Chacina do Curió: testemunha diz que não tinha controle sobre monitoramento em tempo real

A primeira testemunha dos policiais militares foi ouvida na manhã desta quinta-feira, 31. Este é o 3° dia da segunda etapa do julgamento

17:17 | Ago. 31, 2023

Por: Gabriel Gago
Testemunhas são ouvidas no quarto dia de julgamento (foto: J. Paulo Oliveira / TJCE)

O terceiro dia da segunda etapa do julgamento da Chacina do Curió, que acontece no Fórum Clóvis Beviláqua, em Fortaleza, marcou o início dos depoimentos dos oito policiais miliares envolvidos na tragédia que vitimou 11 jovens cearenses. 

Nesta manhã, a primeira testemunha ouvida foi Lucinásio Lima de Melo, subtenente da Polícia Militar do Ceará (PM-CE).

Ele contou que, à época (em 2015), trabalhava no Núcleo de Despacho, como operador do sistema da Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops), responsável por rastrear as viaturas e também fazer a análise de cronologia.

Ao júri, Lucinásio impôs diversas explicações técnicas sobre o funcionamento do sistema de rastreamento e como as ocorrências chegavam aos policiais.

Lucinásio revelou que a Ciops tinha uma empresa contratada que fornecia quatro sistemas de rastreamento em cada viatura, mas com algumas especificidades, podendo mandar sinais em diferentes intervalos de tempo, como de 3 em 3 minutos ou 15 em 15 minutos.

Segundo a testemunha, o rastreamento dava a posição precisa da viatura, no entanto, o veículo só era visto novamente cerca de 15 minutos depois. Portanto, durante este intervalo, não era possível saber onde a viatura estava em tempo real. "Apesar de apontar, não era possível precisar, de fato, se era ou não a localização exata do veículo", diz.

Lucinásio também afirma que, quando ligavam para o 190, o telefonista terceirizado da Ciops criava a ocorrência. E, no plantão tinha um oficial, que analisava todas as ocorrências. Conforme Lucinásio, o oficial da rua (supervisor de policiamento da Capital) também tinha comunicação com o oficial de operações.

De acordo com a fala do subtenente, quando as informações eram preenchidas, a ocorrência era gerada e enviada a três operadores, que podiam ser do Grupo de Operações Especiais (GOE), da Polícia Civil ou da Ais4, que atendia o Curió, Messejana e adjacências.

"Quando a Ciops recebe uma ocorrência, a empresa recebe um pacote com dados [da denuncia do 190] e ele é enviado para a viatura, prioritariamente pelos Terminais Móveis de Dados (TMD), que é como se fosse um tablet, com um aplicativo, que recebe o posicionamento de um satélite ou de um chip. Ou por rádio, em caso de falha ou do sinal, usado pelo operador para confirmar se a ocorrência chegou ou para enviar as informações novamente", elucida.  

Ele não soube, porém, especificar se a comunicação funcionava a partir de um sinal de internet ou outro meio. No entanto, afirmou que o TMD não tinha GPS ou navegador, o operador colocava o endereço ou um ponto de referência e o policial iria para o local. Ademais, pontuou que os agentes deveriam "conhecer a região".

Ao final, afirmou todas as viaturas eram obrigadas a se conectarem para que o rastreamento fosse efetuado corretamente. "Assim que entrassem, os policiais deveriam se conectar a partir de um formulário, preenchendo o número da viatura e as matrículas dos policiais", conta o subtenente.

Com informações de Taynara Lima/ Especial para O POVO*