Corredor Cultural Benfica tem estreia de serviço de retificação de nome e gênero

Em sua 5ª edição, Corredor Cultural Benfica teve feiras culturais e gastronômicas, além de apresentações artísticas e serviços para a população

Dezenas de pessoas compareceram ao primeiro dia da 5ª edição do Corredor Cultural Benfica, em Fortaleza, neste domingo, 3. Na Avenida da Universidade e nos espaços da Universidade Federal do Ceará (UFC), o evento tem uma programação diversa, que envolve feiras culturais e gastronômicas, apresentações artísticas e serviços. A novidade desta edição foi o mutirão de retificação de nome e/ou gênero para pessoas trans e travestis.

Durante o evento, o trecho entre a Avenida Treze de Maio e a rua Padre Francisco Pinto é interditado para a livre circulação do público. Na visão de Rosalia Rodrigues, de 62 anos, o bloqueio deixa o momento “mais popular”.

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Moradora do Joaquim Távora, ela participou do Corredor Cultural Benfica em outras edições e conta que, ao saber das datas deste ano, “já colocou na agenda”: “Vim para curtir e andar por aí”.

Marcelo Mota, 56, e Raquel Prozara, 55, também são conhecedores do Corredor Cultural Benfica. Trajando tênis e roupas confortáveis, os moradores do bairro de Fátima estavam decididos a aproveitar o domingo com música.

Para Marcelo, eventos como o Corredor são “fundamentais” para aproximar a população geral da Universidade. “Ter a oportunidade de ver o que acontece na Universidade e, ao mesmo tempo, a Universidade retribuir na forma de lazer e serviço, isso é um ganho muito grande”, diz ele.

“Espero que não pare e que as pessoas conheçam, cada vez mais, esse trabalho importante. É muito legal, muito bom”, complementa Marcelo. “É bom ver a Universidade viva de novo”, afirma Raquel.

Para Joacélio Barata, 56, a Universidade é um espaço público “muito bonito” que precisa ser aproveitado. Estreante no Corredor, ele levou esposa, filhos e irmão após ficar sabendo do evento por meio de amigos.

“Fomentar a cultura é sempre interessante, ainda mais com serviço público que pode ser difícil de acessar”, analisa o morador do Joaquim Távora.

O estudante Antony Fernandes, 21, considera “muito importante” a presença de ações ligadas à cidadania: “O lazer também é importante, mas são serviços que muitas vezes as pessoas não têm tempo de resolver durante a semana”.

Também em sua primeira vez no Corredor, Liliana Cubas, 61, acompanhou os dois filhos, que são membros do coral do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), parte da programação do evento.

Enquanto os filhos ensaiavam para a apresentação, conta a aposentada, ela ficou sozinha. Quando ouviu banda Parahyba e Cia. Bate Palmas tocar “Noite Azul”, canção de Pingo de Fortaleza, aproximou-se do palco montado no estacionamento do Museu de Arte da UFC (Mauc) para dançar.

“Para mim, cultura é tudo. Nunca tive muito tempo por conta de filho, trabalho e casa. Mas agora, aposentada, tenho mais tempo”, afirma Liliana.

Já para Myrian Mariano, 19, o destaque do domingo veio em quatro patas. Além do interesse pela agenda musical, a estudante compareceu ao Corredor para assistir à apresentação de um amigo integrante da banda Doces Deletérios. Não estava nos planos dela, porém, adotar um filhote de cachorro.

“Foi um surto, na verdade. Fiquei muito apaixonada por ele com essa tiara”, conta Myrian, com o pet nos braços. O filhote ainda não tem nome, mas provavelmente homenageará um planeta do Sistema Solar, diz a estudante, porque ela já é tutora de um gato chamado Saturno.

O Corredor Cultural é realizado pela Sociedade Cearense de Produção Cultural e Artística, da UFC e do Ministério da Cultura (MinC), e terá um segundo dia de programação: domingo, 17, entre 8h30min e 16 horas.

Corredor Cultural Benfica realiza mutirão de retificação simbólico para população trans

Pela primeira vez neste ano, o Corredor Cultural Benfica promove um mutirão de retificação de nome e/ou gênero para pessoas trans e travestis.

Idealizado pela organização do evento, o mutirão é viabilizado pelo Núcleo de Práticas Jurídicas da Estácio (NUJ) e pela Comissão da Diversidade Sexual e Gênero (CDSG), da Ordem dos Advogados do Brasil no Ceará (OAB/CE).

Segundo Pedro Vieira, integrante da CDSG, o objetivo da ação é “atingir o maior número de pessoas possível”. No perfil do Corredor no Instagram, foram ditos quais documentos precisariam ser apresentados pelas pessoas em busca de retificação. “Isso para atendermos hoje sem expectativa e limite de vagas. Queremos atender todo mundo que chegar”, explica ele.

Uma das pessoas atendidas pelo mutirão foi Ísis Falcão, 23. Para ela, o sentimento com o início do processo de retificação é de “realização”. A operadora de call center celebra a gratuidade do mutirão, “porque nem todo mundo consegue pagar as taxas” da retificação.

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Tiffany da Silva, 21, também enfatiza a importância da gratuidade: “É uma oportunidade muito grande que estou tendo aqui. Me sinto muito feliz por finalmente retificar, é uma sensação libertadora”.

A moradora do Couto Fernandes esperava pela retificação “há muito tempo”. Sua identificação como mulher trans veio aos 13 anos e a terapia hormonal, aos 17: “Atualmente eu vivo como eu sempre me vi no espelho”.

Antony Fernandes, 21, se enxerga como homem desde a infância. “Para mim foi um choque muito grande, crescer e perceber que as pessoas não me viam assim. Eu até brinco, falando que, na verdade, quem teve que se acostumar com algo foram as pessoas à minha volta”, narra ele.

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Ter seu nome nos documentos de identificação é algo que Antony espera desde então. “Ainda é irreal na minha cabeça”, explica o estudante. “Foi tanto tempo tentando resolver que agora tenho a estranheza de pensar que, depois desse tempo todo, isso está se concretizando”, concluiu.

Pedro Vieira conta que a retificação “não resolve a problemática da transfobia, que é um problema mais amplo”, mas carrega simbolismo.

“A gente sabe que retificação é muito importante para a população trans e travesti, pensando em autonomia e não constrangimento. Só de você ter seu documento com o nome retificado, o nome com o qual você se identifica, se reconhece, isso é muito potente”, comenta ele.

O integrante da CDSG explica que o atendimento ocorrido no mutirão é uma “triagem” de documentos, que serão repassados para a Defensoria Pública do Ceará (DPCE). O órgão, então, solicitará gratuidade aos indivíduos atendidos pelo mutirão. “É como uma ação coletiva em nome de todas essas pessoas”, diz.

Com a isenção confirmada, um cartório é oficiado para emitir a documentação retificada, acrescenta Pedro. Os documentos retificados devem ser entregues em evento a ser anunciado.

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