Grupo fez tatuagens e comeu camarão na Praia de Iracema após vitimar funcionário de metrô
Depois de latrocínio, o grupo roubou um servidor do Éxercito, vendeu aparelhos celulares das duas vítimas e em seguida, com o dinheiro, foi até a Praia de Iracema para se divertir
19:18 | Jan. 03, 2024
O latrocínio (roubo seguido de morte) que vitimou o funcionário do metrô Ivo Andrade, de 41 anos, no dia 27 de dezembro último, no bairro Conjunto Ceará, em Fortaleza, foi elucidado pela Polícia Civil do Ceará. Ao todo, quatro pessoas suspeitas foram detidas, sendo um adulto e três adolescentes. Ivo foi morto no dia do aniversário da própria mãe quando chegava no local de trabalho. O adulto suspeito foi preso nessa terça-feira, 2, no bairro Henrique Jorge.
De acordo com a delegada-adjunta da 2ª delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Higina Hissa, as investigações apontam que, após vitimar Ivo, os responsáveis pelo crime atacaram um servidor do Éxercito Brasileiro (EB), quando roubaram o aparelho celular e a arma dele.
Depois, eles teriam ido vender o aparelho celular do bilheteiro e da outra vítima em um feira no Centro de Fortaleza. Já com o dinheiro em mãos e com a quantia dividida, eles foram à Praia de Iracema, onde compraram drogas, ingeriram bebida álcoolica, fizeram tatuagens e comeram camarão.
O DHPP soube do crime e iniciou os levantamentos captando as imagens das câmeras de segurança. Em seguida receberam a informação que os três adolescentes foram apreendidos nas proximidades da Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) com um simulacro de arma de fogo. A delegada Higina foi até o local, onde realizou o auto de apreensão dos adolescentes pelo ato infracional análogo ao latrocínio (roubo seguido de morte).
"No próprio dia 27 saímos em diligências e através das câmeras chegamos a identificação dos adolescentes e tivemos o apoio da Polícia Militar. No dia 28 conseguimos apreendê-los. Na oitiva conseguimos identificar o maior. A Polícia Militar foi até a casa de um dos adolescentes e encontrou a faca e a as roupas usadas na ação", aponta.
Luís Carlos Santos Silva, de 20 anos, já era investigado por crimes de roubo. Ele seria amigo do adolescente de 17 anos.
De acordo com a investigação, eles se reuniram às 4 horas da madrugada para praticar os crimes. Os adolescentes saíram com um simulacro de arma de fogo e o adulto com uma faca. "Eles queriam dinheiro, estavam sob efeito de psicotrópicos", informou a delegada Higina Hissa.
Conforme a delegada, o grupo relatou que Ivo não queria entregar o aparelho celular e que os três adolescentes tentaram retirar o aparelho. De acordo com os adolescentes, nesse momento, Luis Carlos se aproximou e cravou a faca no peito de Ivo.
O grupo fugiu em direção ao distrito de Jurema, em Caucaia, onde encontrou um servidor do Exército Brasileiro (EB) que seguia de bicicleta. O rapaz foi atacado pelo mesmo grupo e teve o aparelho celular e o veículo subtraído.
A estação de metrô onde Ivo trabalhava, de um lado é localizada no Conjunto Ceará e do outro lado é localizada no distrito de Jurema.
Depois do crime
Com os pertences das vítimas, os quatro seguiram para o Centro de Fortaleza, em uma feira denominada "feira do malandro", onde venderam os aparelhos celulares. Em posse do dinheiro, eles resolveram ir à Praia de Iracema, onde compraram entorpecentes, fizeram tatuagens, comeram camarão e fizeram uso de bebida álcoolica.
Após a "farra", os adolescentes seguiram para as proximidades da avenida Mister Hull com o simulacro de arma de fogo para realização de novas ações e o adulto foi para casa com a faca. Uma viatura que passava nas proximidades da Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) apreendeu o trio e seguiu com eles para a unidade policial, onde permaneceram detidos.
A investigação apontou que Luís residia no bairro Henrique Jorge, em um condomínio nas proximidades da praça Dom Bosco, mas sem identificar apartamento ou bloco. A equipe de policiais civis do DHPP foi até o local e encontrou o homem escondido entre uma parede e uma cadeira nos corredores do condomínio. Ele foi detido nessa terça-feira, 2, e encaminhado ao DHPP.
A faca que teria sido usada no crime foi apreendida. A arma ainda estava com resíduos de sangue e foi enviada à Perícia Forense para uma comparação genética do DNA de que o mesmo sangue na arma branca era o de Ivo Andrade. A segunda vítima, que é o servidor do EB, reconheceu o grupo.
Um detalhe citado pela delegada, que foi repassado pelos próprios adolescentes, é de que quando estavam a caminho da estação, antes do crime, os três foram parados por uma viatura da Polícia Militar, que os abordou. No entanto, ao perceber a aproximação do veículo, eles jogaram a faca e o simulacro de arma de fogo em um matagal. No momento da vistoria não foi encontrado nada e eles foram liberados.
"Nós estamos destruídos, dilacerados. Nós estamos com a mesma faca no peito", diz irmã da vítima
Ivo era corredor de rua, morador do bairro Conjunto Ceará, em Fortaleza e colecionava medalhas conquistadas no decorrer do ano. Aos 42 anos, a rotina dele era descrita pela família como casa, estação de metrô (trabalho) e os treinos com a assessoria esportiva.
O caixa de bilheteria participava de um grupo de corredores e era querido no bairro. O velório e o sepultamento de Ivo reuniu centenas de pessoas. A missa de sétimo dia dele ocorre nesta quarta-feira, 3. Grupos de corredores reuniram-se para homenageá-lo em uma corrida no dia 31 de dezembro, em Caucaia.
A irmã, Márcia Andrade, afirmou em entrevista: "Nós estamos destruídos, dilacerados, nós estamos com a mesma faca no peito", relata.
"Saber que ele foi vítima da impunidade, o primeiro trabalho dele, o único trabalho dele e o último trabalho. Ele era feliz com o trabalho, mas tinha medo pois lá os vigilantes eram assaltados, tomavam as armas, no ano passado colocaram a arma na cabeça dele na bilheteria, e neste ano mataram um vigilante na estação do Araturi (Caucaia)", destaca a irmã.
A irmã relata que Ivo sempre foi uma pessoa tímida e se encontrou na corrida, fez grande quantidade de amigos e não perdia as corrida e treinos. "Passou dois anos tentanto me levar para o mundo da corrida. Ele tinha plano de ser maratonista e neste ano atingiu a meia-maratona. Ele disse que foi o dia mais feliz. Ele tinha planos de comprar o carro dele agora em 2024, por causa do deslocamento para as provas", afirmou a familiar.
"Ele tinha os sobrinhos de 10 e 9 anos como os amores da vida dele. Tudo de bom de brinquedo ele deu ao meu filho. A gente encerrava nosso domingo de pijama comendo pizza. Me diga quem vai comer pizza comigo no domingo?", indaga a irmã.