"A gente está buscando o que é certo: a justiça", diz mãe do Curió após sentenças do 3º júri
As mães e autoridades jurídicas acreditam que as condenações são necessárias para garantir a "memória correta" das vítimas, além de evitar tragédias parecidas“A gente está aqui buscando o que é certo e correto: a justiça”, disse Edna Carla, mãe de uma das vítimas da Chacina do Curió, após o resultado do terceiro julgamento, emitido neste sábado, 16. Na situação, dois policiais militares foram condenados e outros seis absolvidos de todas as acusações.
As mães e autoridades jurídicas acreditam que as condenações são necessárias para garantir a “memória correta” das vítimas, além de evitar tragédias parecidas no futuro.
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“Quando a chacina aconteceu, a gente percorreu um longo caminho. Um caminho doloroso, triste e de muitas lágrimas”, relembra Edna. “A princípio era tudo incerteza. Incerteza se a justiça iria acontecer, porque, aqui dentro do Ceará, a gente não tinha visto ainda policiais sendo condenados pelos seus crimes.”
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“Não vou dizer graças a Deus [pelas condenações] porque não devemos dar graças a Deus pela desgraça de ninguém. Eles praticaram esses crimes e estamos aqui porque precisamos ter essa resposta para os nossos filhos”, continua.
No primeiro julgamento, quatro acusados foram julgados por execução e quatro foram condenados. No segundo, oito réus foram acusados de omissão do dever de agir, mas todos foram absolvidos.
Dessa vez, oito policiais militares foram julgados por omissão, três tentativas de homicídio e tortura física e psicológica. Dois PMs foram condenados. Outros seis foram absolvidos, sendo que um deles teve o crime de tentativa de homicídio desclassificado para crime militar.
“A memória precisa ser respeitada, a dignidade [precisa] ser respeitada. Pela memória, pela dignidade e pela justiça”, diz Elizabeth chagas, defensora geral do Ceará.
“A gente tá aqui para ser a voz dessas mães e também para trazer a elas a memória correta dos filhos delas. No início, foi colocado que os filhos estariam envolvidos com alguma coisa errada, [mas] nenhuma dessas pessoas, desses filhos estavam envolvidos com absolutamente nada”, completa Elizabeth.
"Sistema de Justiça do Ceará dá um exemplo para o Brasil", diz procurador-geral
O procurador-geral de justiça do Estado do Ceará, Manuel Pinheiro, acredita que o julgamento evidenciou o sistema judiciário cearense como um exemplo para o Brasil.
“Um exemplo de como as instituições são capazes de funcionar corretamente. O que nós vimos nesse processo longo, doloroso e de quase oito anos foi uma resposta civilizada a partir do trabalho da Polícia Judiciária que, em circunstâncias muito difíceis, conseguiu identificar uma parte dos autores dos crimes e reunir provas”, avalia.
Ele destaca a atuação dos diversos agentes que participaram do processo, ao longo dos últimos 8 anos, como promotores, defensores e advogados.
Freitas também elogia a luta do coletivo Mães e Familiares do Curió pelas reações aos julgamentos. "Seja julgamentos que terminem em condenações, sejam absolvições, (reagem) mantendo a serenidade, mesmo diante de tanta dor, mantendo a confiança na Justiça."
Com informações da repórter Jéssika Sisnando
Sentenças do terceiro julgamento da Chacina do Curió
- Antônio Carlos Matos Marçal - teve crime de tentativa de homicídio desclassificado para crime militar; foi absolvido das demais acusações
- Antônio Flauber de Melo Brazil - absolvido de todas as acusações
- Clênio Silva da Costa - absolvido de todas as acusações
- Francisco Helder de Sousa Filho - absolvido de todas as acusações
- Igor Bethoven Sousa de Oliveira - absolvido de todas as acusações
- José Oliveira do Nascimento - condenado a 210 anos e 9 meses em regime inicial fechado e perda de cargo. A condenação se deve aos crimes de homicídio qualificado (9 vezes), homicídio simples (2 vezes), tentativa de homicídio qualificado (2 vezes), tentativa de homicídio simples (1 vez), três torturas físicas e uma tortura mental
- José Wagner Silva de Souza - condenado a 13 anos e 5 meses pelo cometimento de duas torturas físicas e uma mental, além da perda do cargo de policial militar, após o trânsito em julgado. Ele terá o direito de apelar em liberdade
- Maria Bárbara Moreira - absolvida de todas as acusações