Chacina do Curió: veja como foi o primeiro dia do 2º julgamento

São julgados oito policiais militares pela participação no crime que vitimou 11 pessoas na Grande Messejana

A segunda etapa do julgamento da Chacina do Curió iniciou nesta terça-feira, 29, no Fórum Clóvis Beviláqua, em Fortaleza. Ao todo, foram escolhidos sete integrantes para o júri popular, sendo composto por apenas homens. Duas mulheres foram recusadas pela defesa dos policiais militares julgados para compor o Tribunal do Júri por seguirem a página “Mães do Curió” nas redes sociais.

O primeiro dia da segunda etapa do julgamento também contou com relato de sobreviventes da chacina, que aconteceu em novembro de 2015 e vitimou 11 pessoas na Grande Messejana.No novo julgamento, oito policiais militares acusados de participação no crime serão julgados por omissão do dever agir.

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Os agentes acusados são Thiago Aurélio de Souza Augusto, Thiago Veríssimo Andrade Batista Carvalho, Gerson Vitoriano Carvalho, Gaudioso Menezes de Matos Brito Goes, Josiel Silveira Gomes, José Haroldo Uchoa Gomes, Ronaldo da Silva Lima e Francinildo José da Silva Nascimento.

O início da sessão ocorreu quase às 10 horas da manhã e foi marcada por intercorrências. Além disso, a maioria das sugestões de integrantes para compor o Tribunal do Júri foram recusadas. Dos 25 jurados titulares sugeridos, apenas dois foram aceitos. As recusadas foram motivadas por supostos posicionamentos entre defesa e acusação.

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O Tribunal do Júri é composto por um juiz presidente e 25 jurados, dos quais sete serão escolhidos para compor o conselho de sentença. Os jurados são membros da sociedade que participam voluntariamente dos julgamentos. Todos os jurados escolhidos não possuem relação pessoal com o caso.

Após concluir a composição do colegiado, as testemunhas foram chamadas. A primeira vítima a depor foi Francisco Genilson, um homem atingido por cinco tiros durante a chacina.

O sobrevivente do crime enfrenta, hoje, problemas de mobilidade devido aos disparos. No dia do crime, ele estava fumando um cigarro após seu expediente com o sogro do irmão, Gilvan, que não sobreviveu ao ataque.

Em seu depoimento, Genilson corroborou com a maior parte do que havia dito quando foi ouvido no primeiro julgamento, que aconteceu em junho deste ano e resultou na condenação de quatro policiais militares. Os condenados receberam a maior pena já aplicada a policiais no Ceará, somando 1.103 anos e oito meses.

Ainda no depoimento na segunda etapa do julgamento do crime, Genilson, que tinha 20 anos à época, relatou que saiu da pizzaria onde trabalhava no bairro Barroso após às 1h30min e encontrou Gilvan, a quem pediu um cigarro.

A testemunha disse que não deu nem tempo de terminar de fumar antes que dois carros, um branco e outro de cor escura, chegassem e os tiros começassem. A vítima relatou que os atiradores usavam balaclava e colete por baixo de suas roupas. Tanto Genilson quanto Gilvan foram atingidos por tiros. Gilvan ainda tentou correr em direção a uma kombi mas foi baleado.

A vítima afirmou, ainda, que ficou sabendo, pela denúncia, que policiais disseram que “eram dois bandidos a menos”, e reiterou que nunca sequer teve passagens pela Polícia.

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O sobrevivente contou que enfrenta dificuldade para andar, e passou mais de dois anos utilizando cadeira de rodas. Com isso, deixou a profissão, mas não conseguiu obter nenhum auxílio, e passou a viver apenas com o benefício que a mãe recebe. Além disso, ele também relatou que um médico teria dito que sua deficiência é permanente e disse ter tomado remédio para “nervosismo”.

O segundo depoimento das testemunhas foi de Francisco Breno Sá de Sousa. Ele foi abordado por policiais do reservado que queriam saber do paradeiro de suspeitos de matar o soldado Serpa. Contra ele, os policiais teriam praticado violência física e psicológica.

A testemunha disse que até hoje tem sequelas psicológicas por causa desse episódio. “Por mais que eu pareça desinibido, quando eu fico só, eu fico com medo, de eles voltarem, não sei dizer. Quando vejo uma viatura fico todo errado, como se, a qualquer momento, eles pudessem voltar a fazer isso de novo”, disse. “Fico assustado com tudo”.

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Relembre o caso

Na noite do dia 11 de novembro de 2015 e na madrugada de 12 de novembro de 2015, 11 pessoas foram assassinadas na Grande Messejana por agentes encapuzados. O primeiro julgamento do crime ocorreu em junho deste ano, e quatro policiais militares foram condenados pelos 11 assassinatos.

Cada acusado recebeu mais de 200 anos de prisão. Os policiais militares foram considerados culpados por tentativa de homicídio e tortura. Nesta terça, 29, começou a segunda etapa do julgamento, onde oito réus serão julgados por omissão do dever agir.

Segundo a denúncia do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), os agentes se recusaram a prestar assistência aos feridos e às pessoas em situação grave e de iminente perigo, mesmo com os chamados da população.

Os crimes foram considerados por motivo torpe e uso de recurso que impossibilitou a defesa. Os quatro ex-agentes foram condenados pelos homicídios de Antônio Alisson, Jardel Lima, Pedro Alcântara, Alef Souza, Marcelo da Silva, Renayson Girão, Jandson Alexandre, Patrício João, Francisco Elenildo, José Gilvan e Valmir Ferreira.

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Os condenados foram Wellington Veras Chagas, Ideraldo Amâncio, Marcus Vinícius e Antônio José de Abreu Vidal Filho. Eles foram os primeiros de 34 PMs julgados, e condenados, pelos 11 assassinatos. Eles devem cumprir pena, inicialmente, em regime fechado e tiveram a prisão provisória decretada, além de perda do cargo de policial militar.

Ao todo, Wellington foi condenado a 275 anos e 11 meses de prisão. Ideraldo recebeu as mesmas penas. Assim como Marcus Vinícius e António José. Ao todo, somado, eles foram apenados em 1.103 anos e 8 meses de prisão.

Além da segunda etapa do julgamento da chacina, o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) informou que haverá mais uma sessão de julgamento sobre a Chacina do Curió, que começa no dia 12 de setembro. Na próxima etapa, mais oito acusados serão julgados pelo Conselho de Sentença (jurados) da 1ª Vara do Júri de Fortaleza. (Colaboraram Lara Vieira e Bia Freitas)

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