Creche filantrópica promove o ensino de esperanto para alunos e professores

Entidade conta com 152 alunos e atende, prioritariamente, filhos de detentos do sistema prisional do Ceará

14:07 | Ago. 30, 2023

Por: Taynara Lima
Evento para discutir esperanto contou com a presença de outros esperantistas e integrantes da Associação Cearense de Esperanto (foto: Taynara Lima)

Em ação que antecede o X Congresso Pan-americano de Esperanto, a Creche Escola Amadeu Barros, localizada no bairro Jacarecanga, em Fortaleza, realizou, nesta quarta-feira, 30, uma ação que discutiu a promoção do esperanto e estabeleceu a unidade como uma das instituições que estimulam o ensino da língua no Ceará.

Fundada pelo esperantista César Barros Leal, que é presidente do Instituto Brasileiro de Direitos Humanos, ex-professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e membro da Academia Cearense de Letras, a creche filantrópica atende, prioritariamente, filhos de detentos do sistema prisional do Estado.

Atualmente, a instituição conta com 152 crianças, de idades entre 0 e 4 anos, que frequentam o local nos turnos da manhã e da tarde e realizam cinco refeições por dia.

Segundo o idealizador, não há vagas disponíveis para novos alunos, mas a lista de espera é extensa, e, por isso, há planos de ampliar o espaço para permitir que outras crianças possam ingressar na creche.

A ideia de fundar a entidade, que conta com o apoio da Prefeitura de Fortaleza, da Secretaria de Administração Penitenciária e do programa Mesa Brasil, surgiu há 30 anos, enquanto César dava aulas na UFC e na Universidade de Fortaleza (Unifor).

“Eu era professor da Faculdade de Direito da UFC e da Unifor e eu cheguei para os meus alunos e disse: ‘Eu tenho interesse em fundar uma creche para filhos de presos’. Eu comecei a fazer movimentos, festas, arrecadar dinheiro, criar uma conta na Caixa Econômica Federal e, pouco a pouco, nós juntamos dinheiro suficiente”, relembrou.

A instituição também promove o ensino do esperanto para os alunos e os professores da instituição a partir de atividades lúdicas. Para demonstrar que a unidade é um espaço de difusão do idioma e que conta com pessoas falantes da língua, César decidiu colocar uma estrela verde, símbolo do esperanto, na fachada da creche.

“A estrela verde na fachada vai ser permanente. Ela não vai ficar aqui só enquanto houver o Congresso. É um símbolo do nosso engajamento no movimento esperantista. Muitas pessoas pensam que o esperanto morreu. Ele nunca esteve tão forte. A estrela verde é o símbolo do esperanto. Então, foi a forma que nós encontramos de deixar bem claro que aqui é um espaço esperantista”, afirmou.

A iniciativa contou com a presença de outros esperantistas e integrantes da Associação Cearense de Esperanto.

Cerca de 12 crianças da instituição também aprenderão uma música no idioma para apresentarem no Congresso, que será realizado em novembro deste ano. As aulas serão ministradas pelo médico e vice-presidente da Associação Cearense de Esperanto, Wandemberg Morais, que considera a creche como o ambiente ideal para a promoção da língua.

“Agora em setembro, estaremos selecionando 12 crianças para ensiná-las a cantar em esperanto, para que elas se apresentem no Congresso. Isso já é muita coisa. Eu pretendo continuar, porque nós queremos investir demais na infância, porque o ambiente facilita. É, digamos assim, ideal”, explicou.

A unidade também realiza o “Sábado Cultural”, uma iniciativa que ocorre semanalmente e promove atividades culturais e educativas para os funcionários da creche. Dentre as ações, estão aulas de esperanto, também ministradas por Wandemberg Morais, além de jogos de xadrez, dama e dominó e realização de atividades envolvendo pintura e música.

O esperanto e a presença da língua em Fortaleza

O esperanto foi criado em 1887 com o objetivo de ser uma língua de fácil aprendizado e proporcionar a comunicação entre todas as pessoas. Com base no latim, o idioma é a língua planejada mais falada do mundo e foi criada a partir de outras línguas.

Os falantes consideram que a língua une pessoas diferentes e que convergem a partir de ideais, como a paz, a fraternidade, os direitos humanos e o amor.

“O esperanto se propõe a ser como uma ponte entre pessoas que são diferentes. Ele não entra em uma condição de competição, mas tem o prazer de lidar com as pessoas, de fazê-las estarem juntas, viajarem juntas e construírem um mundo melhor”, destacou Wandemberg.

De acordo com o médico, atualmente há diversas maneiras de aprender o esperanto, principalmente com a maior disposição de informações na internet. A UFC, por exemplo, também promove o ensino do idioma na Casa de Cultura, equipamento que promove seleções de novos alunos semestralmente.

“No esperanto, todo mundo está no mesmo nível, ninguém é dono, é uma língua democrática. É língua que não é de ninguém, mas pertence a todos de maneira equânime. É uma proposta de comunicação fácil, comparada com outras línguas”, pontuou.

Muitos consideram o idioma como uma língua morta e de difícil universalização, porém boa parte dos esperantistas aponta que o esperanto está vivo e bastante presente na Capital.

O X Congresso Pan-americano de Esperanto será realizado nos dias 2 a 5 de novembro, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), e contará com debates e palestras entre os falantes da língua. O congresso espera a presença de pessoas de diferentes estados brasileiros e países, como Cuba, Argentina, México, Canadá e Islândia. Mais informações podem ser acessadas no site do evento.