Chacina do Curió: sobrevivente relata que se escondeu debaixo de carro

Vítima estava com o primo e quatro dos 11 mortos na Chacina. Ela ouviu os amigos serem assassinados a tiros

12:36 | Set. 13, 2023

Por: Cotidiano O POVO
Imagem de apoio ilustrativo. Traumatizada pelo episódio da Chacina, a jovem relata que se mudou do local onde morava e não conseguiu voltar a trabalhar (foto: FERNANDA BARROS)

A quinta de seis sobreviventes previstos para depor no terceiro júri da Chacina do Curió foi ouvida na manhã desta quarta-feira, 13. A vítima preferiu falar sem a presença dos policiais militares, acusados de tortura nesta nova etapa de julgamento. Em seu depoimento, ela disse que se escondeu debaixo de um carro para não morrer.

A depoente conversava com o primo e quatro amigos, Jardel, Alison, Pedro e Alef, todos vítimas da Chacina que aconteceu entre a noite e a madrugada dos dias 11 e 12 de novembro de 2015.

Como era de costume, eles estavam em uma calçada da rua Lucimar Oliveira, na Grande Messejana, quando começaram a ver alguns veículos descendo a rua. A jovem relata ter imaginado que poderiam ser policiais e disse: “Vamos ficar quietos, pois não devemos nada”.

Logo em seguida, vários homens de roupas escuras e algo parecido com um touca desceram de um veículo e afirmaram ser policiais, conforme ela. O primo dela então foi agredido com socos, enquanto o grupo dos supostos policiais perguntava: “Cadê? Cadê?”. 

Sem entender o que eles procuravam, os jovens disseram que não sabiam e foram colocados de joelhos. A jovem correu por dois quarteirões, entrando na rua mais próxima à casa onde estavam. Ao olhar para trás, disse  ter visto uma pessoa atirando e se escondeu debaixo de um carro.

Naquele momento, conforme ela, um automóvel parou na esquina onde a garota estava e segundos depois partiu. Escondida, ouviu vários tiros. Socorrida pela mãe, saiu sem saber que os quatro de seus amigos haviam sido assassinados.

De acordo com elas, os homens procuravam por pessoas loiras, cor do cabelo de um dos suspeitos de matar Serpa. Ela contou que apenas o primo fazia mechas, e nenhum deles tinha nada que chamasse atenção, como tatuagens, por exemplo.

Ela afirmou que as vítimas eram estudantes, trabalhadoras, e mencionou que Alison trabalhava todos os dias. À época auxiliar de professor em uma escola da região, ela se mudou no dia seguinte e hoje não trabalha.

Os pais são reservados e ela tem medo de sair de casa, conforme relatou. Depois do que passou, não voltou nem ao bairro, nem à sala de aula. Traumatizada, disse que trancou o curso e nunca mais conseguiu exercer a profissão.