Parque da Lagoa da Maraponga: obras interrompidas representam insegurança para moradores

Obras no entorno da Lagoa da Maraponga abrangeriam 11 hectares. Secretarias dizem que reavaliam a viabilidade do projeto de urbanização do equipamento municipal

00:00 | Nov. 30, 0001

Por: Lara Vieira
Parque da Lagoa da Maraponga está em estado de abandono (foto: Samuel Setubal)

O Parque Ecológico da Lagoa da Maraponga, localizado na avenida Godofredo Maciel, em Fortaleza, está em estado de abandono. Em agosto de 2021, foram iniciadas obras de revitalização no local. Contudo, poucos meses após o início das intervenções, os trabalhos na Unidade de Conservação (UC) foram interrompidos. A esperança de ressignificação de um espaço visto como perigoso e mal cuidado se tornou frustração para moradores da região.

A Unidade de Conservação (UC) do Parque Ecológico da Maraponga compreende uma área total de aproximadamente 31 hectares. Apesar de ser um equipamento municipal, a Secretaria Estadual de Obras Públicas (SOP) é encarregada pelas obras.

De acordo com projeto, os serviços de revitalização no espaço compreenderiam uma porção de 11 hectares delimitados pela avenida Godofredo Maciel, rua Suíça e o condomínio residencial Parque Maraponga.

Segundo divulgado na época pelo Governo do Ceará, o projeto do parque abrangeria uma zona de arrefecimento em relação ao tráfego da avenida, com pequenas praças periféricas ao longo desta faixa.

Além das praças, o projeto contemplaria um prédio de apoio para a administração, quiosques de alimentação, quiosque policial, banheiros para os frequentadores, bebedouros, quadra poliesportiva, deck para pesca, anfiteatro, campo de futebol, playground infantil, academia ao ar livre e áreas de lazer à sombra.

No local, atualmente há sinais de serviços inacabados e equipamentos demolidos no local visto com potencial para atividades como pesca, banho, passeio de bicicleta, caminhadas, futebol, dentre outra atividades. Os moradores da região e demais pessoas que ainda frequentam o local lamentam pelo atual estado de degradação da área.

O motorista José Braga dos Santos atua realizando serviços de frete em toda a Capital. Na manhã da última sexta-feira, 2 de janeiro, ele estava na companhia da cachorrinha Nina passeando pelo Parque da Lagoa da Maraponga.

“Eu passo pela Cidade toda, mas sempre venho por essas área. Lembro que começaram a trabalhar aqui há uns três anos, e [as obras] duraram por quase um ano e depois foram embora”, diz José.

Ele comenta que nunca se arrisca em adentrar nas áreas inferiores do Parque, mais próximas da Lagoa. “Eu levo ela [a cachorrinha Nina] comigo nos fretes e paro pra levá-la pra passear, mas não me arrisco a ir para aqueles lados. Já vi pessoas que achei serem perigosas para lá, e a gente hoje não pode confiar. Também tem material que corta, e pra ela é um perigo”, conta o motorista.

A área mais próxima à avenida Godofredo Maciel é utilizada, principalmente, como local de estacionamento para carros, motocicletas e até veículos pesados, como ônibus. A quantidade de veículos, contudo, não representa maior movimentação no Parque, que se mantém majoritariamente sem transeuntes.

A visão bucólica do Parque se confunde com restos de construção e estruturas demolidas, como colunas de sustentação dos gradis quebradas, barraquinhas de alimentos e contêineres pichados, além de quiosques inacabados, muitos ainda apenas com colunas erguidas e sem teto ou o restante da alvenaria feita.

Por quase toda a extensão, há a presença de mato alto e materiais de construção corroídos pelo tempo jogados ao chão, incluindo pedras, tijolos, areia, brita e anéis de poço. Há ainda mesas e um pequeno palco com pedras também em situação de ruína, bem como quadra de futsal e campo de futebol inacabados.

Apesar da infraestrutura precária do Parque, o vendedor Antônio Gleyson, 32, não se sente intimidado em utilizar o espaço para descanso em seus momentos de intervalo do trabalho. Quando questionado sobre as obras no equipamento, o morador do bairro Maraponga chegou a se espantar. “Eu não moro aqui há muito tempo, cerca de há um ano, mas eu nem sabia que aqui estava em obras”, diz.

Ele relata que, apesar de maiores cuidados pelos órgãos públicos com o local, a Lagoa da Maraponga ainda é um ponto querido pelos moradores. “Vejo que eles vêm mais para descansar e caminhar. De noite, eles vêm comer algo nas barraquinhas que ficam na frente. É perigoso ir mais para baixo [às margens da Lagoa]. Eu mesmo não confio ir para lá”, relata o Antônio Gleyson.

O acúmulo de lixo de lixo na área, como embalagens de alimentos e garrafas plásticas, também chama a atenção. Além disso, há embalagens de preservativos e camisinhas jogadas ao chão, principalmente em áreas onde a vegetação é mais densa.

Na manhã de sexta-feira, 2 de janeiro, não foi avistado agente ou equipe de policiamento no local. Durante a visita, também havia pessoas utilizando o espaço para urinar.

Projeto de urbanização é reavaliado

Apesar da procura, não foi possível identificar alguma placa ou sinalização informativa sobre o prazo final para a entrega das obras, bem como sobre o investimento total. Da mesma forma, quando questionada, a Superintendência de Obras Públicas (SOP) não informou o valor total da intervenção. Em agosto de 2021, a SOP havia divulgado que os trabalhos estavam em fase inicial e, para isso, receberam investimentos em torno de R$ 3 milhões.

Em nota, a Secretaria de Meio do Ambiente e Mudança do Clima (Sema) e a Superintendência de Obras Públicas do Ceará (SOP), responsáveis financeira e técnica da obra de urbanização da Lagoa da Maraponga, respectivamente, informaram que o trabalho de revitalização do espaço foi interrompido porque “a empresa responsável pela obra teve seu contrato rescindido após descumprimento de prazos e cláusulas contratuais”.

O POVO questionou ainda sobre quando um novo contrato licitatório seria firmado. A SOP e a Sema responderam apenas que reavaliam a viabilidade do projeto de urbanização do equipamento municipal.

Quanto à segurança no espaço, a Polícia Militar do Ceará (PMCE) informa que o policiamento na área da Lagoa da Parangaba, em Fortaleza, ocorre por meio do efetivo do 6º Batalhão.

“Há equipes em policiamento a pé diariamente, empregados em uma base fixa, reforço de militares em serviço extra (Irso) e do policiamento do Batalhão de Polícia de Trânsito Urbano e Rodoviário Estadual (BPRE). Nas proximidades, há também reforço por meio do Comando de Policiamento de Rondas de Ações Intensivas e Ostensivas (CPRaio) e Comando de Policiamento de Choque (CPChoque)”.

A PMCE ratifica que denúncias sobre identificação e/ou localização de suspeitos de delitos na área podem ser repassadas via telefone 181. As informações são anônimas e sigilosas. De igual modo, a PMCE informa ainda estar à disposição, podendo ser acionada pelo telefone 190.