Chacina do Curió: acusação mostra áudios de supostos policiais falando em "reprimir" e "matar uns 40"

Fase de debates antecede votação dos jurados e, nessa etapa, acusação e defesa tem 2h30min cada para expor os argumentos

14:51 | Set. 15, 2023

Por: Cotidiano O POVO
Imagem de apoio ilustrativo. Fase de debate do terceiro julgamento da Chacina do Curió iniciou com apresentação de argumentos pela acusação (foto: FÁBIO LIMA)

A fase de debates entre acusação e defesa do terceiro julgamento da Chacina do Curió teve início nesta sexta-feira, 15, logo após o fim dos interrogatórios dos oito policiais que estão sendo julgados pelo crime de tortura.

A etapa começou com a apresentação de argumentos pela condenação dos réus. O Ministério Público do Ceará (MPCE) realizou uma contextualização sobre os casos de violência registrados na região do Curió antes da chacina.

A acusação também apresentou áudios de comunicação, supostamente de policiais militares, em que falavam sobre “reprimir as pessoas do bairro”. Um dos agentes teria falado em realizar uma chacina “para matar uns 40”. A ação seria uma forma de vingança pela morte do policial Valtemberg Chaves Serpa, vítima de um latrocínio.

Áudios das ligações feitas pela população para a Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops) também foram apresentadas no Fórum.

Em uma das ligações, uma pessoa teria solicitado atendimento ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), e o atendente respondeu que a equipe apenas poderia ir se a Polícia estivesse no local. O solicitante afirmou que já tinha ligado para a Polícia e, pouco tempo depois, a chamada foi encerrada.

Chacina do Curió: Denúncia de tortura psicológica

O Ministério Público relembrou o depoimento da vítima que relatou ter sofrido tortura psicológica pelos policiais militares que o abordaram. O jovem afirmou que passou a ser visto como suspeito após os agentes olharem mensagens no celular dele. Uma delas, enviada por um amigo, recomendava que ele ficasse em casa, pois o “Reservado estava na área”.

De acordo com a acusação, o sobrevivente abordado afirmou que a tortura teria acontecido com o uso de uma arma longa, e o relato seria diferente do que foi dito pelos réus.

Nos interrogatórios, alguns policiais afirmaram que não faziam uso de armas longas. Em depoimento feito nessa quinta-feira, 14, o policial Antonio Flauber de Melo Brazil, por exemplo, afirmou que não sabia quais viaturas faziam uso de armas longas, mas apontou que os veículos de inteligência não utilizavam o equipamento, enquanto as viaturas operacionais com mais de três pessoas usavam.

A defesa destacou que o policial Igor Bethoven de Sousa teria afirmado, em depoimento, que havia duas armas longas e apontou possível inconsistência no que foi apontado pela acusação.

Parte dos réus também negou que excessos foram registrados durante a abordagem, justificando que a vítima teria, inclusive, preferido voltar para casa na viatura com os policiais após não ter sido reconhecido no Batalhão.

A acusação, por outro lado, pontuou que o jovem relatou que passou a ser “bem tratado” pelos policiais somente após o reconhecimento. O sobrevivente também explicou que soube de tiroteios na região a partir do rádio da viatura e por esse motivo não quis voltar para casa a pé.