Chacina do Curió: réu diz não ter participado de combinação de ataques e nega omissão
PM disse em julgamento que foi colocado como fiscal da viatura 1307 naquele turno em razão de uma substituição
18:52 | Set. 03, 2023
Segundo réu a depor no sexto dia do julgamento da Chacina do Curió, neste domingo, 3, o policial militar Josiel Silveira Gomes disse que exerceu a função de patrulheiro no dia do crime. No depoimento, o agente de segurança alegou que costumava trabalhar no bairro Jangurussu, mas no dia do crime, que resultou na morte de 11 pessoas na área da Grande Messejana, foi colocado pelo fiscal de turno na viatura 1307 em razão de uma substituição.
No interrogatório, o réu explicou que o patrulheiro realiza a segurança do motorista e comandante da viatura e auxilia nas abordagens. Durante o depoimento, Josiel disse que não participou de nenhuma combinação para desencadear os ataques e negou autoria de qualquer omissão relacionada ao crime.
O depoimento de Josiel concluiu os relatos da viatura 1307, no Fórum Clóvis Beviláqua, em Fortaleza, onde ocorre o julgamento. Mais um agente que compôs a viatura foi ouvido neste domingo, o PM Thiago Veríssimo Andrade Batista de Moraes, que era motorista da viatura no dia do crime.
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De acordo com Josiel, no dia da ocorrência ele estava sentado no banco de trás da viatura. Contou que não teria sido falado no rádio a palavra “chacina” e que atenderam as ocorrências como “em um dia normal”. No dia, segundo o agente, a equipe que ele estava lotado atendeu sete ocorrências, sendo quatro nas áreas em que aconteceram as mortes.
Josiel disse ter visto policiais fardados, que imaginava que trabalhavam na base e algumas pessoas à paisana na praça, mas não estavam encapuzadas. Ele destacou que também viu viaturas do Ronda, Raio e Choque nas buscas aos suspeitos de matarem Serpa, em um cerco na região da Lagoa da Precabura.
No entanto, conforme Josiel, não chegou a ouvir nenhum disparo de arma de fogo nem viu nenhum corpo naquela noite e madrugada. No depoimento, ele informou que, na época, era policial há um ano e meio e que não tinha motivos para vingar a morte de Serpa.
“Fico triste pelo Ministério Público ter tantos dados e não prender os verdadeiros culpados. Tem plotagens, dados, números. Acho que deveria ter sido feita uma investigação mais técnica”, declarou. Durante o depoimento, Josiel chorou pela situação. “O que eu tenho mais raiva é ter meu nome sujo na internet, escrever e sair que sou um assassino”, destacou.
Este segundo julgamento sobre o caso da Chacina do Curió teve início na última terça-feira, 29, e julga oito policiais militares pela omissão do dever de agir durante a ocorrência, que vitimou 11 pessoas em novembro de 2015, na Grande Messejana. O júri chegou ao sexto dia neste domingo com cerca de 58 horas já contabilizadas até a noite de sábado. O novo julgamento deve se tornar o mais longo da história do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE).
Chacina do Curió: relembre primeiro júri
O primeiro julgamento da Chacina do Curió ocorreu em junho deste ano. Na madrugada do último dia 25 de junho, após seis dias de júri, o Tribunal do Júri condenou os primeiros quatro PMs réus pelas mortes da Chacina. Os ex-agentes condenados foram Wellington Veras; Ideraldo Amâncio; Marcus Vinícius Costa e Antônio Abreu. Ao todo, as penas somaram 1,1 mil anos no total.
Terceiro julgamento da chacina será em setembro
A terceira sessão de julgamento do caso está prevista também para este mês de setembro. Mais oito réus serão julgados. Em menos de um mês, 16 acusados devem ir a júri popular pela Chacina do Curió. Os agentes a serem julgados na próxima fase são:
- Antonio Flauber de Melo Brazil
- Clênio Silva da Costa
- Antonio Carlos Matos Marçal
- Maria Bárbara Moreira
- José Oliveira do Nascimento
- Igor Bethoven Sousa Oliveira
- Francisco Hélder de Souza Filho
- José Wagner Silva de Souza
Com informações da repórter Márcia Feitosa