Sentença dos oito PMs do terceiro julgamento da Chacina do Curió deve sair neste sábado, 16

MP mostra que réus teriam mentido no interrogatório. Defesa rebate com teses de negativa autoria e insuficiência de provas

22:19 | Set. 15, 2023

Por: Bruna Lira
Oito PMs são réus nesta fase do julgamento da chacina (foto: J. Paulo Oliveira / TJCE)

A sentença dos oito policiais militares acusados de torturar psicologicamente uma das vítimas da Chacina do Curió deve sair neste sábado, 16. A votação dos jurados será iniciada às 9 horas, no Fórum Clóvis Beviláqua, e também levará em conta se os PMs foram omissos nos 11 homicídios, três tentativas de homicídio e outros três casos de tortura, ocorridos naquela noite nos bairros Lagoa Redonda, Curió, Barroso e no Conjunto São Miguel. 

Durante debate entre defesa e acusação, realizado na sexta-feira, 15, o Ministério Público apresentou gravações dizendo que os réus teriam contado versões diferentes dos fatos ao longo do processo. Isto porque, à época, os agentes diziam que não utilizavam armas longas, nem teriam visto os locais dos crimes já com viaturas posicionadas. 

Outro ponto foi a apresentação de um documento do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) dizendo que, naquela madrugada, somente duas ambulâncias foram deslocadas para a área, para prestar socorro a dois sobreviventes da chacina. O MPCE diz, portanto, que não haveria ambulâncias próximas às ocorrências que os policiais dizem ter presenciado.

Uma fonte ligada ao MPCE, que preferiu não se identificar, disse que já existia essa "carta na manga" para ser apresentada na fase dos debates. "Já havia vários pontos de inconsistências detectados e esse documento emitido pelo Samu confirma isso. Alguns dos réu contaram uma história na DAI e outra em juízo", afirmou. 

Defesa sugere abertura de nova investigação

A defesa dos réus argumentou no debate que não tinha como as viaturas estarem em todos os episódios, participando ou se omitindo, pela distância geográfica entre eles. O advogado Cícero Roberto solicitou às famílias das vítimas que "conclamem ao Procurador Geral para que façam uma nova investigação", desta vez com a Polícia Federal à frente.

Ao se referir às mães das vítimas como “mãezinhas”, a defesa pediu para que não “deixem que seus entes queridos sejam esquecidos por esta falsa acusação”. “Vamos para onde a bússola aponta. O crime anda longe de prescrever. [...] Nós [defesa] também queremos saber quem são os matadores", disse o advogado.

Cícero Roberto apresentou um vídeo da viatura da Cavalaria sendo seguida por duas ambulâncias, segundo ele, confirmando a versão dos réus de que teriam auxiliado o Samu naquela noite orientando duas ambulâncias que estavam perdidas nas ruas do bairro.

“Que pressa foi essa? Para que se afobar tanto com essas investigações, para fazer doer ainda mais a família das vítimas e a família desses inocentes?”, indaga.

A defesa dos réus também comparou os depoimentos da vítima na DAI e em juízo, para apresentar inconsistências. “Ele omite informações simples e introdutórias no depoimento. Ele mente desde o início e é o pivô dessa parte do julgamento. Esse júri é totalmente baseado no que ele disse na Delegacia”, pondera o advogado.

A defesa ressaltou, ainda, que a denúncia oferecida pela MPCE foi seletiva e não levou os oficiais da PM ao banco dos réus. “Essa denúncia é seletiva. Tem major que foi lá. Foram indiciados pelas delegadas e não estão aqui. Quem estão aqui são os pracinhas”, afirma.


(Com informações da repórter Marcia Feitosa)