Facção criminosa no Ceará: entenda o conflito que paralisou o Grande Pirambu

Quatro carros foram alvos de ataques criminosos, o que paralisou serviços públicos e privados na região

No dia 10 de agosto último, os moradores dos bairros que compõem o Grande Pirambu acordaram assustados com a notícia de que criminosos haviam incendiado e atirado contra carros particulares que trafegavam pela região.

Era o mais explícito desdobramento de um conflito motivado pela debandada de criminosos até então ligados à facção criminosa Comando Vermelho (CV). Ao se tornarem “Neutros” ou “Massa”, os faccionados ameaçavam o domínio do CV no território, o que levou a uma resposta dos antigos aliados.

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O POVO relembra e detalha os bastidores desse confronto, que paralisou serviços públicos e privados, além de resultar em, pelo menos, três mortes e 17 pessoas capturadas.

Homicídios e tiroteios

Como O POVO mostrou no dia 9 de agosto, em cinco dias, três mortes foram registradas no bairro Carlito Pamplona. O primeiro crime aconteceu na rua Rosinha, no dia 5 de agosto, quando um homem de 25 anos, que não teve a identidade revelada, foi morto a tiros.

Na noite do dia 8, Josué Ferreira Batista Filho, conhecido como “B”, foi assassinado no residencial Dom Helder Câmara. B foi apontado pela Polícia Civil como uma liderança do CV na região, mas que havia decidido deixar a organização para integrar a Massa.

O assassinato dele, portanto, teria sido praticado por integrantes da facção carioca — embora, até o momento, ninguém tenha sido preso suspeito desse crime. Além desses dois assassinatos, uma série de tiroteios foi registrada na região naqueles dias, sobretudo na comunidade Santa Rosa e no Residencial Dom Helder Câmara, ambas no Carlito Pamplona.

Uma dessas ações ocorreu nas proximidades da escola Tertuliano Cambraia, no bairro Carlito Pamplona, em plena tarde do dia 9. Vídeo gravado por uma pessoa que estava dentro da unidade de ensino mostra crianças agachadas, juntamente a professoras, para se protegerem dos disparos.

Na ação, um homem veio a óbito em decorrência de intervenção policial. Dois suspeitos de participarem do tiroteio foram presos: Jamerson Bruno Alves, de 20 anos, e Wesley de Brito Ferreira, de 25 anos, foram denunciados por tentativa de homicídio contra três policiais militares. Eles negaram ter atirado contra os policiais. Com a dupla, a PM apreendeu um revólver calibre 38 e munições, entre outros materiais.

Carros incendiados

Um dia após esse tiroteio, quatro carros foram alvos de ações criminosas em um curto espaço de tempo nos bairros Cristo Redentor, Pirambu, Carlito Pamplona e Álvaro Weyne. Três veículos foram incendiados, dois na Avenida Leste-Oeste e outro na Avenida Dr. Theberge.

Infográfico mostra onde cada um dos ataques registrados no dia 10 ocorreram

Esse último caso foi registrado por uma câmera de vigilância. As imagens mostram o veículo de passeio trafegando normalmente quando pessoas em uma moto abordam o automóvel de forma aleatória.

Eles ordenam que as pessoas desçam do veículo e ateam fogo no carro. Por fim, na rua Engenheiro João Nogueira, um carro que estava parado foi atingido por disparos de arma de fogo. 

Os atentados provocaram pânico nos moradores desses bairros. Escolas decidiram suspender aulas, unidades de saúde fecharam as portas, assim como estabelecimentos comerciais. Linhas de ônibus alteraram os itinerários para evitar a região, o que também fizeram motoristas por aplicativo. Até mesmo cerimônias religiosas foram suspensas.

Contra-ataque das forças de segurança

Diante das ações criminosas, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) preparou uma contra-ofensiva que contou com a atuação de 170 agentes de segurança e aeronaves da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer).

No dia 11 de agosto, a SSPDS anunciou que o trabalho resultou na prisão de 16 pessoas na região. Entre eles estava o homem apontado como o principal responsável por ordenar os crimes: Francisco Barbosa de Souza, “o Turinga”, preso no dia 10 em uma pousada na Praia de Iracema.

Em entrevista coletiva, o secretário Samuel Elânio afirmou que os atentados contra os veículos foram praticados como forma de fazer deslocar efetivo policial e permitir que ataques criminosos fossem feitos em determinadas comunidades.

Além de Turinga, foram presos, no dia 10, Francisco Israel Mendes Ribeiro e Denilson Cavalcante da Silva no bairro Carlito Pamplona. Ao lado deles, foram apreendidos três adolescentes. Três pistolas foram apreendidas com o grupo.

Em depoimento, Denilson afirmou que era integrante da facção criminosa Guardiões do Estado (GDE) e deixou o grupo para integrar a Massa. Ele ainda disse que estava no bairro para defender a facção de ataques do Comando Vermelho.

Também no dia 10, dois adolescentes de 14 e 17 anos foram apreendidos suspeitos de incendiar um veículo no bairro Carlito Pamplona. Um outro adolescente suspeito foi levado a uma unidade de saúde com queimaduras.

Paulo Anderson Vieira da Silveira, por sua vez, foi preso suspeito de integrar o CV e fazer a "contenção" da comunidade da Pracinha do Abel, no Pirambu. Com ele, foram apreendidos cerca de um quilo de maconha, 45 munições calibre 380, uma pistola, além de 105 gramas de cocaína e 80 gramas de crack.

Lindeson Nunes da Silva, de 33 anos, foi outro preso na operação, suspeito de tráfico de drogas, integrar organização criminosa e esbulho possessório. Conforme Auto de Prisão em Flagrante (APF), Lindeson teria expulsado moradores de uma casa no bairro Barra do Ceará para traficar drogas no local. Na residência, os policiais do 33º Distrito Policial (33ºDP) encontraram 72 gramas de maconha.

Além deles, também foi preso Edequias Gonçalves de Oliveira, de 34 anos, contra quem havia um mandado de prisão por um homicídio ocorrido em 27 de agosto de 2022 na rua Rita das Goiabeiras, localizada na Barra do Ceará. Na ocasião, Elias Quirino da Costa foi morto e o pai dele, ferido.

Conforme investigação, os criminosos, integrantes da facção Comando Vermelho (CV), acreditavam que a vítima era membro da Guardiões do Estado (GDE). Pai e filho estavam em uma barraca de praia quando foram abordados por uma dupla, que perguntou de onde eles eram.

Em seguida, eles passaram a averiguar o celular de Elias para saber se ele pertencia a alguma facção. As vítimas foram conduzidas até o local do crime, e Elias foi morto. O pai de Elias entrou em luta corporal com os executores e conseguiu fugir. Ele ainda foi alvo de disparos, mas a arma falhou.

Além das prisões, a operação na região resultou na apreensão de um fuzil, que foi exibido por criminosos em redes sociais, e de uma granada. Após essa ofensiva das forças de segurança, o clima amenizou na região. Não foram registrados ataques para além dos ocorridos na manhã do dia 10 e nem homicídios voltaram a ser registrados.

Os pivôs dos ataques

Além de Turinga, a SSPDS apontou um outro homem como pivô do conflito entre as facções no Grande Pirambu. Lucas Araújo dos Santos, conhecido como "Coruja", também teria “virado Massa” ao lado de B e fortalecido o confronto pelo lado “neutro”.

“Diante do homicídio de ‘BÊ/B’, surgiram informações de que seu comparsa LUCAS ARAUJO DOS SANTOS, ‘CORUJA’, teria determinado a ‘tomada’ do Pirambu, como resposta ao assassinato e forma de disputa de território”, aponta o relatório técnico nº 108/2023/Draco/DPE/PCCE, de 10 de agosto de 2023.

Lucas foi preso em 18 de agosto no conjunto São Bernardo, no bairro Messejana. Conforme a Polícia Civil, ele havia saído do Pirambu após ter a morte decretada pelos rivais e buscou refúgio em área com atuação da facção Massa.

A localização do suspeito foi possível após uma denúncia anônima recebida pela Coordenadoria de Inteligência (Coin), da SSPDS. Ao perceber a presença dos policiais, Lucas tentou fugir pelos fundos da casa. Ele ainda tentou pular o muro, mas foi capturado. Com ele, os policiais apreenderam uma pistola, munições e aparelhos celulares.

 

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