Invasão de fumaça e riscos à saúde: entenda as consequências do incêndio no Parque do Cocó

A Cidade foi tomada pela fumaça e pelo cheiro forte vindos do incêndio que atingiu o Parque do Cocó nesta quinta-feira, 18. Entenda as consequências da queimada e como ela interferiu até mesmo na coloração dos raios solares

Fortaleza foi tomada pelo cinza e pelo cheiro forte gerado pelo incêndio que atingiu o Parque Estadual do Cocó nesta quinta-feira, 18. Moradores de diversos bairros como Joaquim Távora, Aldeota e Centro relataram que a fumaça e o cheiro se fizeram presentes por lá.

Para explicar o motivo dessa ida da fumaça a outros bairros, o capitão Sócrates Souza, subcomandante na 2ª Companhia de Bombeiros do Crato, explicou que os produtos gerados pela combustão são dissipados em forma de fumaça e por ela ser mais densa que o ar, tende a subir e se alastrar com mais facilidade conforme a direção e a velocidade do vento.

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“Quando se tem mais material queimando, mais fumaça e fuligem será gerada. No caso de incêndio em vegetação, quando há fogo em vegetação ou área orgânica, há liberação de água, então parte dessa fumaça também é vapor de água. A quentura e a queimada faz desidratar e quando ele passa por esse processo de desidratação completa, ele entra em combustão e gera mais fumaça”, detalhou.

A fumaça também causou alteração na coloração dos raios solares, que ganharam a tonalidade mais amarelada deixando a Cidade em um filtro de tonalidade sépia. O professor Rivelino Cavalcante, do Instituto de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará (Labomar/UFC), explicou que quando há queimadas, aumenta a quantidade de material particulado na atmosfera.

“Esse material particulado tende a fazer essa mudança dos raios solares, ele absorve um certo comprimento de onda dos raios solares e fica com essa cor característica, normalmente é por conta disso. É tanta fumaça que ela fica com esse tom escurecido. Então, na realidade, as queimadas liberam muitas dessas partículas em suspensão, que nós chamamos de poeira”, explicou.

O professor e climatologista Alexandre Araújo, complementa dizendo que tudo tem a ver com as partículas produzidas em um incêndio como esse chegam a atmosfera.

“Na fumaça, temos a presença de fuligem – que basicamente é carbono, compostos orgânicos voláteis e essas partículas interagem com a luz solar. A fuligem absorve radiação, isso além de diminuir a quantidade de luz solar que está na superfície, como ela está absorvendo radiação, ela vai aquecer a atmosfera e mudar o comportamento dinâmico da atmosfera”, diz.

Ele conta ainda que a grande presença de fuligem pode inibir a formação de nuvens justamente por esse aquecimento na atmosfera. As outras partículas, diferente da fuligem que tem a coloração preta e absorve luz, tendem a refletir e espalhar a radiação.

“Com o espalhamento dessas partículas, vemos mudanças por exemplo no pôr do sol. Lamentavelmente, com mais aerossóis, o pôr do sol pode até ficar aparentemente mais bonito, só que essa beleza está escondendo uma realidade trágica, mas não tem a ver com temperatura, mas porque há uma modificação dos comprimentos de onda”, conta.

Inalação da fumaça traz riscos a saúde, diz médico

E a propagação da fumaça gera riscos à saúde humana pela liberação de gás carbônico e outros gases prejudiciais ao bem-estar humano. De acordo com o médico otorrinolaringologista do Hapvida, Eduardo Younes, partículas sólidas liberadas em queimadas podem provocar irritações no nariz e na garganta.

“Inicialmente, essas áreas podem ser atingidas pelas partículas liberadas através das fumaças, causando irritações, coceiras, espirros, coriza, entupimento do nariz, pigarro e voz rouca e também atingir a via aérea inferior, ou seja, a parte pulmonar, isso vai gerar na parte respiratória uma dificuldade para que se troque o oxigênio, ou seja a pessoa pode ter falta de ar ou tosse, que é muito comum”, explica o médico.

Ele detalha ainda que em algumas situações, pode agravar doenças já pré existentes, se for na via aérea superior, a rinite alérgica, causando crises além da piora levando a sinusite, que leva ao processo obstrutivo nasal e formação de secreção mais espessa.

Já na parte pulmonar pode levar ao aparecimento de pneumonia ou a piora ou início agudo ou rápido de bronquite ou asma. “Importante é entender que sim, a fumaça pode causar problemas respiratórios tanto na parte de nariz e garganta quanto na parte pulmonar”, detalhou o médico.

Eduardo diz ainda que é necessário evitar a automedicação, já que por um momento ela pode mascarar os sintomas que podem evoluir. “É sempre bom procurar orientação médica diante de situações onde possa estar nos dois extremos da vida, ou seja crianças muito pequenas e idosos. Isso pode gerar um agravamento rápido das crises respiratórias. Se necessário procure atendimento médico e ficar de olho pois as complicações podem acontecer muito rapidamente”, conclui.

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