Dia Nacional do Surdo: comunidade faz passeata em Fortaleza para cobrar inclusão

Programação especial foi promovida durante cinco dias. Iniciativa visa reforçar a presença da comunidade e evidenciar as conquistas de uma luta que ainda continua

Em comemoração ao Dia Nacional do Surdo, celebrado anualmente no dia 26 de setembro, o Instituto Cearense de Educação de Surdos (Ices), em parceria com outras instituições, realizou, na manhã desta terça-feira, uma passeata em Fortaleza. A concentração de manifestantes se iniciou na Praça Luíza Távora, no bairro Aldeota, e o trajeto teve como destino final a sede do Instituto, na avenida Raul Barbosa. A marcha teve como objetivo destacar a presença da comunidade surda na sociedade e, ao mesmo tempo, cobrar políticas de acessibilidade e inclusão.

A diretora do Ices, Carla Alves, afirmou que o evento é realizado anualmente e reúne pessoas de diversas regiões do Ceará.

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“A gente chama toda a comunidade surda do Ceará, porque tem muita gente do Interior também. Está sendo pela primeira vez na Praça Luíza Távora, e é uma alusão a esse dia que é bastante histórico sobre as lutas do movimento surdo, tanto as conquistas como o que a gente ainda tem que dar o gás pela frente para conseguir”, disse.

A iniciativa faz parte do Setembro Azul, mês dedicado à conscientização sobre acessibilidade e comemoração das conquistas obtidas pela luta da comunidade.

O professor  de Libras no Creaece, Pedro Vieira, reforça que ainda há barreiras na comunicação para pessoas surdas em diversos lugares, como em hospitais, bancos e delegacias.

“Todos esses locais deveriam ter acessibilidade em Libras para melhorar a comunicação entre os ouvintes e as pessoas surdas, porque, hoje, ainda temos muitas limitações no que diz respeito à comunicação”, ressaltou, com apoio do intérprete de Libras Fernando Melo.

A dificuldade no acesso das pessoas surdas a serviços públicos também é recorrente, de acordo com o professor de Libras do Ices e do Creaece, Alexandre Rocha. 

“É uma questão de políticas públicas. Precisamos que o Estado crie concursos públicos para inserir intérpretes nos órgãos públicos. Ainda não temos intérpretes em todos os lugares para proporcionar acessibilidade e direitos iguais às pessoas surdas”, declarou Alexandre, com apoio do intérprete Fernando Melo.

A ex-presidente e atual membro da diretoria da Asce, Silvia Helena Felix, participa do movimento há 40 anos e, para ela, a valorização da Língua Brasileira de Sinais é fundamental para que a comunidade possa ter visibilidade.

“Surdos, cegos e ouvintes, a diversidade também é muito bem-vinda aqui nesse movimento [...] Os ouvintes precisam participar da comunidade surda, da associação de surdos e ter esse entendimento da língua de sinais, da cultura surda e ajudar a difundir para outros surdos da sociedade brasileira”, finalizou Silvia, com apoio da intérprete Karla Oliveira.

O Ieces, juntamente com outras organizações, como o Centro de Referência em Educação e Atendimento Especializado do Ceará (Creace) e a Associação dos Surdos do Ceará (Asce), elaborou uma programação especial que teve início na última quinta-feira, 21, e prosseguiu até esta terça.

Além da passeata, a ação contou com contação de história em Libras (Língua Brasileira de Sinais), aula de zumba, oficinas, palestras e um show de pagode para encerrar a programação. (Colaborou Levi Macêdo/Especial para O POVO)

O ensino de Libras nas escolas

Uma das organizações que marcaram presença na passeata foi o Instituto Filippo Smaldone, que oferece atendimento educacional a crianças e adolescentes com deficiência auditiva na Capital.

A professora Pâmela Soares, que leciona a disciplina de Português no Instituto, destacou que a ação realizada na praça coloca o surdo como protagonista e oferece uma possibilidade para que os ouvintes possam conhecer mais sobre a comunidade surda.

A docente também explicou que o Instituto recebe alunos com diferentes graus de surdez e que todos os integrantes da instituição sabem Libras, além da língua ser ofertada para os familiares dos alunos e outras pessoas que compõem a escola.

“A nossa escola é bilíngue. Há alunos com diversos graus de surdez, assim como há alguns que ouvem bem. É bem inclusivo, porque os professores sabem Libras, o corpo da escola sabe Libras. Então, é muito inclusiva porque tem muitos intérpretes, e todos os professores são capacitados para lecionar”,

Além do Instituto Filippo Smaldone, alunos e professores da Escola Municipal de Educação Bilíngue Francisco Suderland Bastos Mota, primeira unidade de educação integral bilíngue de Fortaleza, e da Escola Estadual de Educação Profissional (EEEP) Joaquim Nogueira estiveram na marcha.

 

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