Facção expulsava moradores e cobrava para construção de casas no Dias Macedo
Grupo ainda é investigado por, pelo menos, três assassinatos. Sete já foram presos
06:00 | Dez. 05, 2023
Investigações da 7ª Delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) revelaram que uma ramificação da facção criminosa Comando Vermelho (CV) no bairro Dias Macedo expulsou moradores de suas casas, cobrava de outros pela permanência em um terreno invadido e é responsável por, pelo menos, três homicídios na região.
Diversas prisões de suspeitos de integrar o grupo já foram realizadas. A mais recente ocorreu no domingo, 3, quando foram presos o casal Jamile Duarte Buriti, de 24 anos, e Stevão de Almeida Ferreira, de 34 anos.
Os supostos chefes da quadrilha também foram presos: Fabíola Gomes da Silva Ferreira, 31 anos, e Fabrício de Oliveira Cunha, de 27 anos.
Eles foram capturados mediante cumprimento de mandado de prisão preventiva, em 14 de novembro, ao lado de outros três integrantes do grupo: Hilkias Thyerry dos Santos, 27 anos; Thaylson da Silva Nogueira, 21 anos, o “Macarrão”; e Lucas Victor Silva da Cruz, 24 anos, o “LV”.
"Na ação, aparelhos celulares, uma pistola, munições, um veículo, droga e uma quantia em dinheiro foram apreendidos", informou a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Outros suspeitos são procurados.
Conforme depoimentos colhidos pela Polícia Civil, o bando expulsou entre sete e dez famílias da comunidade Renascer. Entre as expulsões está a de um homem identificado como Daniel Oliveira Santana, que viria a ser morto pelo grupo em 23 de maio deste ano.
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Ele havia passado a morar no bairro após alugar uma casa de uma pessoa que também havia sido expulso do local. A facção, porém, não admitiu que Daniel continuasse morando na residência, afirmando que eles “tinham perdido tudo”.
Uma testemunha afirmou que, antes da expulsão, o bando atirou na casa de Daniel e dito que "se eles quisessem ficar lá teriam que pagar o aluguel para o grupo do CV". Para se mudar, Daniel teve de pegar dinheiro emprestado. Após a expulsão, os criminosos atearam fogo na casa.
Daniel, porém, continuou morando no bairro, o que teria motivado a sua morte. Na mesma ação criminosa, uma mulher foi baleada. Outra versão para a motivação do assassinato dá conta de que Daniel estava tentando vender o terreno de uma pessoa que também teria sido expulso anteriormente.
Cobrança para moradores permanecer no bairro
Pela morte de Daniel, Fabíola e Fabrício foram indiciados. “Vale ressaltar que durante as investigações, restou comprovada que FABIOLA GOMES DA SILVA FERREIRA é responsável em expulsar moradores de suas residências, bem como extorquir a população como forma de ‘autorizar’ a permanência das pessoas no local, atuando como ‘a verdadeira Dona do Bairro’ como é conhecida pela população local, causando um verdadeiro temor e pânico na população que se via refém das arbitrariedades do grupo criminoso”, diz trecho do relatório policial assinado pela delegada Manuel Lima da Costa.
Conforme testemunha ouvida pela 7ª DHPP, Fabíola ainda cobraria R$ 20 por semana para permitir que famílias construíssem “barracos” em um terreno no bairro que foi invadido. Terrenos das casas de onde moradores foram expulsos também seriam negociados pelo grupo, afirmou outra testemunha.
Outros dois assassinatos praticados pelo grupo
Neste sábado, 2, Lucas Victor, Hilkias Thyerry, Thaylson, Fabíola e Fabrício foram denunciados pelo Ministério Público Estadual (MPCE) pelo assassinato de Duylio Cunha dos Santos, ocorrido em 7 de agosto na rua Neném Gonçalves. Conforme a acusação, Duylio foi morto por estar comprando drogas em local não autorizado pela facção.
Outro assassinato pelo qual o grupo é investigado é o que vitimou João Cleber Gonçalves Matias, em 13 de agosto de 2023. Este crime teria sido motivado por suspeitas que os criminosos tinham de que a vítima teria auxiliado uma tentativa de execução praticada contra aliados do grupo. Antes de ser morto, João Cleber foi torturado e teve o corpo "desovado" em um terreno.
O inquérito que investiga esse caso, porém, segue em andamento, sendo que, em 14 de novembro, o MPCE deu mais 120 dias para que o procedimento fosse finalizado.
Suspeitos negam acusação
Conforme a Polícia Civil, Fabíola “herdou” a liderança do grupo após a prisão de seu irmão, Fabiano Gomes da Silva, ser preso. Ele é suspeito de ser mandante de uma série de homicídios no Dias Macedo, Boa Vista e Barroso II, conforme o DHPP.
Em depoimento, Fabíola, porém, negou ter envolvimento com a facção. Ela disse que trabalha com costura de forma autônoma em sua residência e que seu companheiro, Fabrício, trabalha como motorista de aplicativo.