Dia das Crianças nos sinais: famílias pedem doações de brinquedos em Fortaleza
Sem orçamento para presentes, famílias se deslocam até áreas movimentadas na expectativa de conseguir brinquedos para as crianças
18:52 | Out. 12, 2023
Quem andou pelas ruas de Fortaleza nesta quinta-feira, 12, Dia das Crianças, presenciou uma "tradição" de uma cidade desigual: crianças e suas famílias nos sinais de trânsito, esperando doações de brinquedos ou alimentos.
“O salário só dá para o essencial, pro brinquedo não sobra”, relata uma aposentada que levou filhos, netos e bisnetos para o cruzamento das avenidas Borges de Melo e Luciano Carneiro. Para a família, já é comum sair do bairro Bom Jardim na data e procurar uma área movimentada em que as chances de alguém parar o carro e doar presentes para a criançada seja maior.
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A mulher relata que recebe aposentadoria, mas a quantidade de pessoas em casa é muito grande e o dinheiro acaba ainda nos gastos com água, luz, gás e comida. Enquanto O POVO entrevistava a família, pessoas pararam um carro do outro lado da avenida e buzinaram. Todas as crianças foram com urgência até o veículo e aguardaram a janela abrir para descobrir o que iriam ganhar.
Em outro ponto da Capital, na rotatória das avenidas Aguanambi e Eduardo Girão, outro grupo se reuniu na expectativa de receber doações. “Minha filha perguntou o que vai ganhar, mas eu disse ‘não sei, a gente tem que ir pro sinal esperar’”, diz uma das mães que levou os filhos até o local.
Cerca de 15 pessoas, entre adultos e crianças, estavam em uma das alças da rotatória desde cedo. As crianças corriam, brincavam e mostravam felizes as bonecas, carrinhos, miniviolões e massas de modelar que ganharam. A mãe de uma delas contou que os brinquedos eram importantes mas, na verdade, as cestas básicas que ganharam eram o principal motivo de estarem ali.
“Eles não se importam se o brinquedo é velho, novo, usado, quebrado”, diz outra mãe que também esperava doações na rotatória. Moradora do bairro de Fátima, ela conta que o Dia das Crianças e o Natal são as únicas datas em que leva os filhos para o sinal.
O dinheiro do trabalho como zeladora não sobra para dar presentes. Ela relembra a própria infância, quando aos 7 anos ia com amigas, sem adultos, até o mesmo sinal esperar os presentes doados. “Hoje mudou muito. As mães sempre vêm junto”, relata.
Também com a filha, outra mulher fala da pouca flexibilidade do escasso orçamento da família. “A gente vai tirar do gás, do alimento, pra sair pra passear ou comprar boneca? Não pode”, diz. Apesar de não ter como proporcionar os presentes, ela sabe que brincar é necessário para a filha. Por isso, decide ir até o sinal. “Criança tem que ter infância”, afirma.
O POVO escolhe não divulgar o nome das crianças ou de responsáveis com o intuito de não identificá-las, conforme preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).