Chacina do Curió: sobrevivente diz que supostos policiais não fizeram perguntas antes de atirar
Vítima estava acompanhada da irmã e de quatro dos 11 mortos na tragédia. Em depoimento, relatou ter ficado dois anos em tratamento pelas lesões causadas por tirosO segundo dia do terceiro júri da Chacina do Curió foi iniciado na manhã desta quarta-feira, 13, no Fórum Clóvis Beviláqua, em Fortaleza. O quarto sobrevivente a depor narrou os momentos em que esteve rendido pelos supostos policiais militares, que atiraram subitamente contra ele, conforme relato.
Segundo a vítima, ele conversava com a irmã e outros quatro amigos, Pedro, Alef, Alisson e Jardel, todos vítimas da Chacina, quando avistou um carro passando lentamente e com vidro semiaberto.
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Momentos depois alguns homens desceram do carro e se identificaram como policiais, conforme a vítima, que informou não lembrar se eles estavam fardados, apenas que um deles tinha o rosto coberto e usava roupas pretas.
Ao abordar os jovens, os supostos policiais teriam dito: “Cadê? Cadê?”. Sem saber da morte do soldado Serpa, da PM, os jovens foram chutados e ficaram de joelhos, conforme ele.
Nesse momento, a vítima conta que os homens não fizeram perguntas, apenas se afastaram e começaram a atirar. Sem a dimensão do que estava acontecendo, ele disse que só se deu conta de que havia sido alvejado quando sentiu a perfuração da bala e viu um dos amigos caindo. Com exceção da irmã, todos os jovens foram atingidos.
O jovem foi prontamente socorrido pelos pais e por vizinhos que o colocaram em um carro em busca de socorro. No meio do caminho, o veículo ainda foi abordado por homens que mandaram o automóvel parar.
Vítima fala sobre sequelas após a Chacina do Curió
De acordo com a vítima, o ataque deixou sequelas no seu braço esquerdo e o cotovelo "não funciona mais". No depoimento, ele disse ter dificuldade para correr e pular, além da perda de metade do pulmão e cicatrizes por todo o corpo, inclusive na cabeça.
A defesa perguntou se ele soube de viaturas passando com a presença de uma policial loira. Ele negou. Questionado pelo juiz se as vítimas tinham cabelo loiro ou tingido, ele citou dois, Jardel e Alef.
O tratamento das sequelas físicas durou quase dois. Após a tragédia, a família inteira deixou o local. Ele contou trabalhar hoje com "bicos" de entregador, que “faz o que dá para sobreviver”.
Os irmãos dele, ainda conforme o relato, até hoje vivem com medo. “Coisas que eu desconhecia, eu adquiri [...] A família toda fica apreensiva, principalmente eu e minha irmã. Não tem mais a vida de antes”, disse o jovem.