Professor de colégio estadual denuncia homofobia enquanto lecionava

O professor de Português e Redação Lúcio Flávio Gondim, de 30 anos, discutiu com aluno durante a aula sobre falas homofóbicas

09:31 | Set. 06, 2023

Por: Gabriel Gago
Professor de escola estadual em Fortaleza denuncia ter sido vítima de homofobia enquanto dava aula (foto: Escola II de Maio/Google Maps)

Lúcio Flávio Gondim, 30, colunista do Vida & Arte do O POVO, denuncia ter sido vítima de homofobia enquanto dava aula na Escola Integrada 2 de Maio, localizada no Bairro Passaré, em Fortaleza, na última terça-feira, 29 de agosto. O docente leciona Português e Redação na unidade de ensino da rede estadual de educação.

Após o professor indagar o porquê de os estudantes proferirem xingamentos o tempo inteiro com apelidos de cunho homofóbico, um aluno disse para toda a turma do 2° ano do ensino médio que ser gay era ruim. Para isso, teria argumentado usando versos da Bíblia.

Lúcio então conta ter informado ao aluno que havia crime nas declarações dele, sobretudo porque o adolescente teria conhecimento da orientação sexual e estaria falando com consciência de que estava sendo desrespeitoso.

O estudante, no entanto, seguiu com a fala, conforme o professor. Lúcio solicitou que ele saísse da sala e, após o ocorrido, continuou lecionando nos dias seguintes.

Um dia depois da discussão, 30 de agosto, o professor registrou dois Boletins de Ocorrência (B.O) pelos diversos e cotidianos episódios, sutis ou não, de discriminação. 

“Acho que é importante a denúncia porque é um sintoma do que vários profissionais passam. É interessante pensar que o discurso religioso é o foco desse preconceito. Ele usou a bíblia para justificar como ser gay era ruim. E teve algum apoio em sala", disse.

"Há uma confusão entre crença, ou dogma, e liberdade de expressão. Muitos se surpreendem e não aceitam que a Constituição possa ser mais importante que a Bíblia na formação das estruturas sociais”, acrescenta o docente.

Ele também reflete que, se a situação fosse o oposto, ou seja, um professor sendo homofóbico com um aluno, a repercussão seria outra.

O professor entende que isso faz parte de uma conjuntura homofóbica e reitera que o episódio foi o ápice de muitos meses sofrendo micro agressões.

“Palavras como ‘viado’, ‘baitola’, são absolutamente frequentes e servem como xingamentos. Também ouço sussurros, gestos, muitas fake news a meu respeito. Acho interessante começarmos a equipararmos essas questões e mostrar as violências sofridas pelos profissionais da Educação", ressalta.

Gestão da escola acolhe professor vítima de homofobia

A Secretaria da Educação do Ceará (Seduc-CE) afirma que a gestão escolar encaminhou o fato ao Conselho Escolar para análise. O Conselho é formado pela representação de todos os segmentos que compõem a comunidade escolar, incluindo alunos, professores, pais ou responsáveis, funcionários, gestores e comunidade externa.

Também estão sendo realizados momentos de escuta e diálogo com os estudantes e os profissionais, conforme a Seduc. Além disso, a pasta diz estar realizando rodas de conversas, palestras e apresentações sobre a temática, com a participação do grêmio estudantil, para a comunidade escolar.

“A ação tem o intuito de promover uma educação comprometida com a erradicação de todas as formas de discriminação e a promoção dos princípios de respeito aos direitos humanos e à diversidade”, diz a nota enviada ao O POVO.

A pasta ainda pontuou que repudia todas as formas de discriminação e pauta sua atuação tendo esse norte e, por meio da Superintendência das Escolas Estaduais de Fortaleza (Sefor), tem acompanhado o caso.

O Sindicato dos Servidores Públicos Lotados nas Secretarias de Educação e de Cultura do Estado do Ceará e nas Secretarias ou Departamentos de Educação (APEOC) prestou, por meio de nota, solidariedade ao professor. 

“Vale ressaltar que se faz necessário pôr em prática os direitos LGBT+, amparados por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que equiparou o crime de homofobia ao de injúria racial. O Sindicato APEOC e toda a sua diretoria repudiam veementemente qualquer tipo de preconceito, seja por raça, orientação sexual ou gênero, e ficam à disposição do docente. HOMOFOBIA NÃO!”, diz um trecho.

Investigações seguem em andamento

A Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE) informou apurar as circunstâncias do crime configurado como preconceito de raça ou de cor, por conduta homofóbica, registrado por meio de B.O.

O caso está a cargo do 16° Distrito Policial (DP), que realiza oitivas e diligências, com foco em apurar os detalhes do fato. (Colaborou Gabriela Almeida)

Denúncias

A SSPDS reforça que a população pode contribuir com as investigações repassando informações, com sigilo e anonimato garantidos.

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