Comunidade católica promove ceia solidária no centro de Fortaleza
Com o tema, "Em busca de um lugar", a ação promovida pela pela Comunidade Católica Shalom atendeu pessoas em situação de rua da capital cearenseNa véspera de Natal, data que figura a comunhão familiar, aqueles cuja conjuntura desampara contam com a solidariedade de quem busca estreitar as fronteiras sociais. O "Shalom Amigo dos Pobres", promovido pela Comunidade Católica Shalom neste domingo, 24, visa atender pessoas em situação de rua no Centro de Fortaleza.
O tema escolhido para o Natal deste ano no projeto foi "Em busca de um lugar". O coordenador da Casa São Francisco, Thacio Romano, ressalta que a proposta deste tema "nos fará refletir sobre o mistério do menino Deus que nasce e precisa encontrar um lugar, uma manjedoura, sendo que essa manjedoura pode ser o seu coração".
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As atividades, iniciadas às 17h, incluíram a missa, com um coral de Natal composto por pessoas em situação de vulnerabilidade atendidas no próprio Shalom, além de uma apresentação teatral, para, então, dar início à tradicional ceia de Natal.
De acordo com Mariana, missionária, responsável pela arrecadação de doações, a programação é pensada de modo a criar uma experiência que imponha dignidade e acione a fé cristã. "Eles tomaram banho, trocaram de roupa e, assim, vieram pra cá participar da missa e da ceia. Essa é uma experiência de dignidade humana para eles se sentirem no Natal, prepararem o ser deles para receber Jesus", afirma.
E a experiência não se limita ao Natal. Ela explica que as ações ocorrem o ano todo. "Nós atendemos essas pessoas de segunda à sábado. Eles já fazem parte da nossa casa. Damos café, almoço, disponibilizamos banho duas vezes ao dia, temos médico, assistente social", explica.
A casa supracitada é a Casa São Francisco, um Centro de Convivência para homens em situação de rua, que conta com voluntários como o João Pedro, de 19 anos, que acredita que "ser católico é ser, principalmente, humano" e que a motivação, além da fé, está em "ver o sorriso das pessoas que muitas vezes são excluídas pela sociedade".
Em meio à atmosfera de acolhimento, Kaylane, uma jovem de 21 anos, conta que este já é o quinto Natal com o Shalom e que é atendida com frequência pela equipe da Comunidade. "Vivo na rua há 9 anos. Passei por Conselho Tutelar até os meus 18 anos e vivo na rua. Desde a primeira vez que abriu [a Casa São Francisco] que eu participo, porque antes eu vivia na droga, aí trazia um monte de problema pra mim", revelou.
Kaylane associa o Natal à lembrança de sua família perdida e ao preconceito com sua identidade de gênero, que ainda a impede de acessar devidamente seus direitos. "Eu perdi toda minha família, só ficou eu. Também perdi o meu trabalho, por causa do preconceito. Estou há três anos sem conseguir emprego".
Maria Gorete, 67, também encontrou na ceia comunitária, um momento de atenuar a solidão de uma mãe que este ano perdeu o único filho. "Moro numa casinha aqui no Centro. Eu até consigo comer, sabe. Recebo pouco do auxílio, mas dá. Mas é o Natal mais triste da minha vida, perdi o único filho", desabafa ela com a voz embargada. "Não consigo nem falar disso sem chorar. É que esse foi o pior ano da minha vida, mas tenho esperança que o próximo vai melhorar", completa.
Vínculo que se renova
Em meio a esse panorama nacional de desemprego, que teve um aumento significativo, especialmente durante o período da pandemia, surge uma realidade correlacionada: o número de pessoas em situação de rua.
O "Projeto Shalom Amigo dos Pobres" surgiu como uma iniciativa para socorrer a população que se encontrava nas ruas, tornando-se mais suscetível aos riscos de contaminação pelo Covid-19, além de outras doenças e a fome. O projeto acabou sendo renovado, mesmo com a crise da pandemia arrefecida.
Para o voluntário João Pedro, a projeção para 2024 é de abundância. "Eu espero que no próximo ano se multiplique, mais colabores, e que a gente atenda mais pessoas", conclui.