Rio Ceará: passeio educativo adverte sobre o despejo irregular de esgoto
O saneamento incorreto, que leva esgoto para os corpos d’água, e a preservação ambiental foram pautas de passeio educativo a barco no rio Ceará
08:00 | Out. 01, 2023
Cerca de 40 pessoas adentraram o leito do rio Ceará em um passeio educativo voltado a lideranças comunitárias da Grande Barra do Ceará. O objetivo da iniciativa é conscientizar sobre a preservação do manancial e sobre os danos do despejo irregular de esgoto. Ação foi na manhã desse sábado, 30.
Três catamarãs saíram do píer da Barra do Ceará, cada um com a presença de um educador ambiental, responsável por realizar um resgate histórico do bairro e do rio, incluindo o hidroporto, as salinas e os currais de pescas.
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O passeio educativo deste sábado, que acontece mensalmente na orla da Barra há pelo menos 10 anos, foi promovido pela Ambiental Ceará. Por meio da Parceria Público-Privada firmada com a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), a empresa é responsável pela ampliação, operação e manutenção do sistema de esgotamento sanitário de 24 cidades cearenses, incluindo a Capital.
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Diretora de Relações Institucionais da Ambiental Ceará, Águeda Muniz explica que a meta da gestão correta do esgoto é ajudar “rios, riachos, lagoas e nossos verdes mares a se tornarem balneáveis, para que o banho, a pesca e o entretenimento sejam uma constante em nossa cidade”.
Segundo dados de 2021 do Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento (SNIS), 55,95% da população de Fortaleza (1.512.529 habitantes) não têm acesso a esgotamento sanitário adequado.
É o caso de moradores do bairro Jardim Iracema, diz Luiz Carlos de Araújo, de 47 anos, uma das lideranças comunitárias convidadas para o passeio educativo. A principal pauta dele é buscar melhores condições de saneamento para o bairro, para, inclusive, reverberar em elementos naturais como o rio Ceará.
Na visão de Luiz Carlos, a proteção ambiental deve ser uma “força-tarefa” de múltiplos agentes, incluindo não só o poder público e a iniciativa privada, mas principalmente a população, que precisa de “mais entendimento”. “Deus é tão maravilhoso, deu tudo de graça para a gente e não cuidamos bem”, refletiu.
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Uma das educadoras presentes neste sábado, Francisca Silva, 53, fazia o trabalho em êxtase. “Me sinto envaidecida por fazer parte dessa história de mudança. Nós educamos que esse lixo e essa poluição vão diretamente para os oceanos. E os nossos oceanos estão gritando e chorando”, explicou.
“Sabemos que essa consciência ambiental não se constrói de um dia para o outro, mas é com esse trabalho que, de pouco em pouco, vamos criando um projeto de longo prazo”, complementou Francisca.
Natural de Acaraú, a autônoma mora na Barra há 50 anos e acompanhou diversos momentos da trajetória do bairro. Hoje, está diariamente às margens do rio, limpando sempre que pode, por acreditar haver “uma luz no fim do túnel” para o manancial. Seu maior desejo, disse, é um “rio com uma qualidade bem melhor”, sobretudo por ser sustento para muitas famílias de pescadores.
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Atualmente, a qualidade da água do rio Ceará é considerada regular, conforme dados da organização não-governamental SOS Mata Atlântica. Na análise mais recente, feita em 15 de agosto último, o manancial ficou com nota 33.
De acordo com Fernanda Almeida, que coordena os voluntários da SOS Mata Atlântica no Ceará, a balneabilidade do rio vem diminuindo. “Analisamos 14 parâmetros, desde a presença de lixo até a cor da água e a presença de coliformes fecais. Essa diminuição da qualidade impacta em diversos fatores, como a condição do pescado que se tira dali”, explica a turismóloga.
“Antigamente, esse rio era bem mais limpo”, contou Márcia Pereira, 51, uma das lideranças que participaram do passeio. “A gente tomava banho e conseguia enxergar uma ‘areiazinha’ no fundo. Com o descuido, ficou como está. Mas segue de fundamental importância para o Ceará”, acrescentou.
Defender o meio ambiente é uma das pautas do trabalho comunitário de Márcia. Isso não era tão presente entre lideranças em anos anteriores, ela lembrou, mas hoje já se entende melhor a necessidade de “cuidar da nossa casa”. “A natureza não está perdoando, precisamos reconstruir a nossa visão. A terra é de todos, para todos e não tem outra”, concluiu.
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