Morte de advogado: Justiça acata denúncia, empresário e ex-PMs viram réus

Processo é aberto apenas 72 horas após o MPCE formalizar a denúncia à Justiça. Documento aponta que Francisco Di Angellis Duarte de Morais teria recebido R$ 800 mil para retirar notícias de portal onde trabalhava. Material falavam de rápida ascensão financeira de empresário, apontado como o mandante do crime. Execução, atribuída a dois ex-PMs, foi no dia 6 de maio deste ano, na Parquelândia

O empresário Ernesto Wladimir Oliveira Barroso, 42, e os ex-policiais militares Glauco Sérgio Soares Bonfim, 51, e José Luciano Souza de Queiroz, 42, agora são réus no processo sobre o assassinato do advogado Francisco Di Angellis Duarte de Morais, de 41 anos, ocorrida em maio, em Fortaleza.

Na noite dessa segunda-feira, 28, apenas 72 horas corridas após o Ministério Público Estadual (MPCE) formalizar a apresentação da denúncia à Justiça contra os investigados, o juiz Antônio Edilberto Oliveira Lima, da 1ª Vara do Júri da Comarca de Fortaleza, acatou o pedido e confirmou a abertura do processo criminal. A denúncia, assinada pelos promotores Ythalo Frota Loureiro, Márcia Lopes Pereira e Alice Iracema Melo Aragão, havia sido apresentada na última sexta-feira, 25.

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Di Angellis foi morto a tiros na noite de 6 de maio deste ano, quando chegava em casa, no bairro Parquelândia. Conforme a denúncia, Ernesto foi o mandante e Glauco e José Luciano atuaram como executores materiais. A perícia chegou encontrar 11 cápsulas na cena do crime. O advogado teria sido assassinado, segundo a denúncia, por uma extorsão que ele teria intermediado contra Ernesto. O empresário e os ex-PMs estão presos desde o dia 17 de junho, apontados pela trama e a morte da vítima.

Em depoimento à Polícia Civil, na fase de inquérito sobre o homicídio, o empresário confirmou que pagou R$ 800 mil para que matérias com denúncias contra ele fossem excluídas do site CN7, parte do grupo para o qual Di Angellis trabalhava. Apesar disso, ele negou ter ordenado a morte do advogado. As matérias foram de fato retiradas, conforme as investigações.

Segundo o MPCE, a pedida inicial para retirada das postagens teria sido de R$ 1,5 milhão (valor escrito num papel), durante um encontro em um café no bairro Dionísio Torres, mas o empresário teria sido aconselhado por amigos a renegociar o valor da extorsão.

A investigação aponta que Ernesto pagou R$ 800 mil a Di Angellis na manhã do dia 28 de abril, durante um encontro entre os dois numa padaria no Eusébio. Os policiais da 6ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) conseguiram confirmar que enquanto a reunião acontecia, do lado de fora, no estacionamento de uma farmácia ao lado, um rastreador foi implantado no carro do advogado.

O equipamento foi instalado, através de um ímã, pelos ex-PMs Glauco e José Luciano, segundo inquérito policial. Câmeras de segurança registraram a presença de todos os personagens nos locais indicados. Até o momento do assassinato, Di Angellis teve as localizações de sua picape Cherokee monitoradas pelos réus por mais de 200 horas.

Quatro dias antes, em 24 de abril, os dois ex-PMs já teriam tentado instalar o rastreador, ao procurarem o carro do advogado no prédio comercial onde ele trabalhava. A DHPP apurou que a mesma arma que matou Di Angellis foi usada em outros cinco assassinatos em Fortaleza, na região da Grande Messejana, todos com autoria desconhecida.

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A denúncia descreve que Ernesto trabalhou até 2016 como motorista de uma empresa terceirizada, atuou por dois anos e nove meses como diretor financeiro de uma cooperativa de saúde e, ao se desligar, tornou-se empresário. Atualmente é proprietário de dois postos de combustíveis, conforme o sistema SIMPCE, de consulta de dados de pessoas físicas e jurídicas. As postagens do site CN7 teriam apontado a rápida ascensão financeira.

"Ernesto pagou R$ 800 mil à vítima, contudo nunca desistiu da intenção de assassinar a vítima. O pagamento serviria como álibi para despistar que tivesse interesse em matar Di Angellis Morais. Isso se mostra evidente no fato de que, ao mesmo tempo em que realizou o pagamento, o réu Ernesto determinou a instalação do rastreamento no veículo da vítima, visando assassiná-la, vingar a extorsão e sinalizar, de modo bem claro, que não aceitaria outra extorsão dessa natureza", descreve um trecho da denúncia acatada nesta segunda-feira pela Justiça.

O site CN7 é uma das plataformas da empresa Don 7 Media Group, conglomerado de mídia dirigido pelo jornalista e empresário Donizete Arruda. O POVO enviou email ao jornalista e ao portal CN7 ainda na noite de sexta-feira, 25, e na manhã do último sábado. A matéria será atualizada tão logo haja retorno. Arruda será convocado para depor como uma das 16 testemunhas de acusação do processo. 

Denúncia também cobra R$ 1 milhão para indenizar família da vítima

Com a denúncia acatada pela 1ª Vara do Júri, os três réus do caso sobre a morte do advogado Francisco Di Angellis Morais Duarte deverão ser citados formalmente para apresentarem suas respostas à acusação. O Ministério Público Estadual aponta o empresário Ernesto Wladimir e os ex-PMs José Luciano e Glauco Sobreira, respectivamente, como o mandante e os executores do homicídio, com agravante de motivo torpe, por dificultar a defesa da vítima, e pelo crime de associação criminosa. Os réus têm 10 dias, depois de citados, para apresentarem suas alegações iniciais. 

O MPCE também requereu, na denúncia, a indenização de R$ 1 milhão para reparação à família da vítima em caso de condenação.  Depois disso, a ação penal passa a tramitar regularmente. O andamento seguinte a isso deverá ser o agendamento de audiência para oitiva das testemunhas arroladas na denúncia. A defesa ainda indicará sua lista de testemunhas.

Uma das testemunhas apresentadas pelo MPCE, chamada de X, terá identidade preservada. Outra deverá ser o deputado federal Júnior Mano (PL-CE). Conforme o MPCE, Ernesto contou que a extorsão teve início após o parlamentar procurá-lo pedindo “dinheiro das emendas dele para área da saúde”. O empresário teria negado qualquer valor pecuniário ao deputado, afirmando ter deixado o trabalho em cooperativas de saúde. Em seguida, Ernesto disse, segundo a denúncia, que começaram a surgir matérias levantando suspeitas sobre a sua rápida ascensão financeira.

Na tarde desta terça-feira, 29, a assessoria parlamentar do deputado Júnior Mano enviou ao O POVO nota sobre as informações que constam sobre ele na denúncia à Justiça. Leia a íntegra:

"A referência ao nome do deputado não encontra nenhum respaldo no contexto probatório, tratando-se de uma versão isolada e inverídica apresentada apenas pelo acusado com objetivos políticos e de ofuscar o grave crime pelo qual está preso e respondendo perante a Justiça Criminal. 

Reiteramos nosso compromisso com a transparência, a ética e a veracidade dos fatos, e confiamos nos órgãos responsáveis pela persecução penal, dos quais estamos inteiramente à disposição."

Matéria atualizada às 15h18min 

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