Professor de colégio estadual denuncia homofobia enquanto lecionava

O professor de Português e Redação Lúcio Flávio Gondim, de 30 anos, discutiu com aluno durante a aula sobre falas homofóbicas

Lúcio Flávio Gondim, 30, colunista do Vida & Arte do O POVO, denuncia ter sido vítima de homofobia enquanto dava aula na Escola Integrada 2 de Maio, localizada no Bairro Passaré, em Fortaleza, na última terça-feira, 29 de agosto. O docente leciona Português e Redação na unidade de ensino da rede estadual de educação.

Após o professor indagar o porquê de os estudantes proferirem xingamentos o tempo inteiro com apelidos de cunho homofóbico, um aluno disse para toda a turma do 2° ano do ensino médio que ser gay era ruim. Para isso, teria argumentado usando versos da Bíblia.

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Lúcio então conta ter informado ao aluno que havia crime nas declarações dele, sobretudo porque o adolescente teria conhecimento da orientação sexual e estaria falando com consciência de que estava sendo desrespeitoso.

O estudante, no entanto, seguiu com a fala, conforme o professor. Lúcio solicitou que ele saísse da sala e, após o ocorrido, continuou lecionando nos dias seguintes.

Um dia depois da discussão, 30 de agosto, o professor registrou dois Boletins de Ocorrência (B.O) pelos diversos e cotidianos episódios, sutis ou não, de discriminação. 

“Acho que é importante a denúncia porque é um sintoma do que vários profissionais passam. É interessante pensar que o discurso religioso é o foco desse preconceito. Ele usou a bíblia para justificar como ser gay era ruim. E teve algum apoio em sala", disse.

"Há uma confusão entre crença, ou dogma, e liberdade de expressão. Muitos se surpreendem e não aceitam que a Constituição possa ser mais importante que a Bíblia na formação das estruturas sociais”, acrescenta o docente.

Ele também reflete que, se a situação fosse o oposto, ou seja, um professor sendo homofóbico com um aluno, a repercussão seria outra.

O professor entende que isso faz parte de uma conjuntura homofóbica e reitera que o episódio foi o ápice de muitos meses sofrendo micro agressões.

“Palavras como ‘viado’, ‘baitola’, são absolutamente frequentes e servem como xingamentos. Também ouço sussurros, gestos, muitas fake news a meu respeito. Acho interessante começarmos a equipararmos essas questões e mostrar as violências sofridas pelos profissionais da Educação", ressalta.

Gestão da escola acolhe professor vítima de homofobia

A Secretaria da Educação do Ceará (Seduc-CE) afirma que a gestão escolar encaminhou o fato ao Conselho Escolar para análise. O Conselho é formado pela representação de todos os segmentos que compõem a comunidade escolar, incluindo alunos, professores, pais ou responsáveis, funcionários, gestores e comunidade externa.

Também estão sendo realizados momentos de escuta e diálogo com os estudantes e os profissionais, conforme a Seduc. Além disso, a pasta diz estar realizando rodas de conversas, palestras e apresentações sobre a temática, com a participação do grêmio estudantil, para a comunidade escolar.

“A ação tem o intuito de promover uma educação comprometida com a erradicação de todas as formas de discriminação e a promoção dos princípios de respeito aos direitos humanos e à diversidade”, diz a nota enviada ao O POVO.

A pasta ainda pontuou que repudia todas as formas de discriminação e pauta sua atuação tendo esse norte e, por meio da Superintendência das Escolas Estaduais de Fortaleza (Sefor), tem acompanhado o caso.

O Sindicato dos Servidores Públicos Lotados nas Secretarias de Educação e de Cultura do Estado do Ceará e nas Secretarias ou Departamentos de Educação (APEOC) prestou, por meio de nota, solidariedade ao professor. 

“Vale ressaltar que se faz necessário pôr em prática os direitos LGBT+, amparados por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que equiparou o crime de homofobia ao de injúria racial. O Sindicato APEOC e toda a sua diretoria repudiam veementemente qualquer tipo de preconceito, seja por raça, orientação sexual ou gênero, e ficam à disposição do docente. HOMOFOBIA NÃO!”, diz um trecho.

Investigações seguem em andamento

A Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE) informou apurar as circunstâncias do crime configurado como preconceito de raça ou de cor, por conduta homofóbica, registrado por meio de B.O.

O caso está a cargo do 16° Distrito Policial (DP), que realiza oitivas e diligências, com foco em apurar os detalhes do fato. (Colaborou Gabriela Almeida)

Denúncias

A SSPDS reforça que a população pode contribuir com as investigações repassando informações, com sigilo e anonimato garantidos.

Disque-Denúncia: 181
WhatsApp da SSPDS: (85) 3101 0181
16º Distrito Policial (16º DP): (85) 3101 2952

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