Chacina dos Portugueses: relembre caso dos seis empresários enterrados vivos
Há 22 anos, seis empresários portugueses eram enterrados vivos em barraca de praia na cidade de Fortaleza; reveja os eventos da chacina
22:44 | Nov. 07, 2023
Em 24 de agosto de 2001, seis corpos foram encontrados em uma barraca na Praia do Futuro. As vítimas, empresários portugueses que visitavam Fortaleza, tinham sido espancadas e enterradas com vida, estabelecendo o nome “Chacina dos Portugueses” para o caso.
O desaparecimento dos turistas ocorreu após desembarque no Aeroporto Internacional Pinto Martins, em 12 de agosto do mesmo ano. Mas a ausência do sexteto foi relatada ao então cônsul honorário de Portugal em Fortaleza, Carlos Pimentel de Matos, apenas no dia 16.
O crime, que chocou a população brasileira e portuguesa, completou duas décadas em 2021 com os cinco responsáveis apontados pela Polícia Federal (PF) condenados a mais de 100 anos de prisão.
Entenda como a Chacina dos Portugueses foi articulada e os seus envolvidos.
Chacina dos Portugueses: articulação do crime
O mentor intelectual da chacina, Luiz Miguel Militão Guerreiro, planejou o crime ao lado dos demais acusados. Em entrevista ao O POVO em 2001, na época da chacina, Militão descreve seus comentários ao grupo, afirmando que amigos “estribados” de Portugal estariam visitando Fortaleza.
O planejamento começou cerca de 20 a 30 dias antes da chegada dos turistas, mas não incluía o assassinato até poucos dias. Segundo revelou, seria a “melhor solução” para evitar a descoberta do crime.
As vítimas foram guiadas do aeroporto até a barraca Vela Latina, na Praia do Futuro, alugada pelos acusados como uma boate durante a noite.
Militão, também de nacionalidade portuguesa, conhecia António Correia Rodrigues, um dos viajantes. O mandante chegou, inclusive, a morar com a família de Rodrigues por três meses, mas saiu sem explicações.
"Eu e meu cunhado (Rodrigues) conhecemos ele (Guerreiro) em uma construção. Ele era um funcionário muito extrovertido, nunca estava triste. No final do ano passado, ele se divorciou e pediu para viver em nossa casa. Fizemos um favor de amigo", disse José Antonio Matela, cunhado de Rodrigues, para a Folha de São Paulo.
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Chacina dos Portugueses: as vítimas
Os seis empresários — Joaquim Silva Mendes, Joaquim Manuel Pestana da Costa, Joaquim Fernandes, Manuel Joaquim Barros, Vítor Manuel Martins e António Correia Rodrigues — foram rendidos e agredidos, antes de serem enterrados debaixo do piso da barraca, na cozinha.
Militão, que efetuou saques e compras nas contas das vítimas, foi encontrado e preso no estado Maranhão, confessando a sua atuação no crime e indicando os demais associados.
Chacina dos Portugueses: os condenados
No total, cinco homens foram condenados pela morte dos portugueses, incluindo Militão. Foram eles: Leonardo Sousa dos Santos, Manoel Lourenço Cavalcante, José Jurandir Pereira Ferreira e Raimundo Martins da Silva Filho.
De acordo com a denúncia do Ministério Público, peça da acusação contra os responsáveis pela chacina, o segurança Raimundo Martins, “de revólver em punho e mediante grave ameaça de morte, imediatamente, rendeu a todos os portugueses, determinando-os a deitarem ao chão, o que de pronto foi obedecido.”
Veja a seguir as condenações de cada réu pelo crime, condenados em julgamento durante fevereiro de 2002:
- Luiz Miguel Militão Guerreiro (considerado como mentor): condenado a 150 anos de prisão
- Leonardo Sousa dos Santos, Manoel Lourenço Cavalcante e José Jurandir Pereira Ferreira: condenados a 120 anos de prisão
- Raimundo Martins da Silva Filho (considerado o mais violento): condenado a 132 anos de prisão
Na legislação brasileira, a pena máxima para crimes hediondos é de 30 anos. Nesse caso, o número maior que o limite pode ser analisado na hora de conceder “benefícios” para o réu.
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Chacina dos Portugueses: resposta da mídia
Em 2019, o jornal português Correio da Manhã indicou que Militão, detido no Instituto Penal Paulo Sarasate, em Fortaleza, já havia planejado fugir três vezes e tinha tentado cometer suicídio. No local, acredita-se que era maltrado por outros reclusos.
Anteriormente, em 2010, o mentor do crime — que ficou popularmente conhecido como o “Monstro de Fortaleza” — publicou uma espécie de autobiografia, recontando os eventos do crime de acordo com a sua perspectiva em obra intitulada “Morrer na Praia do Futuro”. (Com informações do O POVO +)