Terceiro júri da Chacina do Curió segue para reta final com debate entre defesa e acusação

Quatro réus foram ouvidos e negam que tenham praticado tortura psicológica contra uma vítima ou se omitido de atender ocorrências, na noite da matança

Os interrogatórios de quarto dos oito réus do terceiro júri dos policiais militares acusados de torturar uma das vítimas da Chacina do Curió, foram realizados nesta quinta feita, 14. Prestaram depoimento dois policiais da antiga Coordenadoria de Inteligência Policial (CIP) e dois policiais que estavam em uma viatura da Cavalaria, na noite da chacina. Antes de ser iniciado o debate entre defesa e acusação, apenas a ré Maria Bárbara Moreira ainda será ouvida.

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Antônio Flauber de Melo Brazil e Clenio Silva da Costa estavam na viatura descaracterizada da CIP e afirmam que passaram o dia em outra ocorrência envolvendo um policial e à noite receberam a missão de fazer levantamentos sobre a morte do soldado Valtembergue Chaves Serpa, na Lagoa Redonda. Clenio diz que foi incluído no processo por uma “confusão da promotora Joseana França entre o que é Inteligência e o que é Reservado”.

“Nós não fomos nem ouvidos pela Delegacia de Assuntos Internos (DAI). A força-tarefa formada por três delegadas, que o Ministério Pública chama de ‘heroínas do Curió’, não encontrou nenhuma prova contra nós. O comandante geral [da PM] falou com uma dessas delegadas e ela disse tinha entendido que nosso trabalho era diferente e não tínhamos nada a ver. Depois, eu fui preso sem ser nem ouvido”, afirmou o sargento.

O militar também afirma que soube de várias lesões à bala na região da Grande Messejana e pediu que a Ciops avisasse ao supervisor da Capital, coronel Plauto de Lima. “Eu vi a viatura dele no local. Passei por dois locais de crime e pedi pra Ciops acioná-lo”, disse em depoimento.

O policial também confirmou que duas patrulhas do Batalhão de Policiamento de Rondas e Ações Intensivas e Ostensivas (BPRaio) acompanharam, em alguns momentos, o comboio em que estavam as viaturas da CIP, do Serviço Reservado do 16°BPM e a viatura da Cavalaria.

“Penso que esses homens de roupa preta e de balaclava que são descritos nesse episódio podem ser eles, porque são autorizados a utilizar balaclava e estiveram lá”, afirmou.

O soldado Igor Bethoven Sousa de Oliveira, que estava na viatura da Cavalaria, disse que a abordagem em que a vítima acusa os policiais de tortura psicológica foi “tática e correta”.

Ele confirma também viu composições do Raio e do BPChoque, na praça da igreja de São José. O soldado relata que de lá seguiu para auxiliar o Samu. “Duas ambulâncias foram solicitadas para atendimento a feridos e estavam perdidas, sem encontrar as ruas. Nós seguimos com essas ambulâncias para fazer o socorro das vítimas e de lá fomos para a Cavaria”, contou.

Exaustão de familiares

Uma familiar de um dos mortos na chacina, que não quis se identificar, disse que a rotina tem sido exaustiva. “São dois juris praticamente juntos, ouvindo esse mesmo disco arranhado dizendo a mesma coisa. Versões iguais, beirando a santidade”, disse.

O defensor público, Márcio Maranhão, que atua no júri como assistente de acusação disse que o julgamento tem transcorrido de forma pacífica, mas percebe o cansaço dos familiares, especialmente das mães das vítimas da chacina.

“As mães estão bem aflitas, bem cansadas em relação todos esses dias de julgamento. A defensoria está tentando fazer essa parte entre o MPCE e as mães, prestando todas as informações que elas precisam para se sentirem acolhidas” disse Maranhão.

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