Observação segura do eclipse solar leva multidão a observatório da Uece

De crianças a idosos, público pôde contemplar principal fenômeno astronômico dos últimos anos com segurança na Uece, que distribuiu óculos de proteção gratuitamente. Evento também contribui para educação em astronomia e divulgação científica

O límpido céu da tarde deste sábado, 14 de outubro, foi o pano de fundo perfeito para que uma multidão de crianças, jovens, adultos e idosos pudesse contemplar o alinhamento entre Terra, Lua e Sol, que fez os raios do astro-rei perderem intensidade diante do maior fenômeno astronômico dos últimos anos: o eclipse anular solar.

Dentre os vários pontos de observação do raro evento espalhados por Fortaleza, o público composto por famílias, estudantes e pesquisadores lotou o Observatório Astronômico Otto de Alencar, na Universidade Estadual do Ceará (Uece), para assistir ao espetáculo celestial — que iniciou às 15h23 e cujo ápice aconteceu por volta de 16h42.

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Além da contemplação segura com a ajuda dos 300 óculos de proteção solar disponibilizados pela equipe do observatório, no local também foi possível realizar a observação telescópica por meio dos equipamentos colocados à disposição da comunidade, que fez fila desde o fim da manhã para garantir a visualização e os registros do acontecimento.

O artista plástico espanhol Pablo Manyé, coordenador de Arte e Cultura da Pró-reitoria de Extensão da Uece, chegou cedo com a esposa, Carolina Campos, coordenadora da Escola Superior da Magistratura do Estado do Ceará (Esmec). O casal levou a filha, Leonor, de 4 anos, para acompanhar o eclipse.

“O próximo está previsto para 2070, talvez eu não veja, mas ela vai ver”, comentou Manyé enquanto observava como o efeito do “anel de fogo” também podia ser visto através das sombras das árvores.

“Na última vez que teve, em 1994, eu lembro demais de assistir no morro Santa Terezinha com uns amigos do colégio. Marcou demais. Eu sou louca por astronomia, e ela vai no mesmo caminho”, disse a mãe.

O professor Vladimir Spinelli, provedor-geral da Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza e docente aposentado da Uece, também estava entre os que escolheram o lugar para apreciar o fenômeno. Junto com o neto, ele, que é admirador da Lua, preparou a câmera para fotografar.

“A gente tem de aproveitar essas oportunidades, e essa é a primeira vez que vou ver realmente. Eu que fotografo a Lua durante todos os ciclos dela, percebo uma ligação. E nesse momento em que ela vai ser tão importante, vai se sobrepor a ele, eu não poderia perder”, comentou.

“O de 2070 pode ser que eu não esteja, então resolvi vir para este. Você ter a Lua impedindo que os raios do Sol cheguem da mesma forma que fazem todo dia, não poderia deixar de registrar”, acrescentou.

Houve quem improvisasse a proteção para a visão com lente de soldador n.º 14 e caixa de papelão, como a jovem Ariadne Sampaio, que relatou ter conseguido o filtro por R$ 5 em uma loja de construção perto de casa, mas que conheceu pessoas que compraram o item por R$ 30 diante da crescente demanda.

Para o estudante Daniel Lima, que cursa Administração na instituição, “é louvável a iniciativa do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Astronomia (Lepa) ao proporcionar à comunidade a experiência de observar o eclipse anular do Sol no observatório de maneira segura e educativa”.

“Essa ação não apenas enriquece o conhecimento dos interessados, mas também promove o acesso público à ciência, fundamental para o desenvolvimento educacional e cultural da nossa sociedade”, destacou.

“Vale ressaltar a importância do apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) por sua contribuição significativa para a formação acadêmica e científica que se reflete em iniciativas como essa”, pontuou Daniel.

Espetáculo celestial também abre janela para divulgação científica e educação em astronomia

Conforme analisa o professor Antônio Carlos Santana, vice-coordenador do curso de Física da Uece, a observação do eclipse solar é uma experiência que pode aproximar o público da ciência.

“Normalmente as pessoas costumam dizer que a física é difícil, e essa parte da Astronomia acaba aproximando elas e abrindo portas para desconstruir esse preconceito. A física é bela e esse evento está aí para provar isso”, pondera.

“A gente esperava muitas pessoas, mas está bem além da expectativa. Inclusive não teve óculos suficiente, mas nós orientamos que fosse feito o revezamento. Até porque não pode passar muito tempo observando para não prejudicar a visão”, sublinha o professor, que lembra que o astrônomo Galileu Galilei, um dos pioneiros nos estudos sobre o Sol, desenvolveu cegueira em virtude da observação constante e sem proteção ao astro-rei.

Para o professor Roberto Namor, docente do curso de Física e atual coordenador do observatório, que é ligado ao Laboratório de Ensino e Pesquisa em Astronomia (Lepa), “as pessoas devem se sentir privilegiadas por assistirem a esse fenômeno, porque ele é extremamente raro, é uma oportunidade única, por isso que você vê tantos curiosos observando e presentes aqui”.

Através da observação, é possível descobrir fatos como a próxima passagem de um eclipse solar e em que região será visível. É o que complementa Yarlei Gomes, estudante do curso de Física e bolsista do Lepa.

“Tem essa experiência de ser um fenômeno que não ocorre há quase 30 anos, e esse é diferente por ser anular, então é uma experiência única tanto para o público leigo e para nós que trabalhamos na área”, afirma.

“Acaba que gera interesse da população por Astronomia, famílias, desde crianças até idosos, e essa é mais uma forma de divulgação do nosso trabalho, que também agrega pesquisa, visitas estudantis, visitas abertas ao público e astrofotografias”, finaliza.

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