Ceará completa 15 anos de transplantes de medula óssea gratuitos
Parceria da rede pública de saúde realizou mais de 700 transplantes desde 2008.
15:07 | Set. 26, 2023
O Ceará celebra, na manhã desta terça-feira, 26, os 15 anos de realização de Transplantes de Medula Óssea (TMO) na rede pública de saúde. Em evento realizado no auditório do Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce), autoridades e profissionais da área, além de alguns dos pacientes transplantados, relembraram o percurso traçado desde o dia 26 de setembro de 2008, quando foi realizada a primeira operação.
O serviço é oferecido em parceria com o Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) e, ao longo desse período, já foram mais de 760 transplantes gratuitos. Essencial para o tratamento de doenças no sangue, o trabalho tem salvado vidas de mais de 70 municípios do Ceará e de outros estados, conforme o Hemoce.
Leia mais
Esse foi o caso de Erisleudo, 37, natural da cidade de Quixeré, a 201 km de Fortaleza, e transplantado em 2014, a partir da doação do irmão. Nove anos após a operação, o cearense agradece a nova oportunidade de seguir seus objetivos.
“Primeiramente, o que eu tenho é que agradecer a Deus, né? Depois, a equipe médica, meu irmão e todos que me apoiaram [...] O meu transplante em si, se eu fosse pagar, eu não tinha condições”, conta o agricultor.
Homem de fé, ele também incentiva pessoas que estejam passando pelas dificuldades impostas por doenças. “Eu sou prova viva. O que eu tenho para dizer é que você nunca desista dos seus sonhos. Se você tem fé que vai dar certo e que você vai viver, vá em frente que você consegue. A fé move montanhas”, acrescenta.
Para o coordenador do núcleo de medula óssea do Hemoce, Fernando Barroso, o caso de Erisleudo é mais um exemplo da eficácia e da importância do acesso da população a esse serviço.
“Ter isso dentro de um serviço público, disponível para a população, é o que nos orgulha muito, porque é um serviço de muita qualidade, que tem resultados comparados aos melhores hospitais do Brasil e do mundo, públicos e privados”, conta o também professor do curso de Medicina da UFC.
De acordo com ele, um dos mais significativos resultados dessa parceria aconteceu em 2020, em meio à pandemia de Covid-19, quando o HUWC teve o sétimo maior número de operações realizadas (52) entre entre 120 hospitais transplantadores de todo o País.
Para melhorar ainda mais esses resultados, a administração do HUWC informou esperar a conclusão do Complexo Hospitalar da UFC/Ebserh, que irá dispor de 180 novos leitos para a população, entre eles os destinados aos TMOs. O projeto consiste em quatro obras, que estão em andamento até os dias atuais.
Questionado pelo O POVO sobre o andamento das obras, o HUWC afirmou que a previsão é de que as reformas sejam entregues em março de 2024, aumentando de quatro para oito o número de leitos destinados a TMO.
Como ser um doador de medula óssea
Todo o trabalho realizado pelo Hemoce e pelo HUWC depende diretamente da colaboração de doadores voluntários. O gesto é feito a partir de um cadastro que pode ser realizado em qualquer sede ou ação externa do Hemoce, onde será necessário apresentar apenas um documento com foto.
Para participar da rede de doadores, é necessário cumprir alguns critérios, como ter entre 18 e 35 anos e não possuir histórico de câncer. No cadastro, serão coletadas informações em um formulário, além de um número de telefone e uma amostra de sangue do candidato para a realização de testes.
Segundo a diretora-geral do Centro, Luciana Carlos, esse simples ato pode representar uma grande diferença na vida dos pacientes. “A possibilidade de fazer um transplante de medula muitas vezes é a única chance de tratamento para os pacientes. Encontrar esse doador compatível rapidamente, em um momento certo, é crucial, e a gente só consegue fazer isso a partir deste cadastro”, explica.
Hoje, o Hemoce é a única unidade pública a realizar o transplante no Estado, que só dispõe do serviço em outros quatro hospitais da rede privada. No evento, a secretária da Saúde do Ceará, Tânia Mara Coelho, comentou a possibilidade de uma nova sede desse serviço, desta vez de competência estadual.
“Nós estamos ainda na entrega do Hospital Universitário da Uece, que também vai ser referência em várias especialidades, e a gente quer que o hospital da Uece seja referência tanto em oncologia quanto hemato oncologia e também seja referência em transplante. Eu acredito que o Hospital da Uece vai ser uma outra unidade, do Ceará, da nossa rede, que irá realizar transplante de medula óssea”, disse a titular.
Profissionais da saúde cobram o governo estadual
Durante a fala da secretária da Saúde, profissionais da área, vinculados ao Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado do Ceará (Sindsaúde), realizaram uma breve manifestação.
Dois trabalhadores estiveram presentes na solenidade e, com faixas, questionaram a Secretaria da Saúde (Sesa) sobre os pagamentos de ascensões funcionais, reenquadramento de técnicos de enfermagem e erros no cadastro de profissionais da antiga Funsaúde.
“Nós passamos dez anos com essas ascensões atrasadas, em 2019 nós conseguimos, e já está com três anos de atraso novamente. Então, nós queremos tratar com o Governo essas pautas para que se avance, porque até agora só existem promessas de que está tudo pronto para pagar, só que até agora nada”, afirma o diretor do Sindsaúde, Glayson Melo.
Além da manifestação no evento, os servidores pretendem realizar um ato na manhã desta quarta-feira, 27, na entrada da Sesa, para buscar diálogo dessas e de outras pautas.