Construção de home center em área verde em Fortaleza preocupa ambientalistas

Empresa de materiais de construção, reforma e decoração, responsável pela implantação do projeto, disse que haverá espaços verdes urbanizados e plantio de 4.500 plantas. Local trata-se de um terreno alagadiço, responsável por prevenir alagamentos na cidade, e conta com a presença ainda de espécies aquáticas e terrestres

Com poucas áreas verdes à vista e sob domínio de prédios e propriedades urbanas, Fortaleza deve receber mais um empreendimento da construção civil em um dos poucos ambientes de vegetação viva existentes na Capital. No bairro Luciano Cavalcante, atualmente, um home center deu início às obras de infraestrutura para a futura instalação do projeto na região, que abrange cerca de 103 mil metros quadrados, equivalente a um campo de futebol.

O POVO esteve no local no último dia 1º e constatou trabalhadores em serviços na área, que está cercada por tapumes para impedir o acesso à região. Responsável pela implantação do projeto, que se trata de uma loja de materiais de construção, reforma e decoração, a empresa Ferreira Costa, de Pernambuco, informou, em nota, que a obra não tem previsão de início dos serviços de construção do local, apenas o de infraestrutura.

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“O grupo informa que está executando as obras de infraestrutura exigidas pela Prefeitura devidamente licenciadas pelos órgãos competentes. O Home Center Ferreira Costa é uma empresa centenária que por onde passa tem como foco fazer a diferença onde está inserida, com responsabilidade socioambiental, sendo a sustentabilidade um dos grandes pilares da empresa”, disse em nota.

De acordo com o biólogo e professor do curso de Ciências Ambientais do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará (UFC), Marcelo Freire Moro, a região trata-se de um terreno alagadiço, com um brejo. Esse tipo de terreno é responsável por prevenir alagamentos na Cidade, visto que a região acumula água evitando possíveis enchentes.

Marcelo ressalta que o local também é um espaço de reprodução aquática e terrestre, com a presença de cassacos, soins e sapos. “As pessoas não percebem, mas esses animais nativos estão dentro da nossa cidade e ainda exploram essas áreas verdes para conseguirem sobreviver. À medida que a gente vai desmatando, eles vão ficando completamente sem opção. Se eles forem ter que construir ali, além de tirar as árvores, ou seja, desmatar a área, vão ter que aterrar o brejo”, alerta o especialista.

No local, a população do entorno se perguntou sobre o objetivo da construção na zona. A comerciante Priscila Costa, 34, que trabalha na região há três anos, disse que nunca tinha visto a área fechada e ficou curiosa. “Está com algumas semanas que fecharam aqui, mas não vi nada dizendo o que seria feito. Penso que poderia ser mais um shopping porque aqui é bem grande. É preocupante quando a gente vê mais uma construção em um local verde na cidade", comenta.

A preocupação é compartilhada pelo aposentado e morador da região Marcondes Dias, 62. “A gente sabe que a cidade vai sempre mudando, todo dia é um prédio novo sendo construído, mas a gente precisa também olhar para o meio ambiente. Aqui sempre foi dessa forma, nunca foi desmatado. Se for construir, espero que eles pensem nessa área com responsabilidade. A gente também precisa deixar a cidade com suas riquezas naturais”, disse.

O POVO questionou à Secretaria Municipal do Urbanismo e Meio Ambiente de Fortaleza (Seuma) sobre quais as características da área verde no bairro Luciano Cavalcante. Assim como se a região é protegida legalmente e como ela se enquadra, como uma Zona de Preservação Ambiental (ZPA) ou Área de Proteção Ambiental (APA), por exemplo.

Em nota enviada nesta terça-feira, 12, a Seuma informou que o empreendimento não está localizado em Área de Proteção Ambiental (APA) e sim, parcialmente, em Zona de Preservação Ambiental (ZPA 1). A pasta informou que "o local será preservado, conforme o Plano Diretor Participativo, que não permite parcelamento do solo nem construção de edificações".

Ainda segundo a Seuma, um novo processo de licenças deverá ser aberto para o início, de fato, da construção do empreendimento. A Seuma pontuou que, atualmente, as intervenções no local tratam da obra de parcelamento do solo, com a implantação de ruas (sistema viário público), doação de áreas verdes (urbanizadas) e áreas institucionais.

Seuma diz que projeto segue legislação vigente

Sobre a construção da loja, a Secretaria Municipal do Urbanismo e Meio Ambiente de Fortaleza (Seuma) disse ao O POVO, na terça-feira, 5, que o projeto manterá as áreas de Zona de Preservação Ambiental do local. A Seuma informou que o empreendimento foi objeto de licenciamento urbanístico e ambiental, tendo sido "ambos finalizados e emitidos após análises fundamentadas nas legislações vigentes".

Ainda segundo a pasta, responsável pela preservação de áreas ambientais da Cidade, o projeto também prevê a construção de espaços verdes urbanizados para uso da população. O empreendimento também deve realizar o plantio de cerca de 4.500 plantas.

O POVO questionou à empresa Ferreira Costa sobre como o projeto está articulado na Capital e quais medidas serão adotadas para preservar a área verde. A empresa informou, na última sexta-feira, 8, que o empreendimento ainda não tem um projeto firmado e que não há previsão para a conclusão. A empresa apenas confirmou o plantio de espaços verdes e plantas no local e ressaltou seguir cumprindo as normas da Seuma.

Confira imagens do local

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