Férias sem celular ou videogame? Como reduzir tempo de tela dos filhos
O uso de telas não é recomendada para crianças menores de 2 anos. Para crianças maiores e de forma moderada, as tecnologias podem ser empregadas em momentos em família
14:52 | Jan. 05, 2024
Durante o período de férias escolares, que segue até meados de janeiro, as crianças estão passando mais tempo em casa. Com muitos pais sem poderem recorrer às colônias de férias, por questões financeiras ou falta de disponibilidade, a tarefa de manter os pequenos sem longas exposições a telas de celulares, TVs e videogames fica ainda mais difícil. Para isso, os responsáveis podem usar a criatividade para criarem dinâmicas, seja em em casa ou até em espaços públicos.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a exposição às telas eletrônicas, por qualquer período, não é recomendada para crianças menores de 2 anos.
A psicopedagoga Thiala Amaral explica que, mesmo para crianças mais velhas, a exposição prolongada às telas causa malefícios ao “desenvolvimento, à atenção e à concentração". "Além disso, dificultam as interações sociais. Se a criança já é naturalmente introspectiva se torna mais ainda, pois as crianças deixam de interagir umas com as outras.”
“[As telas] Ainda atrapalham o sono, alteram a concentração e aumentam os riscos de dificuldade nas habilidades motoras”, comenta a psicopedagoga.
Segundo ela, passar muito tempo expostos a essas tecnologias pode prejudicar a saúde mental e a regulação emocional dos pequenos.
“As telas também podem torná-las ansiosas. É brincando, de forma coletiva, que as crianças aprendem sentimentos importantes, como lidar com a frustração e a vitória”, aponta a especialista.
Principalmente para pais que trabalham fora de casa, o uso das tecnologias como forma de entretenimento para as crianças se tornou bastante comum. Durante as férias, quando a interação social proporcionada pela escola diminui, é comum que as crianças deixem de brincar com amigos e se envolvam menos em atividades ao ar livre.
Justamente preocupada com essa questão é que Leruscka Pinheiro, 33, faz questão que o filho mantenha uma rotina mais semelhante possível da que ele vivia na creche. Até o último dia 22 de dezembro, o pequeno Heitor, de 2 anos, frequentava a creche das 7 às 16h30min. Agora nas férias, a família se esforça para que eles também tenham horários e tarefas semelhantes.
"Pela manhã, dedicamos um tempo para brincar com ele. Ele aproveita os brinquedos, e fazemos atividades com ele de desenhar e pintar, por exemplo”, conta. Depois do almoço, a mãe conta que ele tira uma sonequinha, lancha e, novamente, tem uma hora de brincadeira.
Mãe solo e técnica de enfermagem, Leruscka realiza plantões em dias alternados em um hospital. Ela tem o apoio da própria mãe, que também mora com ela.
“Ela e o Heitor criaram uma rotina especial. Todos os dias, pela tarde, eles alimentam os patos no sítio em frente de casa. Nós juntamos as sobras de alimentos do dia e damos para ele. E ele acha incrível”, aponta Leruscka.
Mesmo numa época onde a segurança é uma incerteza, Heitor e a família ainda conseguem manter o hábito de sentar e brincar na calçada, o que supre a necessidade de contato social do pequeno neste período de férias.
“A nossa rua é menos movimentada, então os vizinhos que têm mais ou menos a idade dele vêm aqui na calçada, e eles brincam. Claro que ficamos acompanhando tudo. Eles espalham os brinquedos no chão e se divertem até umas 18 horas, quando ele começa a ficar sonolento”, detalha. Chega então a hora de diminuir o ritmo e iniciar a rotina do sono. Assim, no dia seguinte, Heitor pode acordar novamente “no 220”, conta a mãe.
Leruscka conta que, apesar da rotina estabelecida, a maior dificuldade da família é tentar manter Heitor longe das telas. “Eu deixei muito no início, quando ele nem tinha 1 ano. A minha rotina era diferente naquela época. Depois de conversar com a pediatra dele, ela pediu para que eu evitasse o uso da tela, pois isso poderia atrasar o desenvolvimento da fala e outros aspectos importantes. E, de fato, foi isso que aconteceu”, relata.
Com um pequeno atraso na fala, a mãe decidiu afastar o garotinho por completo das telas. Agora, ela se esforça para criar atividades que estimulem a atenção, proporcionem diversão e, ao mesmo tempo, consigam substituir o que era tão viciante.
Atividades para fazer com a garotada durante as férias
- Plantio no jardim ou vasos: envolvimento das crianças no processo de plantar e cuidar de flores, ervas ou vegetais, promovendo o contato com a natureza.
- Culinária na cozinha em casa: realização de receitas simples, como brigadeiro e sorvete.
- Piquenique: refeição ao ar livre com lanches e atividades recreativas, como jogos e brincadeiras.
- Acampamento em casa: montagem de barracas improvisadas, histórias à luz baixa e atividades temáticas.
- Reciclagem: pintar e transformar uma caixa de papelão, por exemplo, em brinquedos como um foguete.
- Atividades com água: brincadeiras como banho de piscina, guerra de água, atividades com bacias e bolhas de sabão.
Fonte: psicopedagoga Thiala Amaral e educadora física Andréa Coelho.
Crianças precisam de movimento
Outro malefício do uso exacerbado das telas, principalmente neste período de tanto tempo livre, são os impactos para o corpo. De acordo com a profissional de educação física Andréa Coelho, é de suma importância que a formação óssea se mantenha em movimento.
“Existem estudos que dizem que o uso exagerado de telhas, o celular, por exemplo, causam dores no pescoço, nas mãos e nos olhos. Comparo essa situação com um carro na garagem durante as férias. Após uma semana parado, o carro terá dificuldades quando for ligado novamente. Da mesma forma, os seres humanos precisam de movimento; nossos músculos precisam estar ativos para funcionarem adequadamente”, pontua a profissional.
Segundo Andrea, na fase de desenvolvimento da criança, longos períodos de imobilidade também podem desempenhar impactos na coordenação motora. “É fundamental promover esse estímulo de alguma forma, como brincadeiras do tipo ‘pega-pega’, para que a criança não fique limitada a hábitos sedentários. As férias não podem ser só acordar tarde, dormir tarde, assistir a filmes ou brincar no celular”, diz.
Ela ainda ressalta que a prática regular de atividades físicas não apenas contribui para a saúde corporal, mas também para o bem-estar mental da criança.
Uma solução para que a pequena Alice, de 6 anos, continuasse ativa e em contato com outras crianças foi uma colônia de férias. A mãe dela, Ana Carolina Farias, 33, tem uma vida profissional agitada sendo consultora de vendas e o marido dela, apesar de ter uma disponibilidade maior proporcionada pelo home office, não consegue dar conta da brincar a todo momento.
“A Alice nunca teve uma babá, e nós também contamos com uma ótima rede de apoio, que são os avós. No período de aulas, ela vai para a escola de manhã e, de tarde, fica com eles. Agora nas férias, ela fica o dia todo com elas no dia e o pai, eventualmente”, descreve.
Recentemente, a sogra de Carolina enfrentou problemas de saúde. “As avós também já são idosas, então elas não têm mais aquele pique todo para brincar o tempo todo. A Alice gosta muito de brincar, muito mais que assistir à TV ou ficar no tablet. Ela até brinca sozinha, mas há a necessidade de interagir com alguém, com outras crianças”, diz a mãe.
Como a família mora em um condomínio, a família consegue burlar a necessidade da criança de interação com crianças levando Alice ao parquinho. Contudo, o melhor recurso encontrado pelos pais foi uma colônia de férias. Mas em janeiro, as opções de empreendimentos que ofertam o serviço são limitadas.
“Nós encontramos algumas, mas a maioria era de apenas três horas por dia. e isso é muito pouco. Outras que encontramos eram para a semana toda, não queríamos isso. Até que encontramos uma ótima, que é por diária. Fica num shopping, então eles oferecem por mais tempo. Quando ela não vai, fica com as avós ou com o pai”, relata Carol Farias.
Segundo a mãe, o serviço proporciona à filha realizar atividades que não faria em casa. “Além de brincar, eles fazem oficinas de culinária. Ela chega em casa muito feliz e exausta”, diz.
“Acho o uso das telas inevitável”
Apesar dos esforços de manter a filha longe da distração do tablet ou da televisão, Ana Carolina Farias diz que as telas ainda são utilizadas. “Acho inevitável. A tecnologia também é algo que, nesta geração, já é extremamente presente. Eles nos veem utilizando computadores e celulares no dia a dia”, opina a mãe.
Para a psicopedagoga Thiala Amaral, o uso de tecnologias não precisa ser totalmente abolido da vida de uma criança. Com cautela, os pais podem utilizá-las como forma de ligação e também com estratégias educativas.
“Em casa, os pais podem assistir a um filme com a criança. Podem utilizar o computador para fazer uma pesquisa, insistir que ele mesmo procure algo. Podem jogar um jogo de videogame, claro que observando se não é violento e se é apropriado para a idade”, exemplifica.
Programações em Fortaleza para o público infantil nas férias
- Colônia de Férias do Instituto Semear - Até 12 de janeiro (Pago)
A programação conta com passeios e atividades por Fortaleza, como visita a um parque ecológico e tour pela cidade. Mais informações: @instisemear
- Colônia de Férias ABC Mondubim - Até 31 de janeiro (Gratuito)
Programação de jogos, brincadeiras, lanches, passeios e brindes para crianças e adolescentes de 5 a 17 anos. Horário: manhã (das 7h30min às 11h30min) e tarde (das 13 às 17 horas)
Endereço: R. N. Sra. da Conceição, 151 - Mondubim, Fortaleza - CE, 60752-595
- Projeto Atleta Cidadão
Durante todo o ano nas areninhas, praças e escolas. Em janeiro, há programação de férias nos núcleos do projeto. O foco das atividades são torneios lúdicos, jogos da integração, colônia de férias, gincanas de jogos populares. As atividades são abertas ao público.
De segunda a sexta, das 7 às 20 horas. Mais informações: (85) 3253 0321
- Cidade da Criança
Localizada no Centro, o Parque Urbano da Liberdade (Cidade da Criança) conta com uma área total de 26 mil metros quadrados (m²) e um espelho d’água no seu centro. Há aluguel de bicicletas, parque infantil e também o projeto sociocultural do Museu do Bode Ioiô.