Marcha contra o aborto reúne manifestantes em Fortaleza

Manifestantes marcharam da Praça Portugal até a Beira Mar, em data que celebra o Dia das Crianças

22:27 | Out. 12, 2023

Por: Isabelle Maciel
Marcha contra o Aborto e pela Vida na praça Portugal. (foto: Samuel Setubal)

A Marcha contra o Aborto e Pela Vida foi realizada nesta quinta-feira, 12, e teve como objetivo a reação ao julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF), que discute a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação. O evento foi organizado pela Marcha da Família e aconteceu também em outras cidades do país

Com camisas padronizadas e a estampa da bandeira do Brasil, com um bebê no centro e o termo “Brasil sem aborto”, manifestantes marcharam no fim da tarde da Praça Portugal, no Meireles, até o anfiteatro da Beira-Mar. Bandeiras de Israel e do Brasil, enroladas no corpo, também se destacaram entre os participantes do ato, que cantaram o Hino Nacional e louvores. As pessoas do evento se descreviam como conservadoras e cristãs, em luta pela liberdade.

O organizador da Marcha da Família no Ceará, Aderaldo Gentil, disse que o movimento resgatou a “Marcha da Família com Deus e Liberdade”, realizada em 1964, no ano do Golpe Militar e que dizia “não ao comunismo". Sobre o julgamento da descriminalização do aborto até a 12ª semana no STF, o organizador comentou que a Marcha irá trabalhar até a pauta cair. “Vamos dizer não e trabalhar até isso cair e não se falar mais em aborto no Brasil. O Brasil é um país cristão e somos pró-vida”.

Já a empreendedora Gislene Mesquita afirmou que o ato foi pela defesa da família e das crianças. Ela também comentou sobre o julgamento do STF e o posicionamento da sociedade. “Eles estão querendo hoje, naquela ADPF 442 [ação do Supremo], descer goela abaixo da sociedade algo que não é de interesse público. Como no reino de ‘Alexandria’, a gente tem que começar a nos posicionar em relação aquilo que a sociedade quer, e ela não quer o aborto”. Sobre a educação sexual nas escolas, Mesquita afirmou também contra. “A educação sexual tem que ser com a família. E para crianças, não”.

Ainda sobre a temática, o jornalista e manifestante Marcos Duarte declarou que há “um momento certo”, e lembrou da questão das crianças transgênero. “Uma criança não pode tomar influências de uma pessoa que montou uma lei e que querem tirar seu órgão genital. Uma criança não tem poder de tomar decisões”, completou.

Apesar da preocupação, não existem leis no Brasil que aprovem a retirada de órgãos sexuais de crianças. No processo de transição de gênero em crianças é permitido apenas troca de nome e pronomes, assim como bloqueio da puberdade, que é reversível. Cirurgias de mudança de sexo só podem ser realizadas a partir dos 18 anos de idade.

Ex-secretária do Ministério da Saúde durante o governo Jair Bolsonaro, Mayra Pinheiro também estava na Marcha e foi nomeada como presidente de honra nacional da Marcha da Família de todo o Brasil. Ela discursou em um trio elétrico, assim como o senador Eduardo Girão (Novo), o deputado federal André Fernandes (PL) e o deputado estadual Carmelo Neto (PL). Mayra reforçou que a Marcha não era um ato político e que o tempo de cada parlamentar era de três minutos.

Os manifestantes tentaram cantar “Lula ladrão, seu lugar é na prisão” mas foram interrompidos pela organização.

A marcha foi finalizada com um minuto de silêncio e a exibição de um vídeo na Beira-Mar, que misturava gritos feministas com choro de bebê. Aliás, durante vários momentos os organizadores exibiram a escultura de um feto de 12ª semanas para os manifestantes.

Julgamento no STF

A ministra do STF, Rosa Weber, votou no fim de setembro pela descriminalização do aborto até as 12ª semana, em Plenário Virtual. O julgamento foi suspenso pelo ministro Luís Roberto Barroso, agora presidente do STF, e deverá ter continuidade em sessão presencial do Plenário. Rosa Weber se aposentou do cargo de ministra em 30 de setembro.

O aborto é permitido no Brasil em casos de estupro, anencefalia e risco de morte da gestante. De acordo com pesquisa do instituto Opnus, 49% dos cearenses são totalmente contra ao aborto, enquanto 42% são a favor apenas dos casos permitidos em lei e 6% acreditam que o aborto deve ser permitido em qualquer situação.