à remissão de pena. A cada três dias de trabalho, os detentos podem ter um dia a menos de sentença”, explica André Alcantara.

O policial conta que os presos passam por um curso técnico básico de Agricultura. “Mas muitos já têm conhecimento prévio de agricultura, já que a penitenciária conta com um público grande de idosos”, acrescenta o agente penitenciário.

A Unidade Prisional Irmã Imelda Lima Pontes ainda é voltada para pessoas com deficiência (PCDs) e membros da comunidade LGBT+. Os lucros dos produtos vendidos na banca, como cheiro verde, capim santo, batata doce, pimentão e pimentinha, são revertidos para a manutenção do projeto.

A feira do Parque Adahil Barreto é uma realização da Fundação Cultural Educacional Popular em Defesa do Meio Ambiente (Cepema) e Rede EcoCeará. Rafael Tomyama, coordenador da feira, conta que, apesar de Fortaleza contar com outras iniciativas voltadas para a comercialização de produtos orgânicos, a feira do Cocó destacou devido à combinação de alguns fatores.

“Aqui nós temos a venda direta. São produtos vindos da agricultura de famílias do Ceará e que tem a certificação de produção de orgânicos. Nós conseguimos promover uma discussão sobre a alimentação na cidade, abordando a origem dos alimentos e a presença de toxinas. De bônus, o espaço é maravilhoso”, aponta o organizador.

De acordo com os próprios feirantes é recomendável chegar cedo para aproveitar os melhores produtos do dia, fazendo pesquisas de preço e comparação dos produtos.

Por conta disso, quem preferir sair cedo de casa pode deixar para tomar café da manhã no próprio local, pois há barracas que oferecem produtos como bolo de milho e macaxeira, cuscuz, tapioca e cajuína.

SERVIÇO

Feira Agroecológica na Área Adahil Barreto do Parque do Cocó

Dias: sábados, quinzenalmente
Horário: de 7h às 12h
Endereço: Rua Major Virgílio Borba, 177, Dionísio Torres, Fortaleza

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